segunda-feira, 26 de maio de 2008

BUARQUE / FADO TROPICAL



Oh, musa do meu fado Oh, minha mãe gentil
Te deixo consternado No primeiro abril
Mas não sê tão ingrata Não esquece quem te amou
E em tua densa mata Se perdeu e se encontrou

Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal

"Sabe, no fundo eu sou um sentimental
Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dose de lirismo
(além da sífilis, é claro)
Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar,
trucidar
Meu coração fecha os olhos e sinceramente chora..."

Com avencas na caatinga Alecrins no canavial
Licores na moringa Um vinho tropical
E a linda mulata Com rendas do Alentejo
De quem numa bravata Arrebato um beijo

Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal

"Meu coração tem um sereno jeito
E as minhas mãos o golpe duro e presto
De tal maneira que, depois de feito
Desencontrado, eu mesmo me contesto
Se trago as mãos distantes do meu peito
É que há distância entre intenção e gesto
E se o meu coração nas mãos estreito
Me assombra a súbita impressão de incesto
Quando me encontro no calor da luta
Ostento a aguda empunhadura à proa
Mas o meu peito se desabotoa
E se a sentença se anuncia bruta
Mais que depressa a mão cega executa
Pois que senão o coração perdoa"

Guitarras e sanfonas, Jasmins, coqueiros, fontes
Sardinhas, mandioca
Num suave azulejo
E o rio Amazonas Que corre Trás-os-Montes
E numa pororoca Deságua no Tejo

Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um império colonial

Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um império colonial

Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um império colonial

Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um império colonial

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