quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Fernando Pessoa / Natal / Último texto

Fernando Pessoa


O sino da minha aldeia,
Dolente na tarde calma,
Cada tua badalada
Soa dentro de minha alma.
E é tão lento o teu soar,
Tão como triste da vida,
Que já a primeira pancada
Tem o som de repetida.
Por mais que me tanjas perto
Quando passo, sempre errante,
És para mim como um sonho.
Soas-me na alma distante.
A cada pancada tua,
Vibrante no céu aberto,
Sinto mais longe o passado,
Sinto a saudade mais perto.

Último texto / Conclusões de Aninha / Cora Coralina

Cora Coralina

Estavam ali parados. Marido e mulher.
Esperavam o carro. E foi que veio aquela da roça
tímida, humilde, sofrida.
Contou que o fogo, lá longe, tinha queimado seu rancho,
e tudo que tinha dentro.
Estava ali no comércio pedindo um auxílio para levantar
novo rancho e comprar suas pobrezinhas.
O homem ouviu. Abriu a carteira tirou uma cédula,
entregou sem palavra.
A mulher ouviu. Perguntou, indagou, especulou, aconselhou,
se comoveu e disse que Nossa Senhora havia de ajudar
E não abriu a bolsa.
Qual dos dois ajudou mais?
Donde se infere que o homem ajuda sem participar
e a mulher participa sem ajudar.
Da mesma forma aquela sentença:
"A quem te pedir um peixe, dá uma vara de pescar."
Pensando bem, não só a vara de pescar, também a linhada,
o anzol, a chumbada, a isca, apontar um poço piscoso
e ensinar a paciência do pescador.
Você faria isso, Leitor?
Antes que tudo isso se fizesse
o desvalido não morreria de fome?
Conclusão:
Na prática, a teoria é outra.


Cora Coralina
(Ana Lins do Guimarães Peixoto Brêtas), 20/08/1889 — 10/04/1985

Castro Alves / O Navio Negreiro, Tragédia no Mar (VI)

Último texto

Existe um povo que a bandeira empresta
Pr'a cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?!...
Silêncio!... Musa! chora, chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto...
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra,
E as promessas divinas da esperança...
Tu, que da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança,
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...
Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu na vaga,
Como um íris no pélago profundo!...
...Mas é infâmia de mais... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo...
Andrada! arranca este pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta de teus mares!

A Idéia / Augusto dos Anjos

 

De onde ela vem?! De que matéria bruta
Vem essa luz que sobre as nebulosas
Cai de incógnitas criptas misteriosas
Como as estalactites duma gruta?!
Vem da psicogenética e alta luta
Do feixe de moléculas nervosas,
Que, em desintegrações maravilhosas,
Delibera, e depois, quer e executa!

Vem do encéfalo absconso que a constringe,
Chega em seguida às cordas do laringe,
Tísica, tênue, mínima, raquítica ...

Quebra a força centrípeta que a amarra,
Mas, de repente, e quase morta, esbarra
No mulambo da língua paralítica.

Adalgisa Nery / Pensamentos que reúnem um tema

Adalgisa Nery

Estou pensando nos que possuem a paz de não pensar,
Na tranqüilidade dos que esqueceram a memória
E nos que fortaleceram o espírito com um motivo de odiar.
Estou pensando nos que vivem a vida
Na previsão do impossível
E nos que esperam o céu
Quando suas almas habitam exiladas o vale intransponível.
Estou pensando nos pintores que já realizaram para as multidões
E nos poetas que correm indefinidamente
Em busca da lucidez dos que possam atingir
A festa dos sentidos nas simples emoções.
Estou pensando num olhar profundo
Que me revelou uma doce e estranha presença,
Estou pensando no pensamento das pedras das estradas sem fim
Pela qual pés de todas as raças, com todas as dores e alegrias
Não sentiram o seu mistério impenetrável,
Meu pensamento está nos corpos apodrecidos durante as batalhas
Sem a companhia de um silêncio e de uma oração,
Nas crianças abandonadas e cegas para a alegria de brincar,
Nas mulheres que correm mundo
Distribuindo o sexo desligadas do pensamento de amor,
Nos homens cujo sentimento de adeus
Se repete em todos os segundos de suas existências,
Nos que a velhice fez brotar em seus sentidos
A impiedade do raciocínio ou a inutilidade dos gestos.
Estou pensando um pensamento constante e doloroso
E uma lágrima de fogo desce pela minha face:
De que nada sou para o que fui criada
E como um número ficarei
Até que minha vida passe.

"Deve-se ler pouco e reler muito. Há uns poucos livros totais, três ou quatro, que nos salvam ou que nos perdem. É preciso relê-los, sempre e sempre, com obtusa pertinácia. E, no entanto, o leitor se desgasta, se esvai, em milhares de livros mais áridos do que três desertos." NELSON RODRIGUES

Lygia Fagundes Telles

Lygia Fagundes Telles


(...) "Com a ponta da língua pude sentir a semente apontando
sob a polpa. Varei-a. O sumo ácido inundou-me a boca. Cuspi
a semente: assim  queria escrever, indo ao âmago do âmago
até atingir a semente resguardada lá no fundo como um feto".

(Verde lagarto amarelo)

LYGIA FAGUNDES TELLES / VENHA VER O PÔR DO SOL

VENHA VER O PÔR DO SOL

ELA SUBIU sem pressa a tortuosa ladeira. À medida que avançava, as casas iam rareando, modestas casas espalhadas sem simetria e ilhadas em terrenos baldios. No meio da rua sem calçamento, coberta aqui e ali por um mato rasteiro, algumas crianças brincavam de roda. A débil cantiga infantil era a única nota viva na quietude da tarde.
Ele a esperava encostado a uma árvore. Esguio e magro, metido num largo blusão azul-marinho, cabelos crescidos e desalinhados, tinham um jeito jovial de estudante.
- Minha querida Raquel.
Ela encarou-o, séria. E olhou para os próprios sapatos.
- Vejam que lama. Só mesmo você inventaria um encontro num lugar destes. Que idéia, Ricardo, que idéia! Tive que descer do taxi lá longe, jamais ele chegaria aqui em cima
Ele sorriu entre malicioso e ingênuo.
- Jamais, não é? Pensei que viesse vestida esportivamente e agora me aparece nessa elegância...Quando você andava comigo, usava uns sapatões de sete-léguas, lembra?
- Foi para falar sobre isso que você me fez subir até aqui? - perguntou ela, guardando as luvas na bolsa. Tirou um cigarro. - Hem?!
- Ah, Raquel... - e ele tomou-a pelo braço rindo.
- Você está uma coisa de linda. E fuma agora uns cigarrinhos pilantras, azul e dourado...Juro que eu tinha que ver uma vez toda essa beleza, sentir esse perfume. Então fiz mal?
- Podia ter escolhido um outro lugar, não? – Abrandara a voz – E que é isso aí? Um cemitério?
Ele voltou-se para o velho muro arruinado. Indicou com o olhar o portão de ferro, carcomido pela ferrugem.
- Cemitério abandonado, meu anjo. Vivos e mortos, desertaram todos. Nem os fantasmas sobraram, olha aí como as criancinhas brincam sem medo – acrescentou, lançando um olhar às crianças rodando na sua ciranda. Ela tragou lentamente. Soprou a fumaça na cara do companheiro. Sorriu. - Ricardo e suas idéias. E agora? Qual é o programa?
Brandamente ele a tomou pela cintura.
- Conheço bem tudo isso, minha gente está enterrada aí. Vamos entrar um instante e te mostrarei o pôr do sol mais lindo do mundo.
Perplexa, ela encarou-o um instante. E vergou a cabeça para trás numa risada.
- Ver o pôr do sol!...Ah, meu Deus...Fabuloso, fabuloso!...Me implora um último encontro, me atormenta dias seguidos, me faz vir de longe para esta buraqueira, só mais uma vez, só mais uma! E para quê? Para ver o pôr do sol num cemitério...
Ele riu também, afetando encabulamento como um menino pilhado em falta.
- Raquel minha querida, não faça assim comigo. Você sabe que eu gostaria era de te levar ao meu apartamento, mas fiquei mais pobre ainda, como se isso fosse possível. Moro agora numa pensão horrenda, a dona é uma Medusa que vive espiando pelo buraco da fechadura...
- E você acha que eu iria?
- Não se zangue, sei que não iria, você está sendo fidelíssima. Então pensei, se pudéssemos conversar um instante numa rua afastada...- disse ele, aproximando-se mais. Acariciou-lhe o braço com as pontas dos dedos. Ficou sério. E aos poucos, inúmeras rugazinhas foram se formando em redor dos seus olhos ligeiramente apertados. Os leques de rugas se aprofundaram numa expressão astuta. Não era nesse instante tão jovem como aparentava. Mas logo sorriu e a rede de rugas desapareceu sem deixar vestígio. Voltou-lhe novamente o ar inexperiente e meio desatento –Você fez bem em vir.
- Quer dizer que o programa... E não podíamos tomar alguma coisa num bar?
- Estou sem dinheiro, meu anjo, vê se entende.
- Mas eu pago.
- Com o dinheiro dele? Prefiro beber formicida. Escolhi este passeio porque é de graça e muito decente, não pode haver passeio mais decente, não concorda comigo? Até romântico.
Ela olhou em redor. Puxou o braço que ele apertava.
- Foi um risco enorme Ricardo. Ele é ciumentíssimo. Está farto de saber que tive meus casos. Se nos pilha juntos, então sim, quero ver se alguma das suas fabulosas idéias vai me consertar a vida.
- Mas me lembrei deste lugar justamente porque não quero que você se arrisque, meu anjo. Não tem lugar mais discreto do que um cemitério abandonado, veja, completamente abandonado – prosseguiu ele, abrindo o portão. Os velhos gonzos gemeram. – Jamais seu amigo ou um amigo do seu amigo saberá que estivemos aqui.
- É um risco enorme, já disse . Não insista nessas brincadeiras, por favor. E se vem um enterro? Não suporto enterros.
- Mas enterro de quem? Raquel, Raquel, quantas vezes preciso repetir a mesma coisa?! Há séculos ninguém mais é enterrado aqui, acho que nem os ossos sobraram, que bobagem. Vem comigo, pode me dar o braço, não tenha medo...
O mato rasteiro dominava tudo. E, não satisfeito de ter se alastrado furioso pelos canteiros, subira pelas sepulturas, infiltrando-se ávido pelos rachões dos mármores, invadira alamedas de pedregulhos esverdinhados, como se quisesse com a sua violenta força de vida cobrir para sempre os últimos vestígios da morte. Foram andando vagarosamente pela longa alameda banhada de sol. Os passos de ambos ressoavam sonoros como uma estranha música feita do som das folhas secas trituradas sobre os pedregulhos. Amuada mas obediente, ela se deixava conduzir como uma criança. Às vezes mostrava certa curiosidade por uma ou outra sepultura com os pálidos medalhões de retratos esmaltados.
- É imenso, hem? E tão miserável, nunca vi um cemitério mais miserável, é deprimente – exclamou ela atirando a ponta do cigarro na direção de um anjinho de cabeça decepada.- Vamos embora, Ricardo, chega.
- Ah, Raquel, olha um pouco para esta tarde! Deprimente por quê? Não sei onde foi que eu li, a beleza não está nem na luz da manhã nem na sombra da tarde, está no crepúsculo, nesse meio-tom, nessa ambigüidade. Estou lhe dando um crepúsculo numa bandeja e você se queixa.
- Não gosto de cemitério, já disse. E ainda mais cemitério pobre.
Delicadamente ele beijou-lhe a mão.
- Você prometeu dar um fim de tarde a este seu escravo.
- É, mas fiz mal. Pode ser muito engraçado, mas não quero me arriscar mais.
- Ele é tão rico assim?
- Riquíssimo. Vai me levar agora numa viagem fabulosa até o Oriente. Já ouviu falar no Oriente? Vamos até o Oriente, meu caro...
Ele apanhou um pedregulho e fechou-o na mão. A pequenina rede de rugas voltou a se estender em redor dos seus olhos. A fisionomia, tão aberta e lisa, repentinamente escureceu, envelhecida. Mas logo o sorriso reapareceu e as rugazinhas sumiram.
- Eu também te levei um dia para passear de barco, lembra?
Recostando a cabeça no ombro do homem, ela retardou o passo.
- Sabe Ricardo, acho que você é mesmo tantã...Mas, apesar de tudo, tenho às vezes saudade daquele tempo. Que ano aquele! Palavra que, quando penso, não entendo até hoje como agüentei tanto, imagine um ano.
- É que você tinha lido A dama das Camélias, ficou assim toda frágil, toda sentimental. E agora? Que romance você está lendo agora. Hem?
- Nenhum - respondeu ela, franzindo os lábios. Deteve-se para ler a inscrição de uma laje despedaçada: - A minha querida esposa, eternas saudades - leu em voz baixa. Fez um muxoxo.- Pois sim. Durou pouco essa eternidade.
Ele atirou o pedregulho num canteiro ressequido.
Mas é esse abandono na morte que faz o encanto disto. Não se encontra mais a menor intervenção dos vivos, a estúpida intervenção dos vivos. Veja- disse, apontando uma sepultura fendida, a erva daninha brotando insólita de dentro da fenda -, o musgo já cobriu o nome na pedra. Por cima do musgo, ainda virão as raízes, depois as folhas...Esta a morte perfeita, nem lembrança, nem saudade, nem o nome sequer. Nem isso.
Ela aconchegou-se mais a ele. Bocejou.
- Está bem, mas agora vamos embora que já me diverti muito, faz tempo que não me divirto tanto, só mesmo um cara como você podia me fazer divertir assim – Deu-lhe um rápido beijo na face. - Chega Ricardo, quero ir embora.
- Mais alguns passos...
- Mas este cemitério não acaba mais, já andamos quilômetros! – Olhou para atrás. – Nunca andei tanto, Ricardo, vou ficar exausta.
- A boa vida te deixou preguiçosa. Que feio – lamentou ele, impelindo-a para frente. – Dobrando esta alameda, fica o jazigo da minha gente, é de lá que se vê o pôr do sol. – E, tomando-a pela cintura: - Sabe, Raquel, andei muitas vezes por aqui de mãos dadas com minha prima. Tínhamos então doze anos. Todos os domingos minha mãe vinha trazer flores e arrumar nossa capelinha onde já estava enterrado meu pai. Eu e minha priminha vínhamos com ela e ficávamos por aí, de mãos dadas, fazendo tantos planos. Agora as duas estão mortas.
- Sua prima também?
- Também. Morreu quando completou quinze anos. Não era propriamente bonita, mas tinha uns olhos...Eram assim verdes como os seus, parecidos com os seus. Extraordinário, Raquel, extraordinário como vocês duas...Penso agora que toda a beleza dela residia apenas nos olhos, assim meio oblíquos, como os seus.
- Vocês se amaram?
- Ela me amou. Foi a única criatura que...- Fez um gesto. – Enfim não tem importância.
Raquel tirou-lhe o cigarro, tragou e depois devolveu-o
- Eu gostei de você, Ricardo.
- E eu te amei. E te amo ainda. Percebe agora a diferença?
Um pássaro rompeu o cipreste e soltou um grito. Ela estremeceu.
- Esfriou, não? Vamos embora.
- Já chegamos, meu anjo. Aqui estão meus mortos.
Pararam diante de uma capelinha coberta de alto a baixo por uma trepadeira selvagem, que a envolvia num furioso abraço de cipós e folhas. A estreita porta rangeu quando ele a abriu de par em par. A luz invadiu um cubículo de paredes enegrecidas, cheias de estrias de antigas goteiras. No centro do cubículo, um altar meio desmantelado, coberto por uma toalha que adquirira a cor do tempo. Dois vasos de desbotada opalina ladeavam um tosco crucifixo de madeira. Entre os braços da cruz, uma aranha tecera dois triângulos de teias já rompidas, pendendo como farrapos de um manto que alguém colocara sobre os ombro do Cristo. Na parede lateral, à direita da porta, uma portinhola de ferro dando acesso para uma escada de pedra, descendo em caracol para a catacumba.
Ela entrou na ponta dos pés, evitando roçar mesmo de leve naqueles restos da capelinha.
- Que triste é isto, Ricardo. Nunca mais você esteve aqui?
Ele tocou na face da imagem recoberta de poeira. Sorriu melancólico.
- Sei que você gostaria de encontrar tudo limpinho, flores nos vasos, velas, sinais da minha dedicação, certo?
- Mas já disse que o que eu mais amo neste cemitério é precisamente esse abandono, esta solidão. As pontes com o outro mundo foram cortadas e aqui a morte se isolou total. Absoluta.
Ela adiantou-se e espiou através das enferrujadas barras de ferro da portinhola. Na semi-obscuridade do subsolo, os gavetões se estendiam ao longo das quatro paredes que formavam um estreito retângulo cinzento.
- E lá embaixo?
- Pois lá estão as gavetas. E, nas gavetas, minhas raízes. Pó, meu anjo, pó- murmurou ele. Abriu a portinhola e desceu a escada. Aproximou-se de uma gaveta no centro da parede, segurando firme na alça de bronze, como se fosse puxá-la. – A cômoda de pedra. Não é grandiosa?
Detendo-se no topo da escada, ela inclinou-se mais para ver melhor.
- Todas estas gavetas estão cheias?
- Cheias?...- Sorriu.- Só as que tem o retrato e a inscrição, está vendo? Nesta está o retrato da minha mãe, aqui ficou minha mãe- prosseguiu ele, tocando com as pontas dos dedos num medalhão esmaltado, embutido no centro da gaveta.
Ela cruzou os braços. Falou baixinho, um ligeiro tremor na voz.
- Vamos, Ricardo, vamos.
- Você está com medo?
- Claro que não, estou é com frio. Suba e vamos embora, estou com frio!
Ele não respondeu. Adiantara-se até um dos gavetões na parede oposta e acendeu um fósforo. Inclinou-se para o medalhão frouxamente iluminado:
- A priminha Maria Emília. Lembro-me até do dia em que tirou esse retrato. Foi umas duas semanas antes de morrer... Prendeu os cabelos com uma fita azul e vejo-a se exibir, estou bonita? Estou bonita?...- Falava agora consigo mesmo, doce e gravemente.- Não, não é que fosse bonita, mas os olhos...Venha ver, Raquel, é impressionante como tinha olhos iguais aos seus.
Ela desceu a escada, encolhendo-se para não esbarrar em nada.
- Que frio que faz aqui. E que escuro, não estou enxergando...
Acendendo outro fósforo, ele ofereceu-o à companheira.
- Pegue, dá para ver muito bem...- Afastou-se para o lado.- Repare nos olhos.
- Mas estão tão desbotados, mal se vê que é uma moça...- Antes da chama se apagar, aproximou-a da inscrição feita na pedra. Leu em voz alta, lentamente.- Maria Emília, nascida em vinte de maio de mil oitocentos e falecida...- Deixou cair o palito e ficou um instante imóvel – Mas esta não podia ser sua namorada, morreu há mais de cem anos! Seu menti...
Um baque metálico decepou-lhe a palavra pelo meio. Olhou em redor. A peça estava deserta. Voltou o olhar para a escada. No topo, Ricardo a observava por detrás da portinhola fechada. Tinha seu sorriso meio inocente, meio malicioso.
- Isto nunca foi o jazigo da sua família, seu mentiroso? Brincadeira mais cretina! – exclamou ela, subindo rapidamente a escada. – Não tem graça nenhuma, ouviu?
Ele esperou que ela chegasse quase a tocar o trinco da portinhola de ferro. Então deu uma volta à chave, arrancou-a da fechadura e saltou para trás.
- Ricardo, abre isto imediatamente! Vamos, imediatamente! – ordenou, torcendo o trinco.- Detesto esse tipo de brincadeira, você sabe disso. Seu idiota! É no que dá seguir a cabeça de um idiota desses. Brincadeira mais estúpida!
- Uma réstia de sol vai entrar pela frincha da porta, tem uma frincha na porta. Depois, vai se afastando devagarinho, bem devagarinho. Você terá o pôr do sol mais belo do mundo.
Ela sacudia a portinhola.
- Ricardo, chega, já disse! Chega! Abre imediatamente, imediatamente!- Sacudiu a portinhola com mais força ainda, agarrou-se a ela, dependurando-se por entre as grades. Ficou ofegante, os olhos cheios de lágrimas. Ensaiou um sorriso. - Ouça, meu bem, foi engraçadíssimo, mas agora preciso ir mesmo, vamos, abra...
Ele já não sorria. Estava sério, os olhos diminuídos. Em redor deles, reapareceram as rugazinhas abertas em leque.
- Boa noite, Raquel.
- Chega, Ricardo! Você vai me pagar!... - gritou ela, estendendo os braços por entre as grades, tentando agarrá-lo.- Cretino! Me dá a chave desta porcaria, vamos!- exigiu, examinando a fechadura nova em folha. Examinou em seguida as grades cobertas por uma crosta de ferrugem. Imobilizou-se. Foi erguendo o olhar até a chave que ele balançava pela argola, como um pêndulo. Encarou-o, apertando contra a grade a face sem cor. Esbugalhou os olhos num espasmo e amoleceu o corpo. Foi escorregando.
- Não, não...
Voltado ainda para ela, ele chegara até a porta e abriu os braços. Foi puxando as duas folhas escancaradas.
- Boa noite, meu anjo.
Os lábios dela se pregavam um ao outro, como se entre eles houvesse cola. Os olhos rodavam pesadamente numa expressão embrutecida.
- Não...
Guardando a chave no bolso, ele retomou o caminho percorrido. No breve silêncio, o som dos pedregulhos se entrechocando úmidos sob seus sapatos. E, de repente, o grito medonho, inumano:
- NÃO!
Durante algum tempo ele ainda ouviu os gritos que se multiplicaram, semelhantes aos de um animal sendo estraçalhado. Depois, os uivos foram ficando mais remotos, abafados como se viessem das profundezas da terra. Assim que atingiu o portão do cemitério, ele lançou ao poente um olhar mortiço. Ficou atento. Nenhum ouvido humano escutaria agora qualquer chamado. Acendeu um cigarro e foi descendo a ladeira. Crianças ao longe brincavam de roda.

FLORBELA ESPANCA / DESEJOS VÃOS

Desejos Vãos
Eu queria ser o Mar de altivo porte 
Que ri e canta, a vastidão imensa!
Eu queria ser a Pedra que não pensa,
A pedra do caminho, rude e forte!
Eu queria ser o sol, a luz intensa
O bem do que é humilde e não tem sorte!
Eu queria ser a árvore tosca e densa
Que ri do mundo vão é ate da morte!
Mas o mar também chora de tristeza...
As árvores também, como quem reza,
Abrem, aos céus, os braços, como um crente!
E o sol altivo e forte, ao fim de um dia,
Tem lágrimas de sangue na agonia!
E as pedras... essas... pisá-as toda a gente!...
Florbela Espanca - Fanatismo 
Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida 
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não es sequer razão do meu viver,
Pois que tu es já toda a minha vida!
Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo , meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!
"Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!
E, olhos postos em ti, digo de rastros:
"Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu es como Deus: Princípio e Fim!..."

FLORBELA ESPANCA / VOZES DO MAR

Vozes Do Mar
Quando o sol vai caindo sobre as águas
Num nervoso delíquio d’oiro intenso,
Donde vem essa voz cheia de mágoas
Com que falas à terra, ó mar imenso?...
Tu falas de festins, e cavalgadas
De cavaleiros errantes ao luar?
Falas de caravelas encantadas
Que dormem em teu seio a soluçar?
Tens cantos d'epopeias?Tens anseios
D'amarguras? Tu tens também receios, 
Ó mar cheio de esperança e majestade?!
Donde vem essa voz,ó mar amigo?...
... Talvez a voz do Portugal antigo,
Chamando por Camões numa saudade!

IVETE SANGALO / SE EU NÃO TE AMASSE TANTO ASSIM

IVETE SANGALO / ABALOU

IVETE SANGALO / BERIMBAU METALIZADO

IVETE SANGALO / DEIXO

IVETE SANGALO / TODA BOA / FESTIVAL DE VERÃO 2008

JORGE BEN / O TELEFONE

JORGE BEN / MAIS QUE NADA / POR CAUSA DE VOCE / CHOVE CHUVA

JORGE BEN / O NAMORADO DA VIUVA

MARISA MONTE / FESTA DO SANTO REIS

MARISA MONTE / FICA ME PEDINDO PRA VOLTAR

JORGE BEN / BALANÇA PEMA

JORGE BEN / ZAZUEIRA

JORGE BEN / QUE PEMA

JORGE BEN JOR / TAJ MAHAL

JORGE BEN / PAÍS TROPICAL

CAETANO VELOSO / SAMPA

CAETANO VELOSO / TRILHOS URBANOS

MARISA MONTE / SEGUE O SECO

MARISA MONTE / ATÉ PARECE

MARISA MONTE / O QUE ME IMPORTA

PRA SER SINCERO / MARISA MONTE

A SUA / MARISA MONTE

MARISA MONTE / BEIJA EU

PAULINHO DA VIOLA & MARISA MONTE / CARINHOSO

JOAO GILBERTO / CARINHOSO

JOAO GILBERTO & CAETANO VELOSO / O PATO

Joao Gilberto e Caetano Veloso / Garota de Ipanema

CAETANO VELOSO & MILTON NASCIMENTO / O SENHOR DOS TEMPOS

CAETANO VELOSO / NÃO ENCHE

CAETANO VELOSO / TREM DAS CORES

CAETANO VELOSO / CAROLINA

CAETANO VELOSO / SAMBA DE VERÃO

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

NAVIO NEGREIRO / CAETANO VELOSO

ESCRAVIDÃO NO BRASIL

Navio Negreiro / Castro Alves Completo

ZÉLIA DUNCAS / AS ROSAS NÃO FALAM

ZÉLIA DUNCAN / CHEGA DISSO

CORTARO TEMPO / CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

 

Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias, a
que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no
limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e
entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra
vez, com outro
número e outra vontade de acreditar que daqui pra
diante vai ser diferente
(Carlos Drummond de Andrade)

O Medo / Carlos Drummond de Andrade

O clarão é Deus / Maitê Proença

O clarão é Deus - Maitê Proença
Jun 22, '06 10:38 AM
for everyone

O clarão é Deus

MAITÊ PROENÇA
(Revista Época nº 397)

Deus surgiu na minha vida aos 6 anos de idade, e chegou junto com o pecado.
Filha de pais ateus, até então, eu não havia sido apresentada a uma coisa nem outra.
Um dia colocaram-me num colégio de freiras no qual rapidamente fui atualizada sobre essas questões importantes da vida. Ali aprendi que algumas faltas eram mais graves que outras.
Matar, por exemplo.

_ Mas eu nunca matei ninguém...
_ Ah, é? E, quando você caminha, o que acontece com todas aquelas formigas que vão sendo pisoteadas?

Assustada, passei meses andando de cabeça baixa para evitar tamanho pecado.
Trocaram-me de colégio.
Passou-se um ano, e surgiu o assunto da primeira comunhão.

_ Você não vai fazer?
_ Não sei, o que é isso?
_ É para Deus te perdoar dos pecados.
_ Ahn...

Em casa, minha mãe tirava dúvidas a sua maneira:

_ Deus é como Papai Noel, só existe para quem acredita nele.

E ela sabia que eu já não acreditava.
Assim, pulamos a primeira comunhão.
Aí minha mãe morreu, meu pai pirou, e por coincidência fui parar numa hospedaria para filhos de missionários luteranos americanos, espalhados pelo Brasil.
Ali rezava-se antes de cada refeição, e, à noite, por uma hora de fervor, cantavam-se hinos de louvor a Cristo.
Éramos 30 meninas e meninos, de 5 a 18 anos, cuidados por um casal que viera de Minnesota com a missão de manter a fé daqueles pirralhos custasse o que custasse.
Meu caso deu certo trabalho.
Eu não fazia parte da turma, não tinha fé alguma, e era imprescindível integrar-me às crianças cristãs antes que elas se integrassem a meus modos pagãos.
Acontece que aquela gente era muito boa, e eu andava numa carência infinita.
Então, com o amor que me dedicaram, demorou pouco para que eu me bandeasse de armas e bagagem, pensamentos e espírito para onde a seta luterana apontava.
Assim, aos 14 anos, passei a viajar pelo Brasil uma vez por mês, dando testemunhos de minha conversão a Jesus em igrejas protestantes espalhadas pelo país.
Aos 16, cansei dessa vida, discuti com o responsável da hospedaria e fui bater na porta de uma igreja Católica.

_ Você é padre, não é? Pois eu sou órfã, e não tenho onde morar.

Padre Xico me convidou para morar na torre da igreja, e ali me instalei por um par de anos. No térreo ficava a sala de estar. O sacerdote morava no 1º andar, o segundo piso servia para hospedar bispos e monsenhores, e no terceiro ficava meu quarto.
Certa vez aconteceu um show do Vinicius e Toquinho na cidade, e eu fui conferir.
Ao final do espetáculo, fui cumprimentar os artistas, e Toquinho se ofereceu para me levar em casa. Quando pedi que estacionasse na porta da igreja, o moço não entendeu nada.

_ Você mora com o padre?
_ Moro.
_ E você dá para o padre?
_ Não, o padre é casto, e eu sou virgem - não dou para ninguém.

As segundas intenções que levaram Toquinho a me acompanhar, tão gentilmente, até minha casa morreram ali. Anos depois, já atriz, eu contei essa história para ele, e ambos demos boas risadas.

A vida foi seguindo. Levou-me para a Europa, e dali para a Ásia, numa peregrinação que durou dois anos. Eu ia a pé, de carona, como desse - e ia conhecendo bem a gente local.
Quando se viaja pobre, precisa-se das pessoas, da generosidade delas, de suas gentilezas.
Nessa troca diária em que eu também tinha de estar disponível, conheci muita gente boa e simples. E gente simples tem religião.

Pelas pessoas, e não por interesse em suas crenças, fui novamente levada a Deus.
Agora Ele ganhava várias faces, e as formas de louvá-Lo eram múltiplas e sempre muito fervorosas. Assim, fui percebendo que Deus não dava a mínima se a gente queria chamá-lo de Buda, Maomé, Oxalá ou Jesus. Deus não cabia numa caixinha, nem na minha compreensão, e isso de certa forma me confortava.
Então, quando mais tarde a vida apertou e minhas pessoas começaram a morrer muito pela segunda vez - amigos, meu pai e meu irmão se mataram - e minha solidão precisava de um amor sobrenatural para sará-la, lembrei de Deus, e fui procurá-lo.
Quando encontrei, Ele era um Deus maduro e generoso, que me curou por inteiro, e, como que para me separar definitivamente de todo mal, ainda me deu uma filha de presente.
Eu que tentava havia dez anos, sem nenhum problema físico, só consegui engravidar quando virei uma pessoa completa, ou seja, de espiritualidade plena.
Não vou contar, porque não cabe aqui, como se deram os milagres de minha vida, mas esse de minha filha aconteceu exatamente nessas circunstâncias.
O Deus que hoje reconheço tem a face feminina, é doce, tolerante, compreensivo e infinitamente bom. É Ele quem me orienta e me encaminha todos os dias em cada momento.
Olhando para trás e lembrando de tantas ocasiões em que poderia ter desistido de tudo, mas não o fiz, percebo que sempre houve um clarão ao fim de cada túnel, e que essa luz dava sentido a todos os aspectos de minha caminhada. Antes, apenas,
eu não sabia que a luz tinha um nome. Hoje eu sei.

CRÔNICA DE MAITÊ PROENÇA

Sonho com o dia em que terei três horas pra não fazer nada e meu corpo sente saudades de uma encarnação em que fui peixe - nem o peso a carregar. Na Riviera Maya, recentemente o coração deu saltos diante das águas enluaradas de um mar soberbo. As ondas quebravam e os plânctones cintilavam em luzes de néon. A lua era cheia, o sol dourado, a areia solta e o mar... azul. Os dias teriam sido uma sucessão de clichês, não estivesse eu agarrada ao presente como um náufrago aos restos de seu barco. Aquilo era minha vida e pronto. Por não haver futuro a preocupar, as belezas naturais deslumbravam como se vistas pela primeira vez - só mesmo o ócio pra resgatar a verdade que há em todo lugar-comum.
Quero meu tempo de volta. Quem foi que inventou o futuro? Os índios não foram, viviam um eterno agora no caça, come, deita, acabou, levanta e caça de novo. Os budistas lá no outro lado do planeta também nunca quiseram saber do amanhã. E por toda a Idade Média as pessoas viveram de forma essencialmente contemplativa, na adoração a Deus. Foram os burgueses e os humanistas da Renascença que inventaram de "acordar" o mundo. Resolveram que a religião seria repensada e o modelo clássico de antropocentrização das artes e ciências seria adotado. Criaram o futuro e a necessidade de pavimentar o caminho até ele. O homem clamou pelo domínio da natureza e surgiram as noções de planejamento e crédito. A questão era: qual a vida mais nobre, a da contemplação ou a da produção, devemos viver no ócio, ou optar por sua negação, o neg-ócio?
A conversa vai longe e é filosófica, mas, resumindo o problema que resvalou pra nossos dias, é o seguinte:
Renunciando ao agora e desistindo do ócio criamos uma civilização de prazeres adiados em nome de um por vir que não chega nunca. O lado bom desta busca é o encontro com o novo e a sensação do renascer (o tédio dos reis, pra ser minimizado, impulsionou muito o crescimento das artes). Então, o preço pago pelas tribos de ócio foi a ausência de desenvolvimento e cultura, mas o preço pago pela civilização é o enquadramento do espírito, a correria e a falta de paz.
O que você faz no domingo? Consegue deixar a brisa levar ou precisa de uma intensa programação para o bom aproveitamento de seu lazer? Dá tempo de olhar em volta, sentir, ouvir, perceber o que se passa com as pessoas que quer bem? E olhar pra si, fazer aquela faxina interna, dá? Porque a gente veio aqui pra evoluir e encontrar a paz, mas será que é possível com tanto ruído em torno? Sonho de rico é praia deserta, luz de lampião e rede com vista pro mar - vida do pescador.
Eva e Adão viviam felizes lá no ócio sublime. Quando cometeram o deslize fatal, Deus expulsou-os da Perfeição e como castigo impôs-lhes o trabalho. Mas Deus é pai, e mãe, e por morada forneceu um mundo de natureza equilibrada onde em se plantando tudo dá. Com algum esforço sobraria bastante tempo para os deleites do espírito. Muito se andou, as eras se passaram e chegamos aos tempos modernos - vivemos a época do homem civilizado. No entanto, nunca como hoje fomos tão predadores e gananciosos.
Machucamos Gaia até a Mãe gritar, e o castigo divino virou um vício esgotante. Estamos tristes e se não cuidarmos agora do agora, o futuro não vai existir. Sei não, mas acho que nem nas fantasias mais tortuosas Deus imaginou filhos tão destrambelhados.
Cansada e sem tempo, peço perdão.

CRÔNICA DE MAITÊ PROENÇA

Corta a cabeça, arranca o olho, enforca, trucida. Estamos de mãos atadas assistindo à justiça que não se faz com essa gente de quinta que governa o país. A vontade é partir pra barbárie. Pois se botamos a canalha ali pra manter a ordem e suprir as necessidades do Estado, com que direito eles armam pandemônios por benefícios pessoais?
A resposta vai longe e está na formação do Brasil.
Este era um país de índios cheio de riquezas qdo os portugueses chegaram com sua agenda de exploração. Não houve aqui um processo para a criação de Estado, apenas colocaram uma autoridade para garantir que todo ouro, diamante e açúcar retirados, fossem parar no destino certo, ou seja, Portugal. As coisas permaneceram assim, até 1807 qdo a Península Ibérica foi ocupada por forças napoleônicas. Dom João VI então, para não se render, fugiu de Portugal para sua colônia mais rica, transformando-a do dia pra noite em reino, o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.
Fomos assim promovidos; por decreto. E o status mudou, mas o tira daqui e manda pra lá continuou igual. A vida ficou nisso até que, encerrada a ocupação napoleônica, D. João voltou pra pátria mãe deixando aqui seu filho Pedro I, um bon-vivant que gostava de música e de mulheres. Pedro namorava muito e adorava o Brasil, tanto, que ao ser chamado de volta para assumir as funções do pai, não quis saber. Disse o "fico" em janeiro de 1822 e em setembro, numa viagem pra namorar a Marquesa de Santos, gritou o "independência ou morte". Pagamos uma elevada indenização, mas pela primeira vez nossas riquezas eram nossas. A coisa ia desta forma quando Dom Pedro, por divergências com parlamentares, decidiu abandonar o barco e voltar para a Europa deixando o filho, uma criança, em seu lugar. Com tutores administrando o reino, a situação política complicou-se até que, para se restabelecer a ordem, e novamente, num golpe de gabinete, Pedro II aos 14 anos de idade, foi coroado Imperador do Brasil. Por 50 anos Dom Pedro governou a nação pacificando as diferenças entre regiões e consolidando o grande território brasileiro. Não fosse ele teríamos nos pulverizado como aconteceu com os diversos paises de língua espanhola que nos cercam. Contudo, um punhado de políticos insatisfeitos, em 1889, armou novo golpe de gabinete e destituiu o imperador. Horas depois, sem aviso e na calada da noite por medo de que o povo não gostasse, enxotaram daqui a família real. Assim nasceu a república.
Quatrocentos anos em grossas pinceladas - a intenção não é esmiuçar a história, mas entender pq nossos dirigentes estão andando pros cidadãos que os elegeram, e pq o cidadão não se sente representado por seus governantes. É que, historicamente, ele nunca foi consultado. O Estado aqui sempre foi instituído de cima pra baixo, de maneira desordenada, por gente que gostava demais de poder e dinheiro. Gente com agenda própria que até hoje governa nos moldes coloniais: faço a ordem - que vale pros outros - e depois arranco a grana deles pra botar lá em casa.
Pq nos EU, ex-colônia tb, o sistema funciona e é respeitado pelos cidadãos? Pq será, que mesmo qdo o governo americano desconsidera a ética internacional, matando, humilhando e invadindo países que nunca os ameaçaram, a imprensa poupa seus mandatários e o povo os mantém no poder? Recentemente, pq a hora não era para novidades. Mas, em geral, e sobretudo, pq ali as coisas principiaram de forma diferente. Enqto o Brasil era povoado por prisioneiros, degredados e aventureiros gananciosos, na América do norte chegavam os Quakers e Pilgrims, uma gente com ideologia, saída da revolução protestante aonde o homem repudiara a tutela sacerdotal católica para ser autor de seu destino; vc é o q vc faz. Com trabalho duro essa gente pôs-se a construir uma nação. Quando a casa estava de pé e após longa guerra de libertação, mandaram os ingleses de volta pra Europa e tomaram posse do que lhes pertencia. Foi o povo que ergueu o país, criou a república, e estabeleceu um processo democrático. Portanto ali, o estado atende a quem o formou e o cidadão, em resposta, oferece seu apoio incondicional. E a coisa funciona.
Mas perfeição é artigo difícil, e os americanos coitados, são sérios demais, julgadores demais, e inflexíveis de dar dó. Já a gente da minha terra... é toda cheia graça. Então Senhor, tu que nos deste o país mais bonito, bota vergonha em quem tem nenhuma, arruma esse caos, faz um milagre. E depois Senhor, com tudo no jeito, impõe a justiça, e entrega esta pátria para quem gosta dela.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Procura-se um amigo

 

Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimento, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, da madrugada, de pássaros, de sol, da lua, do canto do vento e das canções da brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor.
Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar. Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja de todo impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vazio que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objetivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoas tristes e compreender o imenso vazio dos solitários.
Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer. Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações da infância. Precisa-se de um amigo para não enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.
Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo.
Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que bata nos ombros sorrindo e chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se consciência de que ainda se vive.
(autor desconhecido)

Precisa-se de um homem

Precisa-se de um homem
que encare a vida de frente
sem querer ser super-herói,
voe com serenidade nas asas
do seu destino.
Precisa-se de um homem
especial e comum
que nunca simule afeição,
nem trapaceie com meus sentimentos.
Que saiba conduzir-me com doçura,
que saiba orientar-se com inteligência,
mas que aceite com humildade
os desígnios do meu ser.
Ele deve ser alto
- da altura da sua dignidade -
e belo como a beleza do seu caráter.
Sua ambição deverá ter
a medida exata do alcance
dos seus dedos e de seus sonhos.
Preciso urgentemente desse
Deus-Menino
para pôr festa no meu coração,
atear fogo no meu corpo,
afogar-se nos meus braços
e resgatar nossas vidas
com tributo de um amor total!!!
(autor desconhecido)

Lições da vida

Depois de um tempo você aprende a diferença, a sutil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança. E começa a aprender que beijos não são contratos e presentes não são promessas. E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança.
E aprende a construir as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão. Depois de um tempo você aprende que o sol queima se ficar exposto por muito tempo. E aprende que não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam... E aceita que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando, e você precisa perdoá-la por isto. Aprende que falar pode aliviar dores emocionais. Descobre que leva-se anos para construir confiança e apenas segundos para destruí-la, e que você pode fazer coisas em um instante das quais se arrependerá pelo resto da vida.
Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias. E o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida. E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher. Aprende que não temos que mudar de amigos se compreendemos que os amigos mudam, percebe que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos. Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa - por isso, sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, pode ser a última vez que as vejamos.
Aprende que as circunstâncias e o ambiente têm influência sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos. Começa a aprender que não se deve comparar com os outros, mas com o melhor que pode ser. Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser, e que o tempo é curto. Aprende que não importa até onde já chegou, mas onde está indo, mas se você não sabe para onde está indo, qualquer lugar serve.
Aprende que ou você controla seus atos ou eles o controlarão, e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados. Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as conseqüências.
Aprende que a paciência requer muita prática. Descobre que algumas vezes a pessoa que você espera que o chute quando você cai é uma das poucas que lhe ajudam a levantar-se. Aprende que a maturidade tem mais a ver com os tipos de experiências que se teve e o que você aprendeu com elas, do que com quantos aniversários você celebrou.
Aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha. Aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens ou que estão fora de cogitação, poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.
Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva, mas isto não te dá o direito de ser cruel. Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame não significa que esse alguém não o ame com tudo que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso.
Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem que aprender a perdoar a si mesmo. Aprende que com a mesma severidade com que julga, você será em algum momento condenado.
Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára para que você o conserte. Aprende que o tempo não é algo que possa voltar atrás. Portanto, plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores.
E você aprende que realmente pode suportar... que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não pode mais. E que realmente a vida tem valor e você tem valor diante da vida!
(autor desconhecido)

Lembranças e imagens que sempre voltam

 

"Lembranças e imagens que sempre voltam à sua mente, são as respostas para as perguntas que sempre existem na sua mente." B. F. Skinner (1904 - 1990)
O matemático John Nash, prêmio Nobel (1994), olha para números e vê padrões, respostas que sua mente mostra e ele tem que encontrar as perguntas, as razões para aquelas respostas. O músico Glenn Miller acordava e dormia com a sensação de que faltava algum instrumento em sua Big Band. Um dia escutou um clarinete e descobriu "o som" que faltava. Durante o lançamento do primeiro carro da Honda com motor de baixa poluição, nos Estados Unidos, um engenheiro sonhou várias vezes que uma peça estava com problemas. A peça em questão realmente teve um defeito no primeiro teste americano. Era sua mente dizendo que o projeto da peça tinha um problema, mesmo que ele não tivesse se dado conta disso. Se uma coisa está se repetindo em sua mente, não tenha dúvidas de que se trata de uma resposta sendo entregue ao destinatário: você. Procure a pergunta para essa resposta e faça algo.
Este é um sistema que jamais muda, mas raramente é observado por nós. Não se trata de algo mágico ou especial, somente um método que nos ajuda a viver melhor, se tivermos o bom senso de escutarmos o que nossa mente nos diz. Há algo que esteja incomodando você há muito tempo, mas cuja razão você não consiga descobrir? Trata-se de sua mente dando a resposta para uma pergunta qualquer que já está ai, guardada em algum lugar, dentro de você. Procure a pergunta para essa resposta e faça algo.
Entre suas duas orelhas há um dos mais sofisticados computadores biológicos existentes. Infelizmente, o modo como a mente apresenta os resultados para as questões fundamentais da sua vida não costuma ser direto, mas sim vago e repetitivo. São as respostas que estão lá, chamando você para pensar, para escutar e para agir. Sua mente processa bilhões de informações todos os dias e, para que você não entre em pânico, muitas dessas informações são apresentadas na forma de vontades, lembranças (ou desejos/sonhos) e "sensações".
Há alguém que está sempre em sua mente? Existe uma razão para isso, uma pergunta que sua mente está respondendo. Apenas você conhece mesmo essa pergunta. Pode ser que você a ame, pode ser que a odeie. Pode ser que ela represente muito mais do que você conscientemente queira ou gostaria de admitir ou pode ser que ela seja a solução para algum problema corporativo ou profissional. Encontre a pergunta para essa resposta. Mas descobrir é só metade do desafio. Agir com base na descoberta é a chave final. Por isso, procure a pergunta para essa resposta e faça algo.
Faça o que tem que ser feito. John Nash continua tentando encontrar as razões para os padrões lógicos dos números e publicando suas teses, Glenn Miller adotou o clarinete como instrumento padrão em sua Big Band até sua morte e o engenheiro da Honda, que sonhou com a peça, ligou para os Estados Unidos avisando sobre seu sonho aos outros engenheiros, que acompanhavam os testes, salvando a empresa.
Eles agiram, ao descobrirem as perguntas para as respostas.
Vá para longe de qualquer pessoa conhecida em um local silencioso e neutro. E pergunte-se: o que isso significa? Porque estou pensando nisso? Fazendo isso? Querendo isso? A resposta você já sabe, mas qual a pergunta? Procure a pergunta para essa resposta e faça algo.
(autor desconhecido)

De tanto ver / OTTO LARA REZENDE

De tanto ver

De tanto ver, a gente banaliza o olhar. Vê não vendo. Experimente ver pela primeira vez o que você vê todo dia, sem ver. Parece fácil, mas não é. O que nos cerca, o que nos é familiar, já não desperta tanta curiosidade. O campo visual da nossa rotina é como um vazio. Você sai todo o dia, por exemplo, pela mesma porta. Se alguém lhe perguntar o que você vê no seu caminho, você não sabe. De tanto ver, você não vê. Sei de um profissional que passou 32 anos a fio pelo mesmo hall do prédio do seu escritório. Lá estava sempre, pontualíssimo, o mesmo porteiro. Dava-lhe bom dia e às vezes lhe passava um recado ou uma carta.
Um dia o porteiro cometeu a descortesia de falecer. Como era ele? Sua cara? Sua voz? Como se vestia? Não fazia a mínima idéia. Em 32 anos nunca o viu. Para ser notado, o porteiro teve que morrer. Se um dia no seu lugar estivesse uma girafa, cumprindo o rito, pode ser que também ninguém desse por sua ausência.
O habito suja os olhos e lhes baixa a voltagem. Mas há sempre o que ver. Gente, coisas, bichos. E vemos? Não vemos.
Uma criança vê o que um adulto não vê. Tem olhos atentos e limpos para o espetáculo do mundo. O poeta é capaz de ver pela primeira vez o que, de tão visto, ninguém vê. Nossos olhos se gastam no dia-a-dia, opacos. É por ai que se instala no coração o monstro da indiferença.

A ALMA DOS DIFERENTES / ARTHUR DA TÁVOLA

A alma dos diferentes

Ah, o diferente, esse ser especial! Diferente não é quem pretenda ser. Esse é um imitador do que ainda não foi imitado, nunca um ser diferente.
Diferente é quem foi dotado de alguns mais e de alguns menos em hora, momento e lugar errados para os outros. Que riem de inveja de não serem assim. E de medo de não agüentar, caso um dia venham a ser. O diferente é um ser sempre mais próximo da perfeição.
O diferente nunca é um chato. Mas é sempre confundido por pessoas menos sensíveis e avisadas. Supondo encontrar um chato onde está um diferente, talentos são rechaçados; vitórias adiadas; esperanças mortas.
Um diferente medroso, este sim, acaba transformando-se num chato. Chato é um diferente que não vingou. Os diferentes muito inteligentes percebem porque os outros não os entendem.
Os diferentes raivosos acabam tendo razão sozinhos, contra o mundo inteiro. Diferente que se preza entende o porquê de quem o agride. Se o diferente se mediocrizar, mergulhará no complexo de inferioridade.
O diferente paga sempre o preço de estar - mesmo sem querer - alterando algo, ameaçando rebanhos, carneiros e pastores. O diferente suporta e digere a ira do irremediavelmente igual, a inveja do comum, o ódio do mediano.
O verdadeiro diferente sabe que nunca tem razão, mas que está sempre certo.
O diferente começa a sofrer cedo, já no primário, onde os demais, de mãos dadas, e até mesmo alguns adultos, por omissão, se unem para transformar o que é peculiaridade e potencial em aleijão e caricatura. O que é percepção aguçada em: "Puxa, fulano, como você é complicado". O que é o embrião de um estilo próprio em: "Você não está vendo como todo mundo faz?"
O diferente carrega desde cedo apelidos e marcações os quais acaba incorporando. Só os diferentes mais fortes do que o mundo se transformaram (e se transformam) nos seus grandes modificadores.
Diferente é o que vê mais longe do que o consenso. O que sente antes mesmo dos demais começarem a perceber. Diferente é o que se emociona enquanto todos em torno, agridem e gargalham. É o que engorda mais um pouco; chora onde outros xingam; estuda onde outros burram. Quer onde outros cansam. Espera de onde já não vem. Sonha entre realistas. Concretiza entre sonhadores. Fala de leite em reunião de bêbados. Cria onde o hábito rotiniza. Sofre onde os outros ganham.
Diferente é o que fica doendo onde a alegria impera. Aceita empregos que ninguém supõe. Perde horas em coisas que só ele sabe importantes. Engorda onde não deve. Diz sempre na hora de calar. Cala nas horas erradas. Não desiste de lutar pela harmonia. Fala de amor no meio da guerra. Deixa o adversário fazer o gol, porque gosta mais de jogar do que de ganhar. Ele aprendeu a superar riso, deboche, escárnio, e consciência dolorosa de que a média é má porque é igual.
Os diferentes aí estão: enfermos, paralíticos, machucados, engordados, magros demais, inteligentes em excesso, bons demais para aquele cargo, excepcionais, narigudos, barrigudos, joelhudos, de pé grande, de roupas erradas, cheios de espinhas, de mumunha, de malícia ou de baba. Aí estão, doendo e doendo, mas procurando ser, conseguindo ser, sendo muito mais.
A alma dos diferentes é feita de uma luz além. Sua estrela tem moradas deslumbrantes que eles guardam para os pouco capazes de os sentir e entender. Nossas moradas estão tesouros da ternura humana. De que só os diferentes são capazes.
Não mexa com o amor de um diferente. A menos que você seja suficientemente forte para suportá-lo depois.
(Artur da Távola)

CHICO BUARQUE E DJAVAN

Kenny G / Song Bird

Kenny G / What a Wonderful World

KENNI G / IF

Kenny G / Yesterday

Kenny G / miracles

Kenny G / Loving You

Kenny G / The Shadow of your Smile

Luiza / Edu Lobo & Tom Jobim

O Haver / Vinicius de Moraes (participação de Edu Lobo)

Edu Lobo e Tom Jobim nos bastidores / Vento Bravo

UPA NEGUINHO / SINVAL FONSECA (EDU LOBO)

ELIS REGINA / UPA NEGUINHO

ELIS REGINA / LAPINHA

ELIS REGINA / AGORA TÁ

ROMARIA / ELIS REGINA

MARIA RITA