sábado, 30 de junho de 2007

CORA CORALINA

O cântico da terra / Cora Coralina

O cântico da terra

Cora Coralina


Eu sou a terra, eu sou a vida.
Do meu barro primeiro veio o homem.
De mim veio a mulher e veio o amor.
Veio a árvore, veio a fonte.
Vem o fruto e vem a flor.

Eu sou a fonte original de toda vida.
Sou o chão que se prende à tua casa.
Sou a telha da coberta de teu lar.
A mina constante de teu poço.
Sou a espiga generosa de teu gado
e certeza tranqüila ao teu esforço.

Sou a razão de tua vida.
De mim vieste pela mão do Criador,
e a mim tu voltarás no fim da lida.
Só em mim acharás descanso e Paz.

Eu sou a grande Mãe Universal.
Tua filha, tua noiva e desposada.
A mulher e o ventre que fecundas.
Sou a gleba, a gestação, eu sou o amor.

A ti, ó lavrador, tudo quanto é meu.
Teu arado, tua foice, teu machado.
O berço pequenino de teu filho.
O algodão de tua veste
e o pão de tua casa.

E um dia bem distante
a mim tu voltarás.
E no canteiro materno de meu seio
tranqüilo dormirás.

Plantemos a roça.
Lavremos a gleba.
Cuidemos do ninho,
do gado e da tulha.
Fartura teremos
e donos de sítio
felizes seremos.


Cora Coralina (Ana Lins do Guimarães Peixoto Brêtas), 20/08/1889 — 10/04/1985, é a grande poetisa do Estado de Goiás. Em 1903 já escrevia poemas sobre seu cotidiano, tendo criado, juntamente com duas amigas, em 1908, o jornal de poemas femininos "A Rosa". Em 1910, seu primeiro conto, "Tragédia na Roça", é publicado no "Anuário Histórico e Geográfico do Estado de Goiás", já com o pseudônimo de Cora Coralina. Em 1911 conhece o advogado divorciado Cantídio Tolentino Brêtas, com quem foge. Vai para Jaboticabal (SP), onde nascem seus seis filhos: Paraguaçu, Enéias, Cantídio, Jacintha, Ísis e Vicência. Seu marido a proíbe de integrar-se à Semana de Arte Moderna, a convite de Monteiro Lobato, em 1922. Em 1928 muda-se para São Paulo (SP. Em 1934, torna-se vendedora de livros da editora José Olimpio que, em 1965, lança seu primeiro livro, "O Poema dos Becos de Goiás e Estórias Mais". Em 1976, é lançado "Meu Livro de Cordel", pela editora Cultura Goiana. Em 1980, Carlos Drummond de Andrade, como era de seu feitio, após ler alguns escritos da autora, manda-lhe uma carta elogiando seu trabalho, a qual, ao ser divulgada, desperta o interesse do público leitor e a faz ficar conhecida em todo o Brasil.

Sintam a admiração do poeta, manifestada em carta dirigida a Cora em 1983:

"Minha querida amiga Cora Coralina: Seu "Vintém de Cobre" é, para mim, moeda de ouro, e de um ouro que não sofre as oscilações do mercado. É poesia das mais diretas e comunicativas que já tenho lido e amado. Que riqueza de experiência humana, que sensibilidade especial e que lirismo identificado com as fontes da vida! Aninha hoje não nos pertence. É patrimônio de nós todos, que nascemos no Brasil e amamos a poesia ( ...)."

Editado pela Universidade Federal de Goiás, em 1983, seu novo livro "Vintém de Cobre - Meias Confissões de Aninha", é muito bem recebido pela crítica e pelos amantes da poesia. Em 1984, torna-se a primeira mulher a receber o Prêmio Juca Pato, como intelectual do ano de 1983. Viveu 96 anos, teve seis filhos, quinze netos e 19 bisnetos, foi doceira e membro efetivo de diversas entidades culturais, tendo recebido o título de doutora "Honoris Causa" pela Universidade Federal de Goiás. No dia 10 de abril de 1985, falece em Goiânia. Seu corpo é velado na Igreja do Rosário, ao lado da Casa Velha da Ponte. "Estórias da Casa Velha da Ponte" é lançado pela Global Editora. Postumamente, foram lançados os livros infantis "Os Meninos Verdes", em 1986, e "A Moeda de Ouro que um Pato Comeu", em 1997, e "O Tesouro da Casa Velha da Ponte", em 1989.


Texto obtido no sitio "Textos & Contextos", na Internet.

Renato Teixeira - Amanheceu, peguei a viola

ELIS REGINA - Atras da Porta / francis Hime & Chico Buarque



Atrás da Porta
Francis Hime

Quando olhaste bem nos olhos meus E o teu olhar era de adeus

Juro que não acreditei Eu te estranhei

Me debrucei sobre teu corpo E duvidei
E me arrastei E te arranhei
E me agarrei nos teus cabelos
Nos teus pelos Teu pijama
Nos teus pés Ao pé da cama
Sem carinho, sem coberta No tapete atrás da porta

Reclamei baixinho Dei pra maldizer o nosso lar
Pra sujar teu nome, te humilhar

E me entregar a qualquer preço

Te adorando pelo avesso
Pra mostrar que 'inda sou tua
Só pra provar que 'inda sou tua
Só pra provar que 'inda sou tua

Travessia / Milton Nascimento / Fernando Brant





Travessia
Milton Nasciment

Quando você foi embora fez-se noite em meu viver
Forte eu sou mas não tem jeito, hoje eu tenho que chorar

Minha casa não é minha, e nem é meu este lugar
Estou só e não resisto, muito tenho prá falar
Solto a voz nas estradas, já não quero parar
Meu caminho é de pedras, como posso sonhar
Sonho feito de brisa, vento vem terminar
Vou fechar o meu pranto, vou querer me matar

Eu não quero mais a morte, tenho muito que viver
Vou querer amar de novo e se não der não vou sofrer
Já não sonho, hoje faço com meu braço o meu viver

Solto a voz nas estradas, já não quero parar
Meu caminho é de pedras, como posso sonhar
Sonho feito de brisa, vento vem terminar
Vou fechar o meu pranto, vou querer me matar

Vou seguindo pela vida me esquecendo de você
Eu não quero mais a morte, tenho muito que viver
Vou querer amar de novo e se não der não vou sofrer

CIDADE DE GOIÁS

Não sei - Cora Coralina

P'ra Angola [SOL DE ITAPOÃ] (Taiguara)






P'ra Angola [SOL DE ITAPOÃ] (Taiguara)

Ô, Vento (Sol) de Itapoã, só pra me despedir, eu vim
Da minha neguinha baiana dos pêlos do mar crespin's
Dos coqueirais e novelos,
Dos belos modelos,
Dos amendoins
Que brincam no bamboleio
Dos bicos dos seios chein's

Mas essa boca dengosa e cheirosa do axé, me achou
Dentro da noite bonita e formosa da tua cor
Escola de ogãs e guerreiros
Tua pele é o terreiro
Que ardeu e suou
Feito avião, teu chamego
P'ra Angola me carregou

E agora, eu vou
P'ra escola que me ensinou
Pra escola do amor
Salve, salve... Salvador

Taiguara - Imagine (tradução)



Imagine (tradução)
John Lennon


Imagine

Imagine que não existe céu
É fácil se você tentar
Nenhum inferno abaixo de nós
E acima apenas o céu
Imagine todas as pessoas
Vivendo para o hoje

Imagine não existir países
Não é difícil de fazê-lo
Nada para matar ou por morrer
E nenhuma religião
Imagine todas as pessoas
Vivendo em paz

Talvez você diga que eu sou um sonhador
Mas não sou o único
Desejo que um dia você se junte a nós
E o mundo, então, será como um só

Imagine não existir posses
Surpreenderia-me se você conseguisse
Sem necessidades e fome
Uma irmandade humana

Imagine todas as pessoas
Compartilhando o mundo

Talvez você diga que eu sou um sonhador
Mas não sou o único
Desejo que um dia você se junte a nós
E o mundo, então, será como um só

Taiguara - Teu Sonho Não Acabou

Taiguara cantando a maravilhosa "Teu sonho não acabou"!

Teu Sonho Não Acabou
Taiguara





Hoje a minha pele já não tem cor

Vivo a minha vida seja onde for

Hoje entrei na dança e não vou sair

Vem, eu sou criança, não sei fingir Em
Eu preciso, eu preciso de você
Ah, eu preciso, eu preciso,
Eu preciso muito de você

Lá onde eu estive o sonho acabou

Cá, onde eu te encontro só começou

Lá colhi uma estrela pra te trazer

Bebe o brilho dela até entender
Que eu preciso, eu preciso de você
Ah, eu preciso, eu preciso,
Eu preciso muito de você

Só feche seu livro quem já aprendeu

Só peça outro amor quem já deu do seu

Quem não soube a sombra não sabe a luz

Vem, não perde o amor de quem te conduz
Eu preciso, eu preciso de você
Ah, eu preciso, eu preciso,
Eu preciso muito de você
Eu preciso, eu preciso de você
Nós precisamos, precisamos sim
Você de mim, eu de você

Taiguara-America del indio

Taiguara - Viagem

Taiguara - Maria do futuro

sexta-feira, 29 de junho de 2007

"Precisamos Descobrir o Brasil" - Carlos Drumond de Andrade

Clarice+Gatos+outros bichos e as orquideas do Almir

Gonzaguinha- eu apenas queria que você soubesse

Elis Regina / Gonzaguinha Redescobrir 1980

Taiguara - Que as Crianças Cantem Livres

Milton Nascimento / AMOR DE ÍNDIO

Elis Regina Milton Nascimento e Fernado Brant

NÃO ENCHE / CAETANO VELOSO

ODEIO / CAETANO VELOSO

Pantanal de Mato Grosso (BRASIL) e sua exuberante natureza

VIOLA CAIPIRA (TIÃO CARREIRO E ALMIR SATER)

DVD de Renato Teixeira

PINTOR IRANIANO / IMAN MALEKI

























Pintor iraniano.
O que as guerras e censuras não nos deixam ver:
O pintor iraniano Iman Maleki, gênio do realismo, ganhou o prêmio
William Bouguereau e o "Chairman´s Choise" no II Concurso Internacional
do Art Renewal Center. Muitos o consideram o melhor pintor de arte
realista do mundo. "Seus desenhos competem com as câmeras digitais de 10
Megapixeles", afirmam os especialistas!

quinta-feira, 28 de junho de 2007

PLANETA ÁGUA

ROMARIA / RENATO TEIXEIRA

COMO NOSSOS PAIS

ÁGUAS DE MARÇO

Gal Costa & Caetano Veloso-O Ciúme(vcd-ntsc)



O Ciúme
Caetano Veloso e Gal Costa

Composição: Caetano Veloso


Dorme o sol à flor do Chico, meio-dia

Tudo esbarra embriagado de seu lume

Dorme ponte, Pernambuco, Rio, Bahia

Só vigia um ponto negro: o meu ciúme

O ciúme lançou sua flecha preta

E se viu ferido justo na garganta

Quem nem alegre nem triste nem poeta

Entre Petrolina e Juazeiro canta

Velho Chico vens de Minas

De onde o oculto do mistério se escondeu

Sei que o levas todo em ti, não me ensinas

E eu sou só, eu só, eu só, eu

Juazeiro, nem te lembras dessa tarde

Petrolina, nem chegaste a perceber

Mas, na voz que canta tudo ainda arde

Tudo é perda, tudo quer buscar, cadê

Tanta gente canta, tanta gente cala

Tantas almas esticadas no curtume

Sobre toda estrada, sobre toda sala

Paira, monstruosa, a sombra do ciúme

BRASIL / CAZUZA

AMAZÔNIA PRIVATIZADA

TUDO VIRA BOSTA - RITA LEE

Carlos Drummond De Andrade - Doc. 2005

Resíduo, poema de Carlos Drummond de Andrade

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE : ALMAS PERFUMADAS

Carlos Drummond de Andrade BIOFRAFIA

Carlos Drummond de Andrade


(...) Pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco de teu queixo
no queixo de tua filha.
De teu áspero silêncio
um pouco ficou, um pouco
nos muros zangados,
nas folhas, mudas, que sobem.

Ficou um pouco de tudo
no pires de porcelana,
dragão partido, flor branca,
ficou um pouco
de ruga na vossa testa,
retrato.

(...) E de tudo fica um pouco.
Oh abre os vidros de loção
e abafa
o insuportável mau cheiro da memória.

(Resíduo)



Carlos Drummond de Andrade
nasceu em Itabira do Mato Dentro - MG, em 31 de outubro de 1902. De uma família de fazendeiros em decadência, estudou na cidade de Belo Horizonte e com os jesuítas no Colégio Anchieta de Nova Friburgo RJ, de onde foi expulso por "insubordinação mental". De novo em Belo Horizonte, começou a carreira de escritor como colaborador do Diário de Minas, que aglutinava os adeptos locais do incipiente movimento modernista mineiro.

Ante a insistência familiar para que obtivesse um diploma, formou-se em farmácia na cidade de Ouro Preto em 1925. Fundou com outros escritores A Revista, que, apesar da vida breve, foi importante veículo de afirmação do modernismo em Minas. Ingressou no serviço público e, em 1934, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde foi chefe de gabinete de Gustavo Capanema, ministro da Educação, até 1945. Passou depois a trabalhar no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e se aposentou em 1962. Desde 1954 colaborou como cronista no Correio da Manhã e, a partir do início de 1969, no Jornal do Brasil.

O modernismo não chega a ser dominante nem mesmo nos primeiros livros de Drummond, Alguma poesia (1930) e Brejo das almas (1934), em que o poema-piada e a descontração sintática pareceriam revelar o contrário. A dominante é a individualidade do autor, poeta da ordem e da consolidação, ainda que sempre, e fecundamente, contraditórias. Torturado pelo passado, assombrado com o futuro, ele se detém num presente dilacerado por este e por aquele, testemunha lúcida de si mesmo e do transcurso dos homens, de um ponto de vista melancólico e cético. Mas, enquanto ironiza os costumes e a sociedade, asperamente satírico em seu amargor e desencanto, entrega-se com empenho e requinte construtivo à comunicação estética desse modo de ser e estar.

Vem daí o rigor, que beira a obsessão. O poeta trabalha sobretudo com o tempo, em sua cintilação cotidiana e subjetiva, no que destila do corrosivo. Em Sentimento do mundo (1940), em José (1942) e sobretudo em A rosa do povo (1945), Drummond lançou-se ao encontro da história contemporânea e da experiência coletiva, participando, solidarizando-se social e politicamente, descobrindo na luta a explicitação de sua mais íntima apreensão para com a vida como um todo. A surpreendente sucessão de obras-primas, nesses livros, indica a plena maturidade do poeta, mantida sempre.

Várias obras do poeta foram traduzidas para o espanhol, inglês, francês, italiano, alemão, sueco, tcheco e outras línguas. Drummond foi seguramente, por muitas décadas, o poeta mais influente da literatura brasileira em seu tempo, tendo também publicado diversos livros em prosa.

Em mão contrária traduziu os seguintes autores estrangeiros: Balzac (Les Paysans, 1845; Os camponeses), Choderlos de Laclos (Les Liaisons dangereuses, 1782; As relações perigosas), Marcel Proust (La Fugitive, 1925; A fugitiva), García Lorca (Doña Rosita, la soltera o el lenguaje de las flores, 1935; Dona Rosita, a solteira), François Mauriac (Thérèse Desqueyroux, 1927; Uma gota de veneno) e Molière (Les Fourberies de Scapin, 1677; Artimanhas de Scapino).

Alvo de admiração irrestrita, tanto pela obra quanto pelo seu comportamento como escritor, Carlos Drummond de Andrade morreu no Rio de Janeiro RJ, no dia 17 de agosto de 1987, poucos dias após a morte de sua filha única, a cronista Maria Julieta Drummond de Andrade.

CARLOS BRUMMOND DE ANDRADE

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE / MORTE DO LEITEIRO

Morte do Leiteiro

Há pouco leite no país,
é preciso entregá-lo cedo.
Há muita sede no país,
é preciso entregá -lo cedo.
Há no país uma legenda,
que ladrão se mata com tiro.

Então o moço que é leiteiro
de madrugada com sua lata
sai correndo e distribuindo
leite bom pra gente ruim.
Sua lata, suas garrafas,
e seus sapatos de borracha
vão dizendo aos homens no sono
que alguém acordou cedinho
e veio do último subúrbio
trazer o leite mais frio
e mais alvo da melhor vaca
para todos criarem força
na luta brava da cidade.

Na mão a garrafa branca
não tem tempo de dizer
as coisas que lhe atribuo nem o moço leiteiro ignaro,
morador na Rua Namur,
empregado no entreposto,
com 21 anos de idade,
sabe lá o que seja impulso
de humana compreensão.
E já que tem pressa, o corpo
vai deixando à beira das casas
uma apenas mercadoria.

E como a porta dos fundos
também escondesse gente
que aspira ao pouco de leite
disponível em nosso tempo,
avancemos por esse beco,
peguemos o corredor,
depositemos o litro...
Sem fazer barulho, é claro,
que barulho nada resolve.

Meu leiteiro tão sutil,
de passo maneiro e leve,
antes desliza que marcha.
É certo que algum rumor
sempre se faz: passo errado,
vaso de flor no caminho,
cão latindo por princípio,
ou um gato quizilento.
E há sempre um senhor que acorda,
resmunga e torna a dormir.

Mas este acordou em pânico
(ladrões infestam o bairro),
não quis saber de mais nada.
O revólver da gaveta
saltou para sua mão.
Ladrão? se pega com tiro.
Os tiros na madrugada
liquidaram meu leiteiro.
Se era noivo, se era virgem,
se era alegre, se era bom,
não sei,
é tarde para saber.

Mas o homem perdeu o sono
e todo, e foge pra rua.
Meu Deus, matei um inocente.
Bala que mata gatuno
também serve pra furtar
a vida de nosso irmão.
Quem quiser que chame médico,
polícia não bota a mão
neste filho de meu pai.
Está salva a propriedade.
A noite geral prossegue,
a manhã custa a chegar,
mas o leiteiro
estatelado, ao relento,
perdeu a pressa que tinha.

Da garrafa estilhaçada,
no ladrilho já sereno
escorre uma coisa espessa
que é leite, sangue... não sei.
Por entre objetos confusos,
mal redimidos da noite,
duas cores se procuram,
suavemente se tocam,
amorosamente se enlaçam,
formando um terceiro tom
a que chamamos aurora.



CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE : Consolo na praia




Consolo na Praia

Vamos, não chores...
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.

O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.

Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis casa, navio, terra.
Mas tens um cão.

Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?

A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.

Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho.

De "Amar se Aprende Amando"

Horizonte - Fernando Pessoa



O mar anterior a nós, teus medos
Tinham coral e praias e arvoredos.
Desvendadas a noite e a cerração,
As tormentas passadas e o mistério,

Abria em flor o Longe, e o Sul sidério
'Splendia sobre as naus da iniciação.
Linha severa da longínqua costa--
Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta

Em árvores onde o Longe nada tinha;
Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
E, no desembarcar, há aves, flores,
Onde era só, de longe a abstracta linha

O sonho é ver as formas invisíveis
Da distância imprecisa, e, com sensíveis
Movimentos da esp'rança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte

A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte --
Os beijos merecidos da Verdade.

FERNANDO PESSOA / EU JÁ ...

NAVEGAR

CLARICE LISPECTOR



UM ENIGMA

"Tenho várias caras. Uma é quase bonita,
outra é quase feia. Sou um o quê? Um quase tudo".

MAS HÁ VIDA / CLARICE LISPECTOR

A PERFEIÇÃO / CLARICE LISPECTOR



O que me tranqüiliza
é que tudo o que existe,
existe com uma precisão absoluta.


O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
não transborda nem uma fração de milímetro
além do tamanho de uma cabeça de alfinete.


Tudo o que existe é de uma grande exatidão.
Pena é que a maior parte do que existe
com essa exatidão
nos é tecnicamente invisível.


O bom é que a verdade chega a nós
como um sentido secreto das coisas.


Nós terminamos adivinhando, confusos,
a perfeição.


quarta-feira, 27 de junho de 2007

Clarice Lispector

Quero escrever puro movimento (...)
Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém.
Provavelmente a minha própria vida.
Viver é uma espécie de loucura que a morte faz.
Vivam os mortos, porque neles vivemos.
De repente as coisas não precisam mais fazer sentido.
Satisfaço-me em ser.
Tu és? Tenho certeza que sim.
O não sentido das coisas me faz ter um sorriso de complacência.
Decerto tudo deve estar sendo o que é.”
Clarice Lispector

SAUDADE (Miguel Falabella)







SAUDADE (Miguel Falabella)

Em alguma outra vida, devemos ter feito algo de muito grave, para termos tanta saudade...

Trancar o dedo numa porta dói.
Bater com o queixo no chão dói.
Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, doem.
Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim.
Mas o que mais dói é a saudade.
Saudade de um irmão que mora longe.
Saudade de uma cachoeira da infância.
Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais.
Saudade do pai que morreu, do amigo imaginário que nunca existiu.
Saudade de uma cidade.
Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa.
Doem essas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama.
Saudade da pele, do cheiro, dos beijos.
Saudade da presença, e até da ausência consentida.
Você podia ficar na sala e ela no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá.
Você podia ir para o dentista e ela para a faculdade, mas sabiam-se onde.
Você podia ficar o dia sem vê-la, ela o dia sem vê-lo, mas sabiam-se amanhã.
Contudo, quando o amor de um acaba, ou torna-se menor, ao outro sobra
uma saudade que ninguém sabe como deter.
Saudade é basicamente não saber.
Não saber mais se ela continua fungando num ambiente mais frio.
Não saber se ele continua sem fazer a barba por causa daquela alergia.
Não saber se ela ainda usa aquela saia.
Não saber se ele foi na consulta com o dermatologista como prometeu.
Não saber se ela tem comido bem por causa daquela mania de estar sempre culpada,
se ele tem assistido às aulas de inglês,
se aprendeu a entrar na internet e encontrar a página do Diário Oficial,
se ela aprendeu a estacionar entre dois carros,
se ele continua preferindo Malzebier,
se ela continua preferindo suco,
se ele continua sorrindo com aqueles olhinhos apertados,
se ela continua dançando daquele jeitinho enlouquecedor,
se ele continua cantando tão bem,
se ela continua detestando MC Donald´s,
se ele continua amando,
se ela continua a chorar até nas comédias.
Saudade é não saber mesmo!
Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos,
não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento,
não saber como frear as lágrimas diante de uma música,
não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Saudade é não querer saber se ela está com outro, e ao mesmo tempo querer.
É não saber se ele está feliz, e ao mesmo tempo perguntar a todos os
amigos por isso...
É não querer saber se ele está mais magro, se ela está mais bela.
Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim doer.
Saudade é isso que senti enquanto estive escrevendo e o que você,
provavelmente, está sentindo agora depois que acabou de ler...

:: homenagem à você, à lembrança, ao sentimento, à saudade... ::

Uns Versos Quaisquer / Fernando Pessoa

Uns Versos Quaisquer

Vive um momento com saudade dele Já ao vivê-lo . . .
Barcas vazias, sempre nos impele
Como a um solto cabelo
Um vento para longe, e não sabemos,
Ao viver, que sentimos ou queremos . . .
Demo-nos pois a consciência disto
Como de um lago
Posto em paisagens de torpor mortiço
Sob um céu ermo e vago,
E que nossa consciência de nós seja
Uma cousa que nada já deseja . . .
Assim idênticos à hora toda
Em seu pleno sabor,
Nossa vida será nossa anteboda: Não nós, mas uma cor,
Um perfume, um meneio de arvoredo, E a morte não virá nem tarde ou cedo . . .
Porque o que importa é que já nada importe . . .
Nada nos vale
Que se debruce sobre nós a Sorte, Ou, tênue e longe, cale
Seus gestos . . .
Tudo é o mesmo . . .
Eis o momento . . .
Sejamo-lo . . .
Pra quê o pensamento? . . .

CLARISSE LISPECTOR / SAUDADE

Milton Nascimento - Wagner Tiso - Ponta de Areia (1997)

VIAGEM / TAIGUARA



Viagem

Vai abandona a morte em vida em que hoje estás
Ao lugar onde essa angustia se desfaz
E o veneno e a solidão mudam de cor
Vai indo amor
Vai recupera a paz perdida e as ilusões,
não espera vir a vida às tuas mãos
Faz em fera a flor ferida e vai lutar
Pro amor voltar
Vai faz de um corpo de mulher estrada e sol
Te faz aman...te Faz meu peito errante
Acreditar que amanheceu
Vai corpo inteiro mergulhar no teu amor
Nesse momen...to vai ser teu momento
O mundo inteiro vai ser teu, teu, teu

HOJE / TAIGUARA



Hoje
Trago em meu corpo as marcas do meu tempo
Meu desespero a vida num momento
A fossa, a fome, a flor, o fim do mundo
Hoje
Trago no olhar imagens distorcidas
Pois viagens, mãos desconhecidas
Trazem a lua, a rua às minhas mãos
Mas hoje,
As minhas mãos enfraquecidas e vazias
Procuram nuas pelas luas, pelas ruas
Na solidão das noites frias por você
Hoje
Homens sem medo aportam no futuro
Eu tenho medo acordo e te procuro
Meu quarto escuro é inerte como a morte
Hoje
Homens de aço esperam da ciência
Eu desespero e abraço a tua ausência
Que é o que me resta, vivo em minha sorte
Ah, sorte
Eu não queria a juventude assim perdida
Eu não queria andar morrendo pela vida
Eu não queria amar assim
Como eu te amei

UNIVERSO NO TEU CORPO / TAIGUARA


Universo no teu corpo

Eu desisto
Não existe essa manhã que eu perseguia
Um lugar que me dê trégua ou me sorria
Uma gente que não viva só pra si
Só encontro
Gente amarga mergulhada no passado
Procurando repartir seu mundo errado
Nessa vida sem amor que eu aprendi
Por uns velhos vão motivos
Somos cegos e cativos
No deserto do universo sem amor
E é por isso que eu preciso
De você como eu preciso
Não me deixe um só minuto sem amor
Vem comigo
Meu pedaço de universo é no teu corpo
Eu te abraço corpo imerso no teu corpo
E em teus braços se une em versos a canção
Em que eu digo
Que estou morto pra esse triste mundo antigo
Que meu porto, meu destino, meu abrigo
São teu corpo amante amigo em minhas mãos
E é por isso que eu preciso...
Vem que eu digo
Que estou morto pra esse triste mundo antigo
Que meu porto, meu destino, meu abrigo
São teu corpo amante amigo em minhas mãos

Taiguara
9/10/1945 14/2/1996

Biografia
Uruguaio de Montevidéu, veio para o Brasil com 4 anos de idade, morando primeiro no Rio e mais tarde em São Paulo. Na universidade, participou de festivais, época em que começou a compor. Abandonou a faculdade e ingressou como cantor no Sambalanço Trio. Na década de 60 fez carreira em festivais, tendo se firmado como compositor de baladas até meados dos anos 70, quando passou a se dedicar a outros experimentalismos, trabalhando ao lado de Hermeto Pascoal. Durante a ditadura militar, teve problemas com a censura, creditando a autoria de algumas de suas músicas a sua mulher para conseguir liberação das faixas. Tendo morado em diferentes países (Brasil, Inglaterra, Etiópia, França, Tanzânia), a música de Taiguara assimilou diversas influências. Nos anos 80 voltou-se para a música latino-americana, gravando guarânias paraguaias e outros ritmos latinos. Também pesquisou a música africana para lançar "Brasil Afri" em 1994. Alguns de seus sucessos são "Hoje", "Universo do Teu Corpo", "Viagem".
CLIQUE MUSIC

Milton Nascimento (Caetano Veloso) Terceira Margem do Rio

Livros / Caetano Veloso




Livros Caetano Veloso
Tropeçavas nos astros desastrada

Quase não tínhamos livros em casa
E a cidade não tinha livraria

Mas os livros que em nossa vida entraram

São como a radiação de um corpo negro

Apontando pra a expansão do Universo

Porque a frase, o conceito, o enredo, o verso
(E, sem dúvida, sobretudo o verso)
É o que pode lançar mundos no mundo.
Tropeçavas nos astros desastrada

Sem saber que a ventura e a desventura

Dessa estrada que vai do nada ao nada

São livros e o luar contra a cultura.

Os livros são objetos transcendentes

Mas podemos amá-los do amor táctil

Que votamos aos maços de cigarro

Domá-los, cultivá-los em aquários,
Em estantes, gaiolas, em fogueiras
Ou lançá-los pra fora das janelas (Talvez isso nos livre de lançarmo-nos)
Ou ­ o que é muito pior ­ por odiarmo-los

Podemos simplesmente escrever um:
Encher de vãs palavras muitas páginas
E de mais confusão as prateleiras.
Tropeçavas nos astros desastrada

Mas pra mim foste a estrela entre as estrelas.

Taiguara - Imagine (de John Lennon)

DEIXA A VIDA ME LEVAR / Serginho Meriti



Deixa a Vida me Levar
Zeca Pagodinho

Eu já passei por quase tudo nessa vida

Em matéria de guarida espero ainda minha vez

confesso que sou de origem pobre

Mas meu coração é nobre, foi assim que Deus me fez

E deixa a vida me levar (vida leva eu)

Deixa a vida me levar (vida leva eu)

Deixa a vida me levar (vida leva eu)

Sou feliz e agradeço por tudo que Deus me deu

Só posso levantar as mãos pro céu

Agradecer e ser fiel ao destino que Deus me deu

Se não tenho tudo que preciso

Com o que tenho, vivo

De mansinho , lá vou eu

Se a coisa não sai do jeito que eu quero
Também não me desespero
O negócio é deixar rolar

E aos trancos e barrancos, lá vou eu
E sou feliz e agradeço por tudo que Deus me deu
E deixa a vida me levar (vida leva eu)
Deixa a vida me levar (vida leva eu)
Deixa a vida me levar (vida leva eu)

RODA VIVA / CHICO BUARQUE



Roda Viva

Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino prá lá ...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a roseira prá lá

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração

A roda da saia mulata
Não quer mais rodar não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou
A gente toma a iniciativa
Viola na rua a cantar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a viola prá lá

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração

O samba, a viola, a roseira
Que um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou
No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a saudade prá lá ...

terça-feira, 26 de junho de 2007

VOCÊ JÁ FOI À BAHIA ? ENTÃO VÁ....

A CULHÃO - De qualquer jeito, na marra; sem interesse (ópaisso: tudo feito a culhão)

A FACÃO - Algo feito na marra (ver também na mão grande)

A MIGUÉ - À vontade, de forma esculhambada

A PULSO - À força

À TOA - Parado (que cê tá fazendo aí à toa?)

ABESTALHADO/BESTALHADO - Bobo

ABILOLADO - Maluco; abobalhado

ABRIR O GÁS - Se mandar, ir embora

ABRIRAM A PORTA DO CEMITÉRIO! - Lá vem mulher feia!

ABUSAR - Perturbar, encher o saco (mainha, manda Cecilia parar de me abusar!)

ÁGUA-DURA - Cachaça

ALTEAR - Aumentar o volume (do rádio)

APREÇAR - Procurar saber o preço

ARGOLA - Qualquer tipo de brinco

ARMENGUE - Improviso, gambiarra; pessoa ou coisa feia, mal ajambrada

ARRASTAR ASA - Dar bola, estar a fim de alguém

ARROCHADO - Metido a valente; roubado

ARRODEAR - Dar a volta (arrodear o quarteirão)

ARROMBADO - Fudido

ASSUNTAR - Prestar atenção

ATIRADO - Ousado; que se mete sem ser chamado

ATOLEIMADO - Lerdo, bobo

AVE MARIA! - Interjeição pra qualquer situação

AVEXADO - Apressado

AVIONADO - Disparado, correndo muito

AVOADO - Desligado

AZUADO - Pertubado

BABA - Racha, pelada

BACIO - Penico

BANCA - Estudo particular (meu filho faz banca de português)

BANDA-VOOU - Cuca fresca, pessoa largada; quem topa tudo

BARÃO - Gente rica, milionário

BATER A CAÇULETA - Morrer

BESTAGEM - Bobagem, babaquice

BOCA-DE-ZERO-NOVE - Lugar de se dar mal

BOCAPIU - Sacola de palha; recomendação para ficar de boca fechada ao saber de um segredo

BOIADO - Cansado

BORA? - Vamos? (bora brincar?)

BORBOLETA - Torniquete de ônibus

BOTAR GOSTO RUIM - Melar, atrapalhar um negócio; perturbar; colocar defeito

BOTAR PILHA - Botar fogo, estimular briga

BRÔCO - Desorientado, desordenado; velho esclerótico

BULIR - Mexer, tocar (não bula aí, menino!)

BUNDA CHULADA - Bunda reta, pessoa sem bunda

BUZU - Ônibus

CABEÇA-DE-ARROMBA-NAVIO - Cabeça grande

CABELO-DE-ARAPUÃ - Cabelo assanhado, desgrenhado

CACARECO - Mudança de pobre, bagulho

CACETINHO - Pão de sal pequeno (50 g)

CACHAÇÃO - Tapa na cabeça ou no pescoço

CAGADO E CUSPIDO - Idêntico, muito parecido

CAIR MATANDO - Comer tudo; não deixar falar; dar porrada

CAIR NA TACA - Apanhar (ele mentiu, aí caiu na taca)

CAIXÃO E VELA - Morreu aí, não há mais o que fazer; dançar em alguma coisa

CAMBITO - Perna fina

CANGUINHA - Pão-duro

CAPOTE - Casaco de frio

CARA-DE-FUINHA - Pessoa com o nariz achatado ou defeituoso

CARNE-DE-PESCOÇO - Pessoa difícil de tratar; teimoso

CARTEIRA - Mesa de trabalho

CERCA-LOURENÇO - Frescura, nove-horas, complicação (esse cara tá cheio de cerca-lourenço!)

CERTA FEITA - Uma vez (certa feita eu ia passando por ali e...)

CHAMAR CACHORRO DE CACHO - Estar totalmente bêbado, não pronunciando mais as sílabas finais das palavras

CHAMAR HUGO - Estar vomitando por estar embriagado

CHAMAR RAUL - Vomitar CHAPA Dentadura

CHAVE-DE-CADEIA - Mulher que dá encrenca

CHEGUE - Vem cá (chegue, meu nego, cheque)

CHEGUE À FRENTE - Entre, participe da conversa

CHEIO DE NOVE-HORAS - Cheio de complicação, enrolado

CHEIO DO PAU - Bêbado

CHIADA - Reclamação (deixe de chiada! ou então: esse cara é cheio de chiada!)

CHIBUNGO - Sacana; viado

CINCO-CONTRA-UM - Punheta

COBERTA - Lençol

COMER ÁGUA - Beber (bebida alcoólica)

COMER COM FARINHA - Fazer algo facilmente (isso aí é mole, eu como com farinha)

CONSUMIÇÃO - Encheção de saco; agonia; preocupação

CORRENTE - Gente fina, amigo de fé; cordão (jóia)

COURO COMEU - Houve briga (aí o couro comeu!)

CRENDEUSPAI! - Creio em Deus Pai!

CURIAR - Olhar ou observar com curiosidade

CURRIÃO - Cinto

CUSPIDO E ESCARRADO - Idêntico, muito parecido

CUXIM - Assento da bicicleta

DAR NO COURO - Conseguir transar; conseguir fazer alguma coisa

DAR UM AMASSO - Dar um arrocho, tirar um sarro

DE BOTUCA - Olhando, corujando (tô aqui só de botuca)

DE HOJE A OITO - Semana que vem

DE JEITO E QUALIDADE - De forma alguma

DE RUMA - Muito, de montão

EMBORCAR - Virar de cabeça ou de boca pra baixo

EMPATA-FODA - Pessoa inconveniente, que aparece na hora errada

ENCAFIFAR - Ficar intrigado; ficar surpreso e na sua; ficar recolhido

ENFASTIADO - De saco cheio, desanimado

FALAR MAIS QUE A NEGA DO LEITE - Falar pra cacete

FARDA - Uniforme escolar

FASTIADO - Enjoado (ver empaxado)

FAZER ENXAME - Juntar gente, fazer estardalhaço

FAZER O BALÃO - Fazer o retorno (no trânsito)

FICHINHA - Coisa fácil; pessoa inexperiente ou fraca em alguma coisa

FIFÓ - Lamparina

FILAR AULA - Matar aula

FIM-DE-LINHA - Ponto final; área nas cercanias do ponto final do ônibus

FOFAR - Dar uma, trepar

FOI MAL - Desculpe

FOLOZADO - Folgado, desrregulado; caindo aos pedaços

FUBUIA - Cachaça, cana, cachaçada (hoje vou tomar umas fubuias)

FURUNFAR - Dar uma, trepar

GAITADA - Risada alta, gargalhada

GALERA DO MAL - A turma, a patota

GARAPA - Qualquer refresco muito doce

GÁS - Querosene

GASTURA - Nervoso (quando o giz escorrega no quadro: "não faz assim, me dá a maior gastura")

GELADINHO - Sorvete no saquinho

IMUNDO - Sujo (que cara imundo)

IDÉIA DE JERICO - Idéia boba, besteira

INHACA - Cheio ruim do sovaco

JABURU - Mulher feia (tremendo jaburu!)

LÁ ELE - Outra pessoa, não eu

LAMBISGÓIA - Mulher magrinha e sem graça

LASCAR - Rasgar

LAVAR A JEGA - Se dar bem, lavar a égua

LENHADO - Em má situação, em mau estado, fudido

LESEIRA - Preguiça

MALINAR - Traquinar, perturbar

MANGAR - Gozar, sacanear (você tá mangando de mim?)

MANJUBA - Vara, cacete, piroca (ver também rola)

MOCÓ - Sacola de palha (ver bocapiu)

MORREU AÍ - Fim de papo

MORTA-FOME - Esfomeado; guloso; avarento

MOTÔ - Motorista de ônibus

NA PINDAÍBA - Na pior; sem grana

NA PIPOCA - Brincar o carnaval sem ser em bloco

NA TORA - À força, obrigado

NÃO CONTAR CONVERSA - Não perder tempo

NÃO TEM ERRADA - Não há como errar

NEM TCHUM - Nem te ligo, não quero nem saber

OXENTE - Puxa! qual é?, que é isso? (ver ôxe, xen e xente)

ÔXE - Puxa!, qual é?, que é isso? (ver oxente, xen e xente)

PAINHO/MAINHA/VOINHO/VOINHA - Pai / mãe / vô / vó

PASSAR BATIDO - Passar ligeiro, passar sem notar; entender algo facilmente

PERCATA - Sandália

PICAR A PORRA - Bater (vou lhe picar a porra, viu?)

PONGAR - Pegar carona; embarcar na idéia de alguém; pegar ônibus ou trem em movimento

QUEBRAR O CABRESTO - Perder a virgindade (homem)

QUEIMAR A RODINHA - Dar o rabo

QUEIXÃO - Cara de pau, entrão, bicão

QUEIXAR - Tentar namorar, cantar alguém; pedir alguma coisa na maior cara de pau

QUENGA - Mulher feia; caso de alguém; puta

QUENTE-FRIO - Garrafa térmica

QUETAR - Ficar quieto (quete aí, menino!)

REI DA COCADA PRETA - Metido a besta

RETADO - Do caralho; capaz; gente boa; invocado, puto da vida; bravo; interjeição de espanto: ô, retado!

RUMA - Um monte

RUMAR - Jogar, lançar (eu rumei uma pedra nele.)

RUMBORA? - Vamos? (rumbora brincar?) (ver também bora, vombora, vãobora e umbora)

Sacrista - Sacana

Sacudir (a poeira) - Limpar a casa, tirar a poeira dos móveis.

Saído - Aquele que gosta de aparecer.

Salitre - Maresia.

Sanitário - Banheiro.

Sapatona - Sapatão.

Sargaço - Alga marinha.

Se abrir - Se oferecer.

Se amostrar - Querer aparecer, ficar em destaque.

Se armar - Se dar bem; arranjar uma mulher.

Se arrombar - Se dar mal.

Se assunte! - Tome vergonha!; se ligue!; se olhe!

Se campar - Se dar mal.

Se estrompar - Se dar mal.

Se lenhar - Se dar mal.

Se ligue! - Se oriente, se toque, preste atenção.

Se olhe! - Procure seu lugar, me respeite!

Se oriente! - Tome jeito!

Se picar - Se mandar, ir embora.

Se plante, bróder! / Se prante, maluco! - Fique na sua!; Vamo brigar agora!

Se respeite! - Me respeite.

Se saia, rapa! - Se toque; se mande.

Seco - Muito afim de fazer algo. ("Hoje estou seco por um baba.")

Segurar no pé - Encher o saco, vigiar, tomar conta. ("Essa mulher vive segurando no meu pé.")

Segurar vela - Diz-se de quem acompanha sozinho um casal de namorados.

Sem quê nem pra quê - Sem mais nem menos.

Seu bichinho - Seu fulano.

Siga certo - Vá em frente.

Sinal - Pinta no corpo.

Sinaleira - Sinal de trânsito.

Só - Usado para reforçar algo. ("-Esse cara fala pra porra, né?/ -É, ele só fala!")

Socado - Cheio, entupido.

Socorro - Estepe de pneu.

Sombreiro - Sombrinha de praia.

Tá de calundu - Tá zangado, na bronca.

Tá ligado? - Entendeu?; Falou?

Tá mangaba - Tá moleza.

Tá na jante (pneu) - Tá gasto, tá careca.

Tá na pindaíba - Tá sem grana, tá duro.

Tá rebocado! - Pode crer!

Tá sem um puto -Tá sem grana, duro.

Tá um baba - Tá moleza.

Tabaca - Drible da vaca no futebol; buceta.

Tabacuda - Bucetuda.

Tabaréu - Caipira.

Tabaroa - Mulher caipira.

Taboca - Tipo de biscoito oco e arredondado; porrada;
vantagem.

Tábua - Assento do vaso.

Taca - pau, cacete, pênis.

Taco - pedaço.

Tanque - Caixa d'água.

Taquiceiro - Taxista.

Taquinho - Pedacinho.

Tcheca - Vagina.

Ter arte do cão - Ser pertubado, traquinas.

Tiquinho - Pouquinho. ("Deixe só um tiquinho pra mim.")

Tirado - Metido.

Tirar o contrato - Assinar o contrato.

Tirar do tempo - Desregular o motor do carro.

Tirar idéia - Tirar onda.

Tirar o corpo - Se mandar, dar o fora.

Tirar o pé de banda - Sair da jogada.

Tirar pergunta - Tirar satisfação.

Tô pouco me lixando - Não quero nem saber.

Tóchico - Tóxico.

Tô de maresia - Estou sem fazer nada, vagabundeando.

Tolete - Peloto de cocô.

Tomar uma - Beber. (bebida alcoólica)

Tomar um chelp - Descobrir que estava errado; se dar mal em alguma discussão. ("Foi discutir com a professora e acabou tomando um chelp!")

Tomar raiva - Ficar com raiva.

Tomar tenência na vida - Tomar jeito.

Tomar um chá de se pique - Retirar-se, ir embora.

Tope - Tamanho. ("Ele é do meu tope.")

Topete - Ousadia, falta de respeito. ("Não tome topete comigo não, viu?")

Torar - Arrebentar.

Transmissão - Registro hidráulico.

Trava na língua - Língua presa.

Treta / Treita - Malandragem, safadeza.

Tribufu - Negra feia.

Tripé - Homem de pau grande.

Trocar idéias - Conversar.

Troncho - Desarrumado, torto, sem equilíbrio.

Truta - Mentira, sacanagem.

Um mucado - Um bucado, um monte, vários.

Uma hora dessa - Qualquer hora.

Umbora? - Vamos?

Vá pra porra! - Não encha o saco!

Vagal - Preguiçoso, vagabundo.

Vai desculpando - Desculpe-me.

Vambora / Vãobora - Vamos?

Vara - Baguete, pão mais comprido.

Varapau - Sujeito alto e magro.

Vate catar! - Vá encher o saco de outro!

Vá pra porra! - Vá se fuder!, Vá encher o saco de outro!

Vazio - Livre, disponível. ("Esse lugar tá vazio?")

Ver miguel - Ir no banheiro.

Virado na porra - Muito puto da vida.

Virado no cão - Muito puto da vida.

Viraado no estopô - Muito puto da vida

Vixe Maria! - Virgem Maria!

Xaréu - Pessoal que entra no estádio de graça no final do jogo, quando abrem-se os portões.

Xereca - Vagina

Xôxa - Sem graça, insípida.

Xurumela - Papo-furado; história mal contada.

Zarolho - Caolho.

Zerinho ou um / Zero ou um - Jogo tipo par ou ímpar.

Zorra - Qualquer coisa; bagunça; porra; situação.

Zuada - Barulho.

Zunhada - Arranhar com as unhas, unhadas.


Françoise Hardy - Il Est Des Choses

Je vais t'aimer - Michel Sardou

Francoise Hardy - Tous les Garcons et les Filles

Você Aprende_Willian Shakespeare - Apresentação Espírita - Lindo!

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Minha menina se foi ao mar / Garcia Lorca

Garcia Lorca

Minha menina se foi ao mar

A Miguel Pizarro, na irregularidade simétrica do Japão.

Minha menina se foi ao mar
a contar ondas e pedrinhas,
porém se encontrou, de pronto,
com o rio de Sevilha.
Entre adelfas e sinos
cinco barcos se mexiam,
com os remos na água
e as velas na brisa.
Quem olha dentro a torre
adornada de Sevilha?
Cinco vozes contestavam
redondas como anéis.
O céu monta elegante
ao rio, de margem a margem.
No ar cor-de-rosa,
cinco anéis se mexiam.

De "Canciones Andaluzas", 1921-1924.

Pequeño Poema Infinito / GARCIA LORCA

Pequeño Poema Infinito

Para Luis Cardoza y Aragón

Equivocar
el camino
es llegar a la nieve
y llegar a la nieve
es pacer durante veinte siglos las hierbas de los cementerios.
Equivocar
el camino
es llegar a la mujer,
la mujer que no teme la luz,
la mujer que mata dos gallos en un segundo,
y luz que no teme a los gallos
y los gallos que no saben cantar sobre la nieve.
Pero si la
nieve se equivoca de corazón
puede llegar el viento Austro
y como el aire no hace caso de los gemidos
tendremos que pacer otra vez las hierbas de los cementerios.
Yo vi dos
dolorosas espigas de cera
que enterraban un paisaje de volcanes
y vi dos niños locos que empujaban llorando las pupilas de un asesino.

Pero el dos
no ha sido nunca un número
porque es una angustia y su sombra,
porque es la guitarra donde el amor se desespera,
porque es la demostración de otro infinito que no es suyo
y es las murallas del muerto
y el castigo de la nueva resurrección sin finales.
Los muertos odian el número dos,
pero el número dos adormece a las mujeres
y como la mujer teme la luz
la luz tiembla delante de los gallos
y los gallos sólo saben volar sobre la nieve
tendremos que pacer sin descanso las hierbas de los cementerios
10 de enero
de 1930. Nueva York