sexta-feira, 30 de março de 2007

IMAGEM E SEMELHANÇA

Milton Nascimento - Imagem e Semelhança


Pai do céu
Me manda alguma ajuda
A luz numa mensagem, careço de saber
Senhor, só preciso de um recado
A coisas nesta vida
Que não posso entender

Será sua imagem e semelhança
Não, meu pai do céu,
Não posso acreditar,
Não dá

Alguém inventou essa balela
A gente não merece
De longe comparar
Falta de respeito, no começo,
Nem se acha um herdeiro
Na glória de amar
Veio seu filho salvar a terra,
Tanto sacrifício,
Alguém mereceu,
Será?

Buda, oxalá ou krishna, muito amado
Nos fizeram andar
Mas resta a pergunta do começo,
Tô tanto distante de ter sido feito
A sua semelhança, pai


CANÇÃO DA AMÉRICA


Milton Nascimento - Canção da América


Amigo é coisa para se guardar
Debaixo de 7 chaves,
Dentro do coração,
assim falava a canção que na América ouvi,
mas quem cantava chorou ao ver o seu amigo partir,
mas quem ficou, no pensamento voou,
o seu canto que o outro lembrou
E quem voou no pensamento ficou,
uma lembrança que o outro cantou.
Amigo é coisa para se guardar
No lado esquerdo do peito,
mesmo que o tempo e a distância digam não,
mesmo esquecendo a canção.
O que importa é ouvir a voz que vem do coração.
Seja o que vier,
venha o que vier
Qualquer dia amigo eu volto pra te encontrar
Qualquer dia amigo, a gente vai se encontrar.

BIOGRAFIA

Nascido no Rio, foi para Três Pontas (MG) com menos de dois anos de idade, na companhia dos pais adotivos. Portanto, mesmo sendo carioca, tornou-se conhecido como o principal responsável pela projeção da moderna música de Minas Gerais. Desde cedo tinha consciência de sua voz extraordinária e começou aos 13 anos como crooner, profissão que buscou resgatar recentemente com o CD "Crooner", de 1999. Na adolescência integrou o conjunto Luar de Prata com Wagner Tiso, cuja mãe lhe deu as primeiras noções de piano. Trabalhou na Rádio Três Pontas como DJ, locutor e diretor e em 1963 e 64 participou do grupo W's Boys, que se denominava assim porque os nomes de todos os integrantes começavam com W: Wagner (Tiso), Waltinho, Wilson, Wanderley, o que obrigou Milton a se tornar "Wilton" por algum tempo. Transferiu-se para Belo Horizonte a fim de estudar Economia, e lá conheceu alguns músicos que viriam a ser seus parceiros, como Márcio Borges, seu irmão Lô Borges e Fernando Brant. Na capital mineira participou de diversos conjuntos e foi em 1965 para o Rio de Janeiro, onde chegou a gravar com o grupo Sambacana. Participou de festivais em 1966 e 67, quando obteve o segundo lugar com "Travessia", sua e de Fernando Brant, e ganhou o prêmio de melhor intérprete. Gravou o primeiro disco nesse mesmo ano, viajando em seguida para os Estados Unidos, onde grava "Courage", em 1968. A partir daí gravou discos que marcarm época, como "Milton", "Minas", "Gerais" "Milagre dos Peixes" e os dois volumes de "Clube da Esquina", que acabaram intitulando toda a geração mineira emergente; Lô Borges, Beto Guedes, Toninho Horta, Wagner Tiso, Nivaldo Ornellas, Nelson Ângelo, Tavito e outros. Nos anos 70 teve algumas músicas censuradas pelo regime militar e gravou outros discos nos EUA, com a participação de Airto Moreira, Herbie Hencock, Wayne Shorter e outros. É considerado, tanto no Brasil quanto no exterior, um dos maiores cantores da música brasileira, além de ser um compositor consagrado, que influenciou toda uma geração de músicos. Em 1998 ganhou o Grammy na categoria World Music com seu disco "Nascimento". Entre seus maiores sucessos estão "Caçador de Mim" (Luís Carlos Sá/ Sérgio Magrão), "Nos Bailes da Vida", "San Vicente", "Bola de Meia Bola de Gude" (com F. Brant), "Canção da América" (com F. Brant), "Coração de Estudante" (com W. Tiso), "Fé Cega, Faca Amolada" (com Ronaldo Bastos), "Maria Maria" (com F. Brant), "Paula e Bebeto" (com Caetano Veloso), "Ponta de Areia" (com F. Brant), "Milagre dos Peixes" (com F. Brant), "Beijo Partido" (com Toninho Horta), "Tudo Que Você Podia Ser" (Lô Borges/ Márcio Borges), "Sentinela" (com F. Brant), "Um Girassol da Cor do Seu Cabelo" (L. Borges/ M. Borges), "Cais" (com R. Bastos), "Encontros e Despedidas" (com F. Brant), "O Cio da Terra" (com Chico Buarque), "Calix Bento" (Tavinho Moura), "Nada Será como Antes" (com R. Bastos), "Fazenda" (com Nelson Ângelo) e "Cravo e Canela" (com R. Bastos).

CERTAS CANÇÕES

(Tunai/ Milton Nascimento)

Certas canções que ouço
Cabem tão dentro de mim
Que perguntar carece:
"Como não fui eu que fiz?!"
Certa emoção me alcança
Corta-me a alma sem dor
Certas canções me chegam, ôô
Como se fosse o amor
Contos da água e do fogo
Cacos de vida no chão
Cartas do sonho do povo
E o coração do cantor
Vida e mais vida ou ferida,
Chuva, outono ou mar,
Carvão e giz, abrigo,
Gesto molhado no olhar
Calor, que invade, arde, queima
Encoraja, amor
Que invade, arde, carece de cantar
Calor Que invade, arde, queima
Enconraja, amor
Que invade, arde, carece de cantar...


MARIA BETHÂNIA E SEUS LIVROS





MILTON NASCIMENTO

terça-feira, 27 de março de 2007

TEMPO

Tempo
notícias de inverno no ceará onde o sol tosta turistas


Hoje cedo amanheceu nublado. Neblinou, até...
Pingos de chuva fizeram poesia na janela do quarto.
No jornal,
Por essas bandas, o inverno é mais esperado
que menino novo em casa de muita prole.
As nuvens, pelo menos, andam grávidas.
Elas chegam,
arrastam-se pelo céu cinzento,
mas acabam sendo espanadas pelo vento aracatí, sem rumo certo.
No céu do Ceará, o sol esquenta seu calor, o couro de mil turistas.

segunda-feira, 26 de março de 2007

AO POETA POETINHA VINÍCIUS DE MORAES


AO POETA, POETINHA VINICIUS

Nem ais, eu, posso dizer mais
Quanto mais dizer Vinicius

Quantos vícios na arte de viver?
Quanta arte no vício de sentir?
Quanto sentir na arte do vício?

Só posso ser o sítio de ouvir
A arte do encanto
Que descubro no seu canto
Que sinto no seu sentir

Quanta vida terá ficado por viver?
Quanto verso virgem por escrever?
Quanta mulher ficou por descrever?
Quanta canção não escrita por saber?

Nem ais, eu posso mais dizer
Quanto mais dizer Vinicius

Quanta bossa no samba do poeta?
Quanta raça vai da branca à preta?
Quantas rimas na rima do poema?
Quantas garotas, há ainda em Ipanema?

Brancas de todas as cores
Pretas de todas as dores
Lindas de todos os amores
Feias de todos os sabores

Quanto me falta ainda descobrir?
Quanto me falta ainda por sentir?
Quanto Saravah distribuir?
Na vida toda que está por vir?

Ah! Meu poeta, poetinha
A tua vida toda não foi minha
Camarada no caminho que caminha
Eu não sou mancha, nem sequer manchinha

Apenas aprendiz de poesia
Sinto em cada tua melodia
A arte maior de cada dia
O amor que apenas tu podia

Que posso eu dizer mais? Nem ais…
Vinicius foi em si, tudo o que eu queria!




domingo, 25 de março de 2007

CATENDE


Catende fica a 142km de Recife, na Mesorregião da Mata Pernambucana. Faz fronteira com Palmares. Sim, a Palmares do Quilombo, do rei Zumbi. E vive da agro-indústria açucareira (cana-de-açúcar).
"- Vou danado pra Catende,
vou danado pra Catende,
vou danado pra Catende
com vontade de chegar..."
(Ascendino Ferreira)

A canção do africano
















Lá na úmida senzala,
Sentado na estreita sala,
Junto ao braseiro, no chão,
Entoa o escravo o seu canto,
E ao cantar correm-lhe em pranto
Saudades do seu torrão ...


De um lado, uma negra escrava
Os olhos no filho crava,
Que tem no colo a embalar...
E à meia voz lá responde
Ao canto, e o filhinho esconde,
Talvez pra não o escutar!


"Minha terra é lá bem longe,
Das bandas de onde o sol vem;
Esta terra é mais bonita,
Mas à outra eu quero bem!


"0 sol faz lá tudo em fogo,
Faz em brasa toda a areia;
Ninguém sabe como é belo
Ver de tarde a papa-ceia!


"Aquelas terras tão grandes,
Tão compridas como o mar,
Com suas poucas palmeiras
Dão vontade de pensar ...


"Lá todos vivem felizes,
Todos dançam no terreiro;
A gente lá não se vende
Como aqui, só por dinheiro".


O escravo calou a fala,
Porque na úmida sala
O fogo estava a apagar;
E a escrava acabou seu canto,
Pra não acordar com o pranto
O seu filhinho a sonhar!


............................


O escravo então foi deitar-se,
Pois tinha de levantar-se
Bem antes do sol nascer,
E se tardasse, coitado,
Teria de ser surrado,
Pois bastava escravo ser.


E a cativa desgraçada
Deita seu filho, calada,
E põe-se triste a beijá-lo,
Talvez temendo que o dono
Não viesse, em meio do sono,
De seus braços arrancá-lo!

AS MÃOS (Manoel Alegre)

















Com mãos se faz a paz se faz guerra.

Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema - e são de terra.
Com mãos se faz a guerra - e são a paz.

Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas, mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.

E cravam-se no tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.

De mãos é cada flor, cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.