sábado, 6 de dezembro de 2008

DEPOIS DE MAIAKOVSKI...

DEPOIS DE MAIAKOVSKI...
Depois de Maiakovski…
Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.
Bertold Brecht (1898-1956)



Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu.
Como não sou judeu, não me incomodei.
No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho que era comunista.
Como não sou comunista, não me incomodei .
No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico.
Como não sou católico, não me incomodei.
Martin Niemöller, 1933
- símbolo da resistência aos nazistas.


Primeiro eles roubaram nos sinais, mas não fui eu a vítima,
Depois incendiaram os ônibus, mas eu não estava neles;
Depois fecharam ruas, onde não moro;
Fecharam então o portão da favela, que não habito;


Em seguida arrastaram até a morte uma criança, que não era meu filho...

O que os outros disseram, foi depois de ler Maiakovski.
Incrível é que, após mais de cem anos, ainda nos encontremos tão desamparados, inertes, e submetidos aos caprichos da ruína moral dos poderes governantes, que vampirizam o erário, aniquilam as instituições, e deixam aos cidadãos os ossos roídos e o direito ao silêncio : porque a palavra, há muito se tornou inútil…
- até quando?...
A.D.

A DANÇA DA MORTE // FERNANDA TORRES



A dança da morte
Fernanda Torres

A peça Seria Cômico Se Não Fosse Sério, de Friedrich Dürrenmatt, foi o melhor espetáculo teatral que meus pais produziram em anos e anos de parceria. Baseada na Dança da Morte, do dramaturgo sueco August Strindberg, ela se passa no início do século passado e conta a história de um general aposentado, Edgar, e sua esposa, Alice, que vivem às turras, isolados em um farol. Um dia, o casal recebe a visita de um primo mafioso, que se esconde com eles no alto da torre. Depois de desassossegar a vida dos dois por doze vertiginosos rounds, o primo cafajeste se manda, devolvendo o par à sua mais derradeira solidão.
Jamais vou esquecer meu pai com barbas de Matusalém, vestido de general da I Guerra, dançando furiosamente a Dança dos Boiardos. Era sensacional. Lá pelo fim do espetáculo, Edgar se levantava louco, altivo, e dizia:
– Agora vou dançar a Dança dos Boiardos!
E começava uma coreografia ensandecida, meio russa, meio gaúcha, pulando em torno de uma espada no chão. Querendo exibir vigor ao primo escroque da esposa, Edgar dança até o limite de suas forças e acaba sofrendo um AVC. A peça termina com Edgar numa cadeira, seqüelado pelo derrame, e Alice arrumando a desordem da casa por causa da passagem do primo.
Era de uma beleza terrível, cortante, teatro com T maiúsculo. Quem viu sabe. Como com teatro não se brinca, havia ali o prenúncio de algo que viria a acontecer com meus pais anos depois, só que de maneira muito mais doce, amorosa e redentora. Minha mãe cuidaria dele, e ele dela; mais ela dele, por problemas de saúde, no terço final de seus 57 anos de casados. Uma amiga gostava de dizer que meu pai ainda estava vivo porque minha mãe e ele queriam assim.
Em 1986 meu pai sofreu um primeiro derrame, não detectado, durante a representação da tragédia grega Fedra. Ele esqueceu o texto em cena e, como a neurologia ainda engatinhava, levamos anos para entender que não era um problema psíquico, mas físico, o início de sua dança da morte, que levou vinte anos para acontecer.
Meu pai é um mistério tão grande para mim que fica difícil falar dele numa crônica. Mas, como estou chegando à conclusão de que todo pai é um mistério para os filhos, ao contrário das mães, que são desabridas, arrisco aqui um modesto perfil.
Dono de um humor cortante, que seria cômico se não fosse sério, doce e sádico, careta e maluco, velho e criança, meu pai foi produtor, diretor e ator, um homem dedicado a todas as facetas do teatro. Teve coragem de largar a medicina, enfrentando o pai médico e político dos tempos da política do café-com-leite, para fazer parte dessa profissão etérea. Dizem que o estalo se deu no trote da faculdade, quando em plena Cinelândia ele gritou: "Fiat Lux!". E as luzes da praça se acenderam numa sincronicidade cósmica. Foi ali, logo de cara, que perdemos um médico e ganhamos um diretor. Devo a ele toda a minha curiosidade científica, devo a ele dizer o que penso, devo a ele o cinema, a infância, Veneza, Machu Picchu, Buenos Aires e as montanhas russas. Devo ao meu pai tudo o que sou que não é ser atriz, e certamente devo ao meu pai a promessa de alguma serenidade diante da velhice e da morte.
Como ele adoeceu há muito tempo, as lembranças do homem de teatro, do pai jovem e doidão, do barbudo enraivecido pela censura de Calabar se misturam fortemente com as do Fernando de saúde frágil com quem convivi nos últimos tempos. É muito difícil para um filho lidar com a doença de seu pai. Por isso, gostaria de agradecer às muitas pessoas que nos ajudaram nesse período, em especial à Roberta, sua fisioterapeuta, aos enfermeiros Jorge e Cristiano e, acima de todos, à doutora Lúcia Braga, do Hospital Sarah Kubitscheck, que deu ao meu pai cinco, seis, dez anos a mais de vida, libertando-o dos especialistas em doenças, cortando catorze medicamentos e colocando no lugar o teatro, os barcos, o pingue-pongue e a vida; e à doutora Claudia Burlá, geriatra, especialização cuja profundidade só fui entender na noite em que meu pai morreu, em casa, conosco em torno dele, e com ela. Sem tubos, sem CTIs, sem prolongadores artificiais de respiração ou batimentos cardíacos. Foi ela que mandou chamar a mim e ao meu irmão, foi ela quem nos ajudou. A morte do meu pai foi uma experiência tão caseira, humana, pacífica e acolhedora, apesar do sofrimento e da dor, que me fez por alguns segundos achar que esse absurdo que é a morte, afinal de contas, pode fazer parte da vida.
Um salva de palmas para ele. Foi um guerreiro discreto, forte e corajoso. Espero conseguir ser assim quando chegar a hora de eu dançar a minha Dança dos Boiardos.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Tarde em Itapuã - Live concert 18/10/78 - Tom Jobim - Vinícius - Toquinho - Miucha

Samba de Avião - Live concert 18/10/78 - Tom Jobim - Vinícius de Moraes - Toquinho - Miucha

Desafinado - Live concert 18/10/78 - Tom Jobim - Vinícius de Moraes - Toquinho - Miucha

Água de beber - Live concert 18/10/78 - Tom Jobim - Vinícius de Moraes - Toquinho - Miucha



O primeiro encontro entre o diplomata Vinicius de Moraes e o jovem - e já afamado - compositor Antonio Carlos Jobim aconteceu em um bar no centro do Rio de Janeiro , em 1956. Desta parceria nasceram belas composições que se tornaram conhecidas em todo o mundo, tais como - Felicidade - Garota de Ipanema - Chega de Saudade, entre tantas outras. Gravado em 18 de outubro de 1978, esse concerto é um registro inédito, raro e único da apresentação destes dois - monstros sagrados - da música brasileira nos estúdios da RTSI televisione svizzera. o show - que tem participação especial de Toquinho e Miúcha - reúne grandes sucessos da dupla Vinícius & Jobim, além da parceria destes com outro autores, entre eles Chico Buarque e Caetano Veloso, No repertório canções como: Tarde em Itapuã, Desafinado, wave, águas de março, samba do avião, o que será e muito mais. Além do próprio Jobim ao piano e de Toquinho no violão,os músicos Azeitona - baixo - Mutinho - bateria - Roberto Sion - flauta e sax - e Georgina de Moraes - percusão - mostram ao mundo toda a elegância e a beleza da musica brasileira. vai levando samba para vinícius a felicidade água de beber sei lá berimbau consolação canto de ossanha Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim (Rio de Janeiro, 25 de janeiro de 1927 — Nova Iorque, 8 de dezembro de 1994), mais conhecido como Tom Jobim, foi um compositor, maestro, pianista, cantor, arranjador e violonista brasileiro.

É considerado um dos maiores expoentes da música brasileira e um dos criadores do movimento da Bossa Nova. Tom Jobim é um dos nomes que melhor representa a música brasileira na segunda metade do século XX e é praticamente uma unanimidade entre críticos e público em termos de qualidade e sofisticação musical.Dorival Caymmi (Salvador, 30 de abril de 1914 — Rio de Janeiro, 16 de agosto de 2008) foi um cantor, compositor, pintor e ator brasileiro.

Compôs inspirado pelos hábitos, costumes e as tradições do povo baiano[1]. Tendo como forte influência a música negra, desenvolveu um estilo pessoal de compor e cantar, demonstrando espontaneidade nos versos, sensualidade e riqueza melódica. Morreu em 16 de agosto de 2008, aos 94 anos, em casa, às seis horas da manhã, por conta de insuficiência renal e falência múltipla dos orgãos em consequência de um câncer renal que possuia há 9 anos.[2]. Permanecia em internação domiciliar desde dezembro de 2007.

Poeta popular, compôs obras como Marina, Modinha para Gabriela, Maracangalha, Saudade de Itapuã, O Dengo que a Nega Tem, Rosa Morena. Filho de Durval Henrique Caymmi e Aurelina Soares Caymmi, era casado com Adelaide Tostes, a cantora Stella Maris. Todos os seus três filhos são também cantores: Dori Caymmi, Danilo Caymmi e Nana Caymmi Marcus Vinicius da Cruz de Melo Moraes (Rio de Janeiro, 19 de outubro de 1913 — Rio de Janeiro, 9 de julho de 1980) foi um diplomata, jornalista, poeta e compositor brasileiro.

Poeta essencialmente lírico, o poetinha (como ficou conhecido) notabilizou-se pelos seus sonetos, forma poética que se tornou quase associada ao seu nome. Conhecido como um boêmio inveterado, fumante e apreciador do uísque, era também conhecido por ser um grande conquistador. O poetinha casou-se por nove vezes ao longo de sua vida.

Sua obra é vasta, passando pela literatura, teatro, cinema e música. No campo musical, o poetinha teve como principais parceiros Tom Jobim, Toquinho, Baden Powell e Carlos Lyra.Antonio Pecci Filho, conhecido como Toquinho, (São Paulo, 6 de julho de 1946) é um cantor, compositor e violonista brasileiro. Ganhou o hipocorístico Toquinho da mãe e já aos quatorze anos começou a ter aulas de violão com Paulinho Nogueira. Estudou harmonia com Edgar Janulo, violão clássico com Isaías Sávio e fez curso de orquestração com Léo Peracchi. Teve aulas e tornou-se amigo de Oscar Castro Neves.Heloísa Maria Buarque de Hollanda (Rio de Janeiro, 30 de novembro de 1937), mais conhecida como Miúcha, é uma cantora e compositora brasileira.

Filha do historiador neerlando-brasileiro[1] Sérgio Buarque de Holanda com Maria Amélia Cesário Alvim e irmã do cantor e compositor Chico Buarque e das também cantoras Ana de Hollanda e Cristina Buarque.

Samba para Vinícius - Live concert 18/10/78 - Tom Jobim - Vinícius de Moraes - Toquinho - Miucha

Vai Levando - Live concert 18/10/78 - Tom Jobim - Vinícius de Moraes - Toquinho - Miucha

A Felicidade - Live concert 18/10/78 - Tom Jobim - Vinícius de Moraes - Toquinho - Miucha

Caetano Veloso Mis Lagrimas Disco Cê

Guilherme Jabur Mostra CS Disparada com Jair Rodrigues

AQUARIO MARINHO

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

BIA LESSA , SÉRGIO SANTANA, FERNANDA TORRES, CLÁUDIA ABREU, JÚLIA LEMMERTZ EM "ORLANDO "





Bia Lessa
Diretora de teatro e cinema, estreou na direção de longas-metragens comCrede-mi, co-dirigido com Dany Roland, livremente adaptado de O eleito, de Thomas Mann. Dirigiu também o vídeoO outro processo. No teatro, adaptou textos literários, com destaque para Orlando (Virginia Woolf) e O homem sem qualidades (Robert Musil). Dirigiu ainda peças como As três irmãs (Tchecov) e óperas como Suor Angélica (Puccini) e Don Giovanni (Mozart). Foi responsável pela concepção artística do pavilhão do Brasil na Expo de Hannover (2000), do módulo Barroco na Mostra do Redescobrimento (2000) e do Grande Prêmio Cinema Brasil (2000). Paulista de 1958, representou o Brasil nos festivais internacionais de teatro de Munique, Hamburgo, Paris, Bordeaux, Zurique, Caracas, Madrid, Montreal e Toronto. Em 2002, realizou uma peça-filme, Casa de bonecas, de Ibsen, filmada em vídeo, apresentada num teatro, e com os momentos finais no palco, ao vivo. Em 2003 monta um documentário sobre a mulher brasileira, com título provisórioBrasil 2003. Dirigiu o documentário em vídeo Maria Bethânia – Brasileirinho ao vivo (2004). No mesmo ano, assumiu a direção artística do Teatro Dulcina, no Rio de Janeiro, onde montou Orlando (do texto de Virginia Woolf, com Betty Goffman) e Medéia (de Eurípides, protagonizada por Renata Sorrah). Em 2005, dirigiu o show Tempo tempo tempo tempo, em que Maria Bethânia comemorou seus 40 anos de carreira. Criou ainda a instalação Claro explícito, que estreou no Itaú Cultural, em São Paulo.

Simone e Zélia Duncan - Amigo é Casa 2008




Amigo é feito casa que se faz aos poucos
e com paciência pra durar pra sempre
Mas é preciso ter muito tijolo e terra
preparar reboco, construir tramelas
Usar a sapiência de um João-de-barro
que constrói com arte a sua residência
há que o alicerce seja muito resistente
que às chuvas e aos ventos possa então a proteger
E há que fincar muito jequitibá
e vigas de jatobá
e adubar o jardim e plantar muita flor toiceiras de resedás
não falte um caramanchão pros tempos idos lembrar
que os cabelos brancos vão surgindo
Que nem mato na roceira
que mal dá pra capinar
e há que ver os pés de manacá
cheínhos de sabiás
sabendo que os rouxinóis vão trazer arrebóis
choro de imaginar!
pra festa da cumieira não faltem os violões!
muito milho ardendo na fogueira
e quentão farto em gengibre
aquecendo os corações
A casa é amizade construída aos poucos
e que a gente quer com beira e tribeira
Com gelosia feita de matéria rara
e altas platibandas, com portão bem largo
que é pra se entrar sorrindo
nas horas incertas
sem fazer alarde, sem causar transtorno
Amigo que é amigo quando quer estar presente
faz-se quase transparente sem deixar-se perceber
Amigo é pra ficar, se chegar, se achegar,
se abraçar, se beijar, se louvar, bendizer
Amigo a gente acolhe, recolhe e agasalha
e oferece lugar pra dormir e comer
Amigo que é amigo não puxa tapete
oferece pra gente o melhor que tem e o que nem tem
quando não tem, finge que tem,
faz o que pode e o seu coração reparte que nem pão.

AS ROSAS NÃO FALAM - CARTOLA

FLORES - Zélia Duncan

Distração - Zélia Duncan

Zélia interpreta "Cuide se bem" de Guilherme Arantes no show Amigo é Casa em Brasília dia 27/09/2008

ZD e Simone cantando Vento Nordeste

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

"ACHEI UMA ESTELA CAÍDA"

Numa manhã de segunda,nebulosa,úmida e quase fria...

Andava a cruzar uma pequena ponte,

era Março...sobre riachinho tão cheio de alegria!

Um caminho entre sítios, roças, eu descalço,cercado por gentes simples, mas arredia

Desconfiadas de todo novo ente, urbano, forasteiro, intruso...

Seus olhares, seus gestos... O que querias?

Cono muralha, todo o vale era abraçado por inúmerase belas colinas, verdes e serenas, tal mosteiro!

Estas montanhas e cumes tornavam nossa pequenez tão fértil e vadia, na paisagem amena! Vi quimeras...

"Que adianta tanto conhecimento e sede de vontades tão díspares?

Que ínfima existência, serdes humus, talvez?

"Assim, pelas trilhas vagava, aos sons de pássaros, vivas vidas, distraído e absorto, até meus olhos serem

assombradospor radiante brilho que emanava do milharal abandonado...

Era esta pequena flor do campo! Se erguia como trepadeira que pela haste do milho, como uma amante

pendurada ao peito de raro, único amigo, só querendo ser notada...

Um silêncio tão profundo quanto demorado fez-me admirar tão bela florzinha que me falava, sussurrando

docemente:"Viste-me sem maquiagem, espiaste minha intimidade

Agora leve consigo meus rubros vestidos tão sem idade

Aos demais que nunca me viram, nem experimentaramquer a cor ou o formato, ou o perfume que te calaram!

Mas ao levar e dividir-me, com os "nunca vi", mostre-lhes mais!AQUILO!

A verdade, beleza por trás de todas coisas tão Reais!

Sou uma estrela caída, aprisionada nestes esquecidos vales...

Obrigada a decorar tão injusta prisão e o mais vil dos Males:Estar apartada, divorciada de tua Origem, de tua

Luz-Pátria!Explicai a todos: ninguém aqui VIVE, senão sendo Párias!

Vê minha veste? Como está reduzida? Foi me subtraída...Por legiões de parasitas e de Tiranos, assim que me vi

caída...Estes, sem vida própria, são seres sem Lume, sugam apenasO néctar, a seiva e toda essência de Todos,

sem penas...Se te emocionas,viajor, melhor ainda é a tua forma mesma!Pois és própria imagem, a eões: da

razão suprema!Porém, anos neste cárcere,degenerastes a bela veste dada.mais lindíssima e excelsa que as

minhas: ó dádiva Iluminada!Seguimos, ó andarilho, vereda tão efêmera como a vida minha!Mas lembre-se de

meu estelar aspecto, ainda tão pequeninha,Erga a fronte, vença limitações, assuma de onde vens!

"És filho de Rei, não sois escravos! Guie-se na filiação, teus Gens!

"Não te acomodes, nem resignes com teu corpo e cadeias da matéria!Lute! Principalmente em si mesmo,

diariamente, é aí que reina a miséria!Limpe vosso templo, tão energicamente como quem ara a terra, o

campo!Só assim, as verdadeiras sementes brotarão e se elevarão ao Espaço Amplo!

Siga, agora, carregando-me em seu coração, e nele irrompendo sem hesitação!E nos veremos em breve, fora

daqui, alhures, onde há Paz e contemplação!Pois vida devota a Deus, não são discursos ou imitações:

Transfiguração!

Eis minha oblação aos teus olhos, Cidadão, voemos à nossa Mansidão!"


Autoria wiliam

Simone - Sangrando (ao vivo)

Simone - Gota d'agua

SIMONE BITTENCOURT DE OLIVEIRA / Chega de Mágoa

SIMONE BITTENCOURT DE OLIVEIRA / Maria Maria

O CASO DO POEMA ROUBADO

O caso do poema roubado - Cora Ronai
Quem poderia adivinhar o que havia dentro do pacote que apareceu no sítio? Há coisa de dois ou três meses apareceu, no portão do sítio, um pacote grande, embrulhado num saco de lixo preto. Ninguém viu quem trouxe. Amanheceu e estava lá. Assim que foi notado, ficaram todos da casa, bípedes e quadrúpedes, muito cabreiros com a sua presença. Nos dias de hoje, ninguém vê com confiança ou simpatia pacotes grandes, embrulhados em sacos de lixo pretos.
Os cachorros cheiraram e latiram, os gatos mantiveram distância, o Dirceu olhou de longe, cutucou com uma vareta, chamou Mamãe. O conteúdo parecia ser duro, sólido, como madeira. Não era nada morto, com certeza. E não parecia ser bomba, muito embora ninguém da família tenha a mais remota idéia de como seja uma bomba, salvo pelo que se vê no cinema e nos desenhos animados.
Finalmente, depois de mais cutucadas e de muita hesitação, o pacote foi trazido para dentro, e aberto com o cuidado que a desconfiança recomendava. Quando o conteúdo se revelou, surpresa total: quem poderia imaginar que um poema roubado há 30 anos voltasse ao lar daquela maneira?!
* * *
Quando o sítio ficou pronto, em princípios dos anos 60, uma das
Primeiras providências dos meus pais foi espalhar pelo jardim e pela floresta uma dúzia de poemas. Papai os selecionava, Mamãe os pintava em tabuletas e ambos escolhiam juntos, com capricho, as árvores e os cantinhos onde seriam expostos. Passear pelo sítio era como entrar numa pequena antologia sentimental.
Com o tempo, as tabuletas foram sumindo. Algumas queimaram junto com as suas árvores nos incêndios que, há alguns anos, eram comuns na região e que, apesar dos esforços do pessoal lá de casa, eventualmente atingiam partes do terreno. Outras foram vítimas do tempo. A maioria, porém, desapareceu sem deixar vestígios.
* * *
O poema devolvido chama-se "Casa antiga", foi escrito em 1964 por minha madrinha Cecília Meireles e dedicado a Nora e Paulo Ronai:
Forrarei tua casa já tão antiga com um papel que imita as paredes de tijolo.
Ficará tão lindo como se estivéssemos na Holanda.
Forrarei tua casa assim, mas por dentro,
De modo que, longe de todas as vistas,
Será como se estivéssemos ao ar livre, no jardim.
E deixarei uma parede quebrada ? não uma porta, não uma janela:
Uma parede quebrada por onde passe um ramo de goiabeira
Carregado de flores e vespas.
Parecerá que estamos sonhando,
E estamos sonhando mesmo,
E parecerá que estamos vivendo,
E a vida não é mesmo um sonho impossível?
* * *
Dentro do pacote, junto com a tabuleta, veio um bilhete escrito em
letra pouco cultivada, na folha arrancada de um caderno. Dizia o
seguinte: "Quando era menino achei este quadro lindo, pelo poema. Peço perdão por ter roubado este quadro. Hoje sinto necessidade de devolvê-lo. Sinto-me envergonhado pela minha atitude. Mais era só um menino. Peço perdão a Deus e a vocês. E que vocês também consigam perdoar."
Não havia nome, assinatura, nada. Ficamos com muita pena, pois
teríamos gostado de conhecer e abraçar o menino antigo que roubou o poema e o homem correto que o devolveu, passados tantos anos. Mal sabe ele que nos deu um presente muito maior do que o que levou: um mundo onde crianças roubam poemas e adultos os devolvem é um mundo de beleza e de esperança.

(O Globo, Segundo Caderno, 4.1.2006)