quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Martinho da Vila e Jorge Aragão

El Negro de la Costa

La Furia Oaxaqueña - El Barco Camaronero (Video 1) Chilenas

MEU GURI - CHICO BUARQUE DE HOLANDA

Quem te viu, quem te vê

Chico Buarque - Homenagem ao malandro

Conversa de botequim - Chico Buarque

Aniversário

Aniversário

Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos)

[473]
No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas
lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais       copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...

15/10/1929

Sophia de Mello Breyner Andresen Retrato de uma princesa desconhecida

Sophia de Mello Breyner Andresen


Retrato de uma princesa desconhecida
Para que ela tivesse um pescoço tão fino
Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule
Para que os seus olhos fossem tão frontais e limpos
Para que a sua espinha fosse tão direita
E ela usasse a cabeça tão erguida
Com uma tão simples claridade sobre a testa
Foram necessárias sucessivas gerações de escravos
De corpo dobrado e grossas mãos pacientes
Servindo sucessivas gerações de príncipes
Ainda um pouco toscos e grosseiros
Ávidos cruéis e fraudulentos
Foi um imenso desperdiçar de gente
Para que ela fosse aquela perfeição
Solitária exilada sem destino

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Em plena vida e violência / Fernando Pessoa

Fernando Pessoa

Em plena vida e violência
Em plena vida e violência
De desejo e ambição,
De repente uma sonolência
Cai sobre a minha ausência.
Desce ao meu próprio coração.

Será que a mente, já desperta
Da noção falsa de viver,
Vê que, pela janela aberta,
Há uma paisagem toda incerta
E um sonho todo a apetecer ?

XLVIII - Da Mais Alta Janela da Minha Casa ALBERTO CARREIRO

Alberto Caeiro

XLVIII - Da Mais Alta Janela da Minha Casa

    Da mais alta janela da minha casa
     Com um lenço branco digo adeus
     Aos meus versos que partem para a Humanidade.

     E não estou alegre nem triste.
     Esse é o destino dos versos.
     Escrevi-os e devo mostrá-los a todos
     Porque não posso fazer o contrário
     Como a flor não pode esconder a cor,
     Nem o rio esconder que corre,
     Nem a árvore esconder que dá fruto.

     Ei-los que vão já longe como que na diligência
     E eu sem querer sinto pena
     Como uma dor no corpo.

     Quem sabe quem os terá?
     Quem sabe a que mãos irão?

     Flor, colheu-me o meu destino para os olhos.
     Árvore, arrancaram-me os frutos para as bocas. 
     Rio, o destino da minha água era não ficar em mim. 
     Submeto-me e sinto-me quase alegre,
     Quase alegre como quem se cansa de estar triste.

     Ide, ide de mim!
     Passa a árvore e fica dispersa pela Natureza.
     Murcha a flor e o seu pó dura sempre.
     Corre o rio e entra no mar e a sua água é sempre a que foi sua.

     Passo e fico, como o Universo.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

ANA CAROLINA



*barbarella* disse...

sensacional seu blog

14 de Janeiro de 2008 05:28