sábado, 2 de junho de 2007

A Distância / Toquinho

A Distância

A distância é forte como o vento
Faz esquecer de quem já não se ama.
Pensar que já passou mais de ano e meio
E você queima em mim como uma chama.

E eu que pensei que o tempo fosse amigo
E confiei demais no esquecimento.
Tento te esquecer e não consigo
Um só momento.

Rosa Morena / Dorival Caymmi



Rosa Morena
Dorival Caymmi


Rosa Morena, onde vais morena Rosa
Com essa rosa no cabelo e esse andar de moça prosa
Morena, morena Rosa
Rosa morena o samba está esperando
Esperando pra te ver
Deixa de lado esta coisa de dengosa
Anda Rosa vem me ver
Deixa da lado esta pose
Vem pro samba vem sambar
Que o pessoal tá cansado de esperar
Ô Rosa, que o pessoal tá cansado de esperar
Morena Rosa, que o pessoal tá cansado de esperar
Viu Rosa, que o pessoal tá cansado de esperar

PAZ / ROSA PENA


Sem vergonha
A paz finalmente invadiu o meu coração.
Vejo o quanto Deus tem me dado. E como por vezes esqueci de dizer obrigada.
Olho o sol e sorrio. Será que de longe eu vejo melhor?
Relembro o ontem tão perto e agora distante. O lançamento de meu livro novo, tantos amigos, minha família tão linda ao meu lado e eu me prendendo em duas ou três pessoas que não conseguem ver esse sol que se expõe só para quem tem olhos pra vê-lo.
Penso em meus ídolos, penso sem pretensão alguma que talvez eu já tenha virado uma referência para alguns. Se assim for , lógico que vem cobrança. Eu tenho que aprender a conviver com ela, ainda que por vezes ela machuque, mas merthiolate é incolor e nem arde mais. Passo um pouco nas antigas feridas e sigo agradecida a Deus e bem atrevida nas letras, na vida.Quanta coisa vou ter pra contar quando voltar pro meu lar.
Minha filha antes deu viajar disse-me: Mãe você é o maior barato.Só isso já vale um fã clube.

Vou de Mãos Dadas com Drummond e com quem mais quiser me dar a mão.
A vida é bonita , é bonita, é bonita . Você sempre teve razão Gonzaguinha.
Muito sem vergonha de ser feliz é bom demais.

Mãos Dadas / Carlos Drummond de Andrade

Mãos Dadas
Carlos Drummond de Andrade

Não serei o poeta de um mundo caduco;
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela, não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida, não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.

O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.

SAUDADES

SAUDADES



Ando com saudades de café com pão;
de namorados dando beijinhos
no portão;
de pedir bênção a pai e mãe
(Deus te abençoe);
do sinal-da-cruz que fazia quando passava na frente da igreja;

de ver um varal cheio de roupa com cheiro apenas de sabão;
de ver alguém sorrindo enquanto lava a louça com bucha vegetal;
de sentir respeito pela polícia;
de cantar o Hino Nacional com mão no peito e lágrimas nos olhos;
de acreditar que o Brasil ganhou a Copa do Mundo porque jogou direito;
de saber que o Zezinho, filho do porteiro, não vai morrer de dengue;
e que Maria feirante poderá ter um filho médico.
Saudades de homens que usavam apenas o assobio como galanteio.


Fiu-fiu!


Morro de saudades do tempo em que um presidente de uma nação era o mais respeitado cidadão do país.
Que cadeia era lugar só de ladrão.
Acho que andaram invertendo a situação.


Ando com saudades de galinha de galinheiro;
de macarrão feito em casa com tempero sem agrotóxico;
de só poder tomar guaraná em dia de festa;
de homens de gravatas;
de novela com final feliz;
de pipoca doce de pipoqueiro;
de dar bom-dia à vizinha;
de ouvir alguém dizer obrigado ao motorista e ele frear devagarinho, preocupado com o passageiro.
Saudades de gritar que a porta está aberta para os que chegam.

Um saco destrancar tanto papaiz.


Saudades do tempo em que educação não era confundida com autenticidade.
Hoje, se fala o que quer em nome de uma "tal" verdade e pedir perdão virou raridade.


Ando com saudades de ver no céu pipas não atingidas pelo efeito estufa.
Saudades das chuvas sem acidez, que não causavam aridez.
Saudades de poder viajar sem medo
de homem-bomba, de ser recebida
com pompa em outra nação.


Atualmente, reina a desconfiança
no coração.
Sinto muitas saudades do rubor das faces de minha mãe quando se falava de sexo totalmente sem nexo.
Hoje, ele é tão banal que até
eu banalizei.
Acho que a maior saudade que tenho
é a saudade de tudo que acreditei.
Para minha filha não poderei deixar sequer a esperança.
Hoje, já não se nasce criança.




Eu apenas queria que você soubesse
Que aquela alegria ainda está comigo
E que a minha ternura não ficou na estrada
Não ficou no tempo presa na poeira

Eu apenas queria que você soubesse
Que esta menina hoje é uma mulher
E que esta mulher é uma menina
Que colheu seu fruto flor do seu carinho

Eu apenas queria dizer a todo mundo que me gosta
Que hoje eu me gosto muito mais
Porque me entendo muito mais também

E que a atitude de recomeçar é todo dia toda hora
É se respeitar na sua força e fé
E se olhar bem fundo até o dedão do pé

Eu apenas queira que você soubesse
Que essa criança brinca nesta roda
E não teme o corte de novas feridas
Pois tem a saúde que aprendeu com a vida

Eu apenas queria que você soubesse
Que aquela alegria ainda está comigo
E que a minha ternura não ficou na estrada
Não ficou no tempo presa na poeira

Eu apenas queria que você soubesse
Que esta menina hoje é uma mulher
E que esta mulher é uma menina
Que colheu seu fruto flor do seu carinho

Eu apenas queria dizer a todo mundo que me gosta
Que hoje eu me gosto muito mais
Porque me entendo muito mais também

sexta-feira, 1 de junho de 2007

A Hora Íntima / Vinicius de Moraes



Quem pagará o enterro e as flores
Se eu me morrer de amores?
Quem, dentre amigos, tão amigo
Para estar no caixão comigo?
Quem, em meio ao funeral
Dirá de mim: – Nunca fez mal...
Quem, bêbedo, chorará em voz alta
De não me ter trazido nada?
Quem virá despetalar pétalas
No meu túmulo de poeta?
Quem jogará timidamente
Na terra um grão de semente?
Quem elevará o olhar covarde
Até a estrela da tarde?
Quem me dirá palavras mágicas
Capazes de empalidecer o mármore?
Quem, oculta em véus escuros
Se crucificará nos muros?
Quem, macerada de desgosto
Sorrirá: – Rei morto, rei posto...
Quantas, debruçadas sobre o báratro
Sentirão as dores do parto?
Qual a que, branca de receio
Tocará o botão do seio?
Quem, louca, se jogará de bruços
A soluçar tantos soluços
Que há de despertar receios?
Quantos, os maxilares contraídos
O sangue a pulsar nas cicatrizes
Dirão: – Foi um doido amigo...
Quem, criança, olhando a terra
Ao ver movimentar-se um verme
Observará um ar de critério?
Quem, em circunstância oficial
Há de propor meu pedestal?
Quais os que, vindos da montanha
Terão circunspecção tamanha
Que eu hei de rir branco de cal?
Qual a que, o rosto sulcado de vento
Lançará um punhado de sal
Na minha cova de cimento?
Quem cantará canções de amigo
No dia do meu funeral?
Qual a que não estará presente
Por motivo circunstancial?
Quem cravará no seio duro
Uma lâmina enferrujada?
Quem, em seu verbo inconsútil
Há de orar: – Deus o tenha em sua guarda.
Qual o amigo que a sós consigo
Pensará: – Não há de ser nada...
Quem será a estranha figura
A um tronco de árvore encostada
Com um olhar frio e um ar de dúvida?
Quem se abraçará comigo
Que terá de ser arrancada?
Quem vai pagar o enterro e as flores
Se eu me morrer de amores?

TOCANDO EM FRENTE /Almir Sater e Renato Teixeira







TOCANDO EM FRENTE

Ando devagar porque já tive pressa
E levo esse sorriso porque já chorei demais
Hoje me sinto mais forte, mais feliz, quem sabe

Eu só levo a certeza de que muito pouco eu sei

Eu nada sei

Conhecer as manhas e as manhãs,
o sabor das massas e das maçãs
É preciso amor pra poder pulsar,
é preciso paz pra poder sorrir
É preciso chuva para florir
Penso que cumprir a vida seja simplesmente

Compreender a marcha e ir tocando em frente

Como um velho boiadeiro levando a boiada
Eu vou tocando os dias pela longa estrada eu vou
Estrada eu sou
Conhecer as manhas e as manhãs, o sabor das massas e das maçãs
É preciso amor pra poder pulsar,
é preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir
Todo mundo ama um dia, todo mundo chora
Um dia a gente chega, no outro vai embora
Cada um de nós compõe a sua história

E cada ser em si carrega o dom de ser capaz

De ser feliz

Conhecer as manhas e as manhãs,
o sabor das massas e das maçãs
É preciso amor pra poder pulsar, é preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir
Ando devagar porque já tive pressa
E levo esse sorriso porque já chorei demais

Cada um de nós compõe a sua história

E cada ser em si carrega o dom de ser capaz

De ser feliz

Anônimo disse...

Música e letra lindíssimas ! L.Hime

31 de Maio de 2007 15:02


Força Estranha /Caetano Veloso



Eu vi um menino correndo
eu vi o tempo brincando ao redor
do caminho daquele menino,
eu pus os meus pés no riacho.
E acho que nunca os tirei.
O sol ainda brilha na estrada que eu nunca passei.
Eu vi a mulher preparando outra pessoa
O tempo parou pra eu olhar para aquela barriga.
A vida é amiga da arte
É a parte que o sol me ensinou.
O sol que atravessa essa estrada que nunca passou.
Por isso uma força me leva a cantar,
por isso essa força estranha no ar.
Por isso é que eu canto, não posso parar.
Por isso essa voz tamanha.

Eu vi muitos cabelos brancos na fronte do artista
o tempo não pára no entanto ele nunca envelhece.
Aquele que conhece o jogo, o jogo das coisas que são.
É o sol, é o tempo, é a estrada, é o pé e é o chão.
Eu vi muitos homens brigando. Ouvi seus gritos
Estive no fundo de cada vontade encoberta,
é a coisa mais certa de todas as coisas.
Não vale um caminho sob o sol.
É o sol sobre a estrada, é o sol sobre a estrada, é o sol.
Por isso uma força me leva a cantar,
por isso essa força estranha no ar.
Por isso é que eu canto, não posso parar.
Por isso essa voz tamanha.

Prece ao Vento / Gilvan Chaves/Fernando Luiz Camara Cascudo


PRECE AO VENTO
(Gilvan Chaves, Fernando Luís Da Câmara Cascudo e Alcyr Pires Vermelho)

Vento que balança as palhas do coqueiro
Vento que encrespa as ondas do mar
Vento que assanha os cabelos da morena
Me traz notícias de lá

Vento que assobia no telhado
Chamando para a lua espiar
Vento que na beira lá da praia
Escutava meu amor a cantar

Hoje estou sozinho e tu também
Triste me lembrando do meu bem
Vento diga por favor
Aonde se escondeu o meu amor



Anônimo disse...

Sou baiano, essa letra me dá saudades de minha terra.
Gil

6 de Junho de 2007 11:49

AMOR DISTANTE


Quando você chegou...
transformou meus sonhos em realidade
Então você se foi... deixando rastros de saudade
As minhas ilusões, meus sonhos na verdade
Você levou quando saiu da minha vida
Restando em mim somente a realidade
De uma paixão que não pode ser vivida
Foi quase insuportável viver assim
Pois minha angústia você não conhecia
Não sabia das marcas que ficaram em mim
Nem tão pouco da solidão que me consumia
Mal sabe você da minha amargura
Que em vão tento esconder
Vem de um amor distante...ausente
Que nasceu mas não teve tempo para florescer
Porém o brilho dos meus olhos denuncia
O quanto de mim se transformou em você
Pois mesmo distante, sua presença em mim continua
Em forma de um amor que insiste em viver
Cumpra seu destino
Pois meu conflito jamais terá fim
Mesmo não fazendo parte do seu caminho
Você sempre será parte de mim.

TRADUZIR-SE


TRADUZIR-SE

Uma parte de mim

é todo mundo

outra parte é ninguém;

fundo sem fundo

Uma parte de mim;

é multidão:

outra parte estranheza

e solidão.

Uma parte de mim

pesa, pondera:

outra parte

delira.

Uma parte de mim

almoça e janta

outra parte

se espanta

Uma parte de mim

é permanente

outra parte

se sabe de repente

Uma parte de mim

é só vertigem

outra parte

linguagem.

Traduzir uma parte

na outra parte

- que é uma questão

de vida ou morte -

será arte?

(Ferreira Gullar)

quinta-feira, 31 de maio de 2007

O Poeta Aprendiz / Toquinho


O Poeta Aprendiz

Toquinho


Ele era um menino valente e caprino,
Um pequeno infante, sadio e grimpante.
Anos tinha dez e asas nos pés.
Com chumbo e bodoque era plic e ploc.
O olhar verde-gaio, parecia um raio
Para tangerina, pião ou menina.
Seu corpo moreno vivia correndo,
Pulava no escuro não importa que muro,
Saltava de anjo melhor que marmanjo
E dava o mergulho sem fazer barulho.
Em bola de meia, jogando de
Meia-direita ou de ponta,
Passava da conta de tanto driblar.
Amava era amar:
Amava sua ama nos jogos de cama.
Amava as criadas varrendo as escadas,
Amava as gurias da rua, vadias.
Amava suas primas com beijos e rimas.
Amava suas tias de peles macias.
Amava as artistas das cine-revistas.
Amava a mulher a mais não poder.
Por isso fazia seu grão de poesia
E achava bonita a palavra escrita.
Por isso sofria de melancolia,
Sonhando o poeta que quem sabe
Um dia poderia ser

A Bola / Toquinho




A Bola

Toquinho


Pulo, pulo, pulo, vou de pé em pé.
Da chuteira do menino na vidraça da mulher.

Salto, salto, salto mais que perereca.
Pulo o muro e caio em cima da cabeça de um careca.

Corro, corro, corro na praia de manhã
E quando eu balanço a rede é festa no Maracanã.

Rolo, rolo, rolo rápido e rasteiro
E sou muito maltratada pelos pés de peladeiro.

Pulo, pulo, pulo, vou com quem vier.
Joguei com Nilton Santos, com Garrincha e com Pelé.

Salto, salto, salto com todo carinho.
Joguei com Rivelino, com Tostão e Jairzinho.

Rolo, rolo, rolo com satisfação.
Hoje jogo com Romário, Ronaldinho e Luizão.

Corro, corro, corro do começo ao fim.
Depois que acaba o jogo, ninguém mais lembra de mim.

Onde Anda Você / Toquinho


Onde Anda Você

Toquinho


E por falar em saudade
onde anda você
Onde andam seus olhos
que a gente não vê
Onde anda esse corpo
Que me deixou morto
de tanto prazer
Epor falar em beleza
onde anda a canção
Que se ouvia na noite
dos bares de então
Onde a gente ficava
onde a gente se amava
Em total solidão
Hoje eu saio na noite vazia
Numa boemia
sem razão de ser
Na rotina dos bares,
que apesar dos pesares
Me trazem você
E por falar em paixão
em razão de viver
Você bem que podia
me aparecer
Nesses mesmos lugares
na noite, nos bares
Onde anda você


MANINHA




Se lembra da fogueira
Se lembra dos balões
Se lembra dos luares dos sertões
A roupa no varal, feriado nacional
E as estrelas salpicadas nas canções
Se lembra quando toda modinha falava de amor
pois nunca mais cantei, oh maninha
Depois que ele chegou
Se lembra da jaqueira
A fruta no capim
Dos sonhos que você contou pra mim
Os passos no porão, lembra da assombração
E das almas com perfume de jasmim
Se lembra do jardim, oh maninha
Coberto de flor
Pois hoje só dá erva daninha
No chão que ele pisou
Se lembra do futuro
Que a gente combinou
Eu era tão criança e ainda sou
Querendo acreditar que o dia vai raiar
Só porque uma cantiga anunciou
Mas não me deixe assim, tão sozinha
A me torturar
Que um dia ele vai embora, maninha
Prá nunca mais voltar...

quarta-feira, 30 de maio de 2007

O Velho e a Flor / Toquinho



O Velho e a Flor

Toquinho

Por céus e mares eu andei

vi um poeta e vi um rei

na esperança de saber o que é o a - mor

Ninguém sabia me dizer

eu já queria até morrer
quando um velhinho com uma flor assim fa - lou:
O amor é o carinho,
é o espinho que não se vê em cada flor
é a vida quando
chega sangrando aberta em pétalas de amor
Por céus e mares eu andei
o amor é o carinho,
vi um poeta e vi um rei
é o espinho
na esperança de saber o que é o amor
que não se vê em cada flor
sabia me dizer
a vida quando
eu já queria até morrer
chega sangrando
quando um velhinho com uma flor assim falou
aberta em pétalas de amor

Sol e Chuva / Toquinho



Sol e Chuva

Toquinho

Chove, chuva, vai meu corpo molhando
Dentro tenho um sol me iluminando.

Chove quase sempre no molhado,
No tempo perdido e não encontrado.
Nas contradições que trago comigo,
No jeito de olhar de um amor antigo.

Chove na cidade e na periferia,
No tempo parado da fotografia.
No homem letrado e na cartilha,
Nos magos da cúpula de Brasília.

Chove nas estórias da população,
Em todos os acordes de meu violão.
Só o meu amor é privilegiado,
Pois vive bem guardado no meu coração.

Chove nos meus sonhos de menino,
No fio que sustenta o meu destino.
Nesse pinga-pinga do dia-dia,
Na realidade e na fantasia.

Chuva no telhado vira goteira
Que pode molhar minha vida inteira.
Vida que eu passo pensando nela,
Que vive olhando a vida pela janela.

Chove no refúgio da solidão
Que molha algumas notas desse refrão.
Só o meu amor é privilegiado
Pois vive bem guardado no meu coração.

Chove na vontade enclausurada
Dos sonhos da primeira namorada.
No mistério oculto da poesia
E na simplicidade dessa melodia.

A água enche a palma da minha mão
E escorre entre as linhas dessa canção.
Só o meu amor é privilegiado
Pois vive bem guardado no meu coração.


BETHÂNIA



"Minha casa é no meio do mato,

e tem água ...é o que me importa ...
... e calor"

Maria Bethânia

Sonhar, mais um sonho impossível...

Lutar quando é fácil ceder, vencer o inimigo invencível Negar quando a regra é vender [...]

Voar no limite improvável, tocar o inacessível chão.

É minha lei, é minha questão, virar este mundo, cravar este chão. Não me importa saber se é terrível demais, quantas guerras terei que vencer por um pouco de paz...

E assim seja lá como for, vai ter fim a infinita aflição e o mundo vai ver uma flor brotar do impossível chão.

Maria Bethânia

COMO É GRANDE O MEU AMOR POR VOCÊ

A Arca de Noé / Toquinho
























A Arca de

Noé

Toquinho
































Sete em cores, de repente

O arco-íris se desata

Na água límpida e contente

Do ribeirinho da mata..


O sol, ao véu transparente
Da chuva de ouro e de prata
Resplandece resplendente
No céu, no chão, na cascata.
E abre-se a porta da arca.
Lentamente surgem francas
A alegria e as barbas brancas
Do prudente patriarca.
Vendo ao longe aquela serra
E as planícies tão verdinhas,
Diz Noé: que boa terra
Pra plantar as minhas vinhas.

Ora vai, na porta aberta,
De repente, vacilante,
Surge lenta, longa e incerta
Uma tromba de elefante.

E dentro de um buraco
De uma janela aparece
Uma cara de macaco
Que espia e desaparece.

"Os bosques são todos meus!",
Ruge soberbo o leão.
"Também sou filho de Deus",
Um protesta, e o tigre - "Não!"

A arca desconjuntada
Parece que vai ruir
Entre os pulos da bicharada
Toda querendo sair.

Afinal, com muito custo,
Indo em fila, aos casais;
Uns com raiva, outros com susto,
Vão saindo os animais.

Os maiores vêm à frente
Trazendo a cabeça erguida.
E os fracos, humildemente,
Vêm atrás, como na vida.

Longe o arco-íris se esvai
E desde que houve essa história,
Quando o véu da noite cai
Erguem-se os astros em glória.
Enchem o céu de seus caprichos
Em meio à noite calada.
Ouve-se a fala dos bichos
Na terra repovoada.

Acervo Mario Quintana resgata a poesia

Acervo Mario Quintana resgata a poesia

A vida e obra do poeta Mario Quintana nunca será esquecida. No segundo andar da Casa de Cultura Mario Quintana, ala Leste, encontram-se expostos painéis, quadros, e pôsteres com fotos de Mario Quintana além de uma mesa-vitrine, onde se renovam, a cada mês, poemas e ilustrações sobre o poeta. Em 1999 incorporamos aos nossos objetivos a importante divulgação da obra de Quintana. Para tanto, disponibilizamos um espaço para pesquisa de alunos e interessados, com livros que vão desde o primeiro "A Rua dos Cataventos" até publicações póstumas como "Sapato furado" (1994) e "Anotações poéticas" (1997). Também estão disponíveis cadernos, livros, álbuns sobre a vida e obra de Quintana e algumas traduções feitas pelo poeta como "Em busca de viver", de Lin Yutang.

No local encontra-se um total de 172 fotos, uma coleção de 20 pôsteres, doados por agências de publicidade referentes a uma mostra de cartazes realizado no Acervo em 1992 e inspirados nos livros de Quintana, 12 quadros com ilustrações, pinturas, poemas gravados em fita K7, LP e CD, 13 fitas VHS (com depoimentos e entrevistas), além de uma coleção de 24 caricaturas. Entre as dezenas de declarações, destacam-se as de Paulo Autran, Antonieta Barone, Bruna Lombardi, Olga Reverbel, Vasco Prado e Moacyr Scliar. Existem ainda originais de poemas (em folhas de ofício e em blocos), notícias de jornais, e o mapa astral do poeta (com interpretação feita por Ricardo Lindermann).
O Acervo oferece a alunos de escolas palestras sobre as atividades realizadas por Mario Quintana durante sua vida. Estas atividades englobam o projeto Palavra Viva, as quais se realizam através de prévio agendamento pelo telefone 3221 7147, ramais 242, 203 ou 294.


Além disso, um sonho foi realizado com a colaboração da sobrinha Elena Quintana: a recriação do último quarto do poeta, no Porto Alegre Residence Hotel, sua última morada. Este espaço fica na sala conjugada ao Acervo, podendo ser visto através de uma janela de vidro. Lá estão os móveis e objetos de Quintana dispostos da mesma forma como ele deixara. Na verdade, um ambiente que muito lhe serviu de inspiração. Definitivamente, o poeta está de volta ao lar.

DEFICIÊNCIAS - Mario Quintana





DEFICIÊNCIAS - Mario Quintana
(escritor gaúcho 30/07/1906 -05/05/1994
.

"Deficiente"
é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de que é dono do seu destino.
"Louco"
é quem não procura ser feliz com o que possui.
"Cego"
é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria, e só tem olhos para seus míseros problemas e pequenas dores.
"Surdo"
é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão. Pois está sempre apressado para o trabalho e quer garantir seus tostões no fim do mês.
"Mudo" é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia.
"Paralítico"
é quem não consegue andar na direção daqueles que precisam de sua ajuda.
"Diabético"
é quem não consegue ser doce.
"Anão" é quem não sabe deixar o amor crescer. E, finalmente, a pior das deficiências é ser miserável, pois:
"Miseráveis"
são todos que não conseguem falar com Deus.

"A amizade é um amor que nunca morre. "

terça-feira, 29 de maio de 2007

O QUE SERÁ QUE SERÁ / CHICO BUARQUE

Avá-Canoeiros

AVÁ-CANOEIRO, UMA NAÇÃO PERTO DO FIM



Eles eram milhares, hoje são pouco mais de 20

Crianças Avá de Minaçu(GO) e da Ilha do Bananal (TO)

OS Avá-Canoeiros são um povo tupi que ocupava amplos domínios, ao longo do médio e baixo rios Tocantins e Maranhão, atualmente parte Estado de Goiás e parte Estado do Tocantins. Chegaram a somar 5 mil pessoas, porém, hoje somam apenas 22 indivíduos, distribuídos na reserva de Minaçu, em Goiás, e Ilha do Bananal, no Rio Araguaia, no Tocantins. São um povo em extinção e um retrato desses 500 anos de Brasil.


FRENTES de contato da Fundação Nacional do Índio (Funai) tentam há 10 anos encontrar outros avás no nordeste goiano e sudoeste tocantinense, mas nenhum 'novo' índio foi localizado. Em outra frente, o Instituto de Pré-História e Antropologia da Universidade Católica de Goiás (UCG) e o chefe do posto da Funai de Minaçu, Valter Sanchez, vêm promovendo encontros entre os dois grupos, em uma tentativa de aproximá-los, estreitar as amizades e, quem sabe, poder ver, em alguns anos, casamentos entre os adolescentes, o que pode significar uma esperança de perpetuação desse povo.

OS DOIS grupos têm a mesma história triste e violenta. A situação atual é resultado de séculos de guerra dos canoeiros - nome dado graças à sua habilidade de usar canoas - contra as sucessivas levas de homens brancos que, munidos do diferencial de terem armas de fogo, invadiram suas terras para transformá-las em fazendas.

ESSA invasão começou a ganhar força no século 18 e gerou tantos confrontos e genocídios que, já em 1860, os avás estavam tão reduzidos que não podiam mais lutar contra os invasores. Mesmo assim, a coragem e a determinação canoeiras iriam atravessar o tempo. Cem anos depois - na década de 60 do nosso século - as lutas continuavam. Foi, então, em Campinaçu, norte de Goiás, que aconteceu o último e definitivo episódio contra a nação canoeira. Fazendeiros armados até os dentes fizeram uma emboscada contra a última aldeia avá que ainda existia e promoveram um genocídio. Eram centenas de índios, mas só sobreviveram os poucos que conseguiram fugir, entre eles alguns dos dois grupos de hhoje. Desde, então, tornaram-se o que Dulce chama de "povo invisível", pois passaram a não deixar pistas e nem a ser vistos.

O GRUPO DE MINAÇU é inteiramente avá e foi contatado em 1983, perto da aldeia atual. Vive na reserva de 38 mil hectares, junto ao Rio Tocantins, dos quais 3 mil foram ocupados pela usina hidrelétrica de Serra da Mesa, que lhes paga royalties. Têm casas de alvenaria, comida boa, assistência e os seus cachorros têm até carteira de vacinação. Com quatro adultos, um adolescente e uma criança, são, a começar dos nomes (Iawi, Tuia, Nakwatxa...), a memória viva do que sua nação foi um dia. São eles também os únicos que ainda falam um pouco da língua avá, mantêm alguns dos rituais e plantam e caçam. Contudo, as constantes fugas pelo mato e o fato de os bebês chorarem e denunciaram suas presenças fizeram com que o grupo passassem a evitar filhos. Depois do nascimento dos dois jovens (Trumak, 11 anos, e Putdjawa, 9), decidiram não ter mais filhos. E não falam mais sobre o assunto.

O GRUPO DA ILHA do Bananal, no Rio Araguaia, vive uma situação menos confortável e mais aculturada. Apareceram para a sociedade nacional em dois momentos. Em 1973, cinco deles foram contatados e, um ano depois, outros quatro apareceram. Eram seis adultos e três crianças. Após alguns meses, quatro dos adultos morreram de gripe. Os sobreviventes foram transferidos de lugar para lugar até serem colocados em definitivo na aldeia de Canoanã, no Bananal, onde vários povos indígenas convivem. Com o tempo, misturaram-se com alguns deles, particularmente os Javaés e os Tuyás, o que resultou em novos filhos - todos batizados com nomes de brancos, como Angélica, Cilene e Diego.

DE INÍCIO não foi fácil. Os Javaés não aceitavam os canoeiros, pois sempre foram inimigos históricos. Aos poucos, o quadro mudou. Os avá foram ocupando seus espaços, mas isso não impediu que, ainda hoje, sejam discriminados e tratados como subalternos e que vivam na miséria e no abandono. A sua dieta, por exemplo, entre ano sai ano, se resume ao máximo a arroz, farinha e peixe. Os mais antigos sonham em viver na Mata Azul, uma exuberante formação vegetal no sul do Estado do Tocantins, onde seus antepassados, que viveram dias de glória ali, estão sepultados. A área, contudo, já foi incorporada ao 'sistema produtivo nacional'.

NESSE contexto, parecem não haver motivos para que os avá do Bananal não queiram ir para a reserva em Minaçu, como propõe a UCG e o posto da Funai local, mas as coisas não são tão simples. Mesmo com origens comuns, os dois grupos tiveram destinos diferentes, o que resulta em nuances de valores, identidades e convivências. "É preciso promover encontros periódicos para que os vínculos sejam maiores", explica Dulce. Os resultados desses esforços só serão revelados pelo futuro. Os dois grupos podem tornar-se mais que amigos, porém nada garante que vão se unir e virar parentes. Em todo caso, se unirem, as chances de não se extinguirem como nação indígena continuarão pequenas; se não se unirem, a extinção torna-se uma questão de tempo. Pouco tempo.


*Reportagem de Paulo José

lenda

Toquinho


Era uma vez uma tribo
Chamada Avá-Canoeiro.
Um dia veio o homem branco
E exterminou o povo inteiro.

Sobrou um casal de indiozinhos,
Os elos dessa cadeia.
Mas sendo irmãos não podiam
Repovoar essa aldeia.

Os dois então ficam tristes
Pois já morreu todo o resto.
E a lei da tribo é a morte
Se o amor é feito de incesto.

Mas vem dos céus um milagre
Como um balé de esplendor.
Mil vagalumes produzem
Uma centelha de amor.

E um beija-flor, com as estrelas
Dos vagalumes azuis,
Fecunda o ventre da índia
Tirando o pólen da luz.

E a luz da vida rebrilha
No espelho da sua face.
Ela concebe uma estrela
E a sua aldeia renasce.

BIOGRAFIA


Toquinho
Nascido em São Paulo, em 06/07/1946.

O apelido foi dado por sua mãe quando ainda era criança. Aos 14 anos de idade, teve aulas de violão com Paulinho Nogueira. Ainda na adolescência, apresentou-se em clubes, colégios e faculdades. Estudou com Edgard Janulo e Léo Peracchi (orquestração). Do contato que teve no decorrer de sua carreira com grandes músicos e violonistas, como Oscar Castro Neves e Baden Powell, foi aprimorando seu violão e adquirindo personalidade própria.
Iniciou sua carreira profissional em 1960, atuando, como instrumentista, em shows produzidos pelo radialista Walter Silva, no Teatro Paramount (SP).
Em 1963, conheceu Chico Buarque, com quem compôs a canção "Lua cheia", sua primeira melodia a receber uma letra.
No ano seguinte, participou do espetáculo "Na onda do balanço", no Teatro Maria Della Costa, ao lado de Taiguara, do flautista Thommas Lee e do Manfred Fest Trio. Ainda nesse ano, gravou seu primeiro disco, um compacto simples contendo as canções "Primavera" (Carlos Lyra e Vinicius de Moraes) e "Só tinha de ser com você" (Tom Jobim e Aloysio de Oliveira).
Em 1965, assinou a direção musical de "Liberdade, liberdade", no mesmo teatro, espetáculo estrelado por Paulo Autran, Teresa Raquel, Oduvaldo Viana Filho e Cláudia. Nesse mesmo ano, participou, ao lado de Sérgio Ricardo e Manini, do show "Esse mundo é meu", que teve estréia na boate Ela, Cravo e Canela e depois foi apresentado no Teatro de Arena.

Eu Não Tenho Nada a Ver Com Isso


Eu Não Tenho Nada a Ver Com Isso

Toquinho

Eu não tenho nada a ver com isso,
Nem sequer nasci em Niterói.
Não me chamo João e não tenho não
Qualquer vocação pra ser herói.

Venho de três raças muito tristes.
E eis porque o viver tanto me dói.
Deito em minha rede, mato a minha sede.
Quanta mulher nua na Playboy.

Porém daqui a uns anos mais
Vão ser cem milhões,
Cem milhões só de Pelés e de violões.
Que país mais tão feliz!
Deixa o Brasil andar...

As estatísticas revelam: no ano dois mil
Todo mundo vai ser jovem
No meu Brasil.
Reparou como é que eu
Ando sutil demais?

Bê-a-bá


Bê-a-bá

Toquinho

Quando a gente cresce um pouco
É coisa de louco o que fazem com a gente:
Tem hora pra levantar, hora pra se deitar,
Pra visitar parente.
Quando se aprende a falar, se começa a estudar,
Isso não acaba nunca.
E só vai saber ler, só vai saber escrever
Quem aprender o bê-a-bá.
E além do abecedário, um grande dicionário
Vamos todos precisar:

Com A escrevo amor, com B bola de cor,
Com C eu tenho corpo, cara e coração.
Com D ao meu dispor escrevo dado e dor,
Com E eu sinto emoção!
Com F falo flor, com G eu grito gol
E com H de haver eu posso harmonizar.
Com I desejo ir, com J volto já, com L tenho luar.
Com M escrevo mão, mamãe, manjericão,
Com N digo não e o verbo nascer.
Com O eu posso olhar, com P paparicar,
Com Q eu quero querer.
Com R faço rir, Com S sapoti,
Com T tamanduá, com U Urubupungá.
Com V juro que vi, com X faço xixi,
No fim o Z da zebra.