quarta-feira, 11 de junho de 2008

OLIVIA HIME // PALAVRAS DE GUERRA

SIMONE & ZÉLIA DUNCAN



A amizade é uma predisposição recíproca que torna dois seres igualmente ciosos da felicidade um do outro"

A afirmativa de Platão resume a imagem inicial deste Amigo é Casa: com Alguém Cantando (Caetano Veloso), duas amigas sobem ao palco para cantar o encontro. A partir daí, as coisas parecem brotar muito natural, instintivamente. As memórias, os caminhos trilhados por uma e por outra, o que ainda não veio, as convergências e as distinções, tudo está ali bem delineado. E através da auto-reflexão, Simone e Zélia vão desnudando os meandros de uma afinidade artística que ganha ecos na simbiose das vozes, que harmonizam em uníssono. As diferenças, muitas, saltam e ressaltam justamente as similitudes. Explica Simone: - Esse encontro musical aconteceu em 2005, quando Zélia estava produzindo o cd Timoneiro, do Hermínio Bello de Carvalho, uma pessoa importantíssima na minha vida. A partir daí, começamos a conversar, trocar idéias para produzir um próximo cd. Em seguida, ela mandou Idade do Céu (Jorge Drexler / Moska) guardada para o próximo trabalho, mas ofereceu a música para mim. Achei de uma generosidade tão grande, um gesto nobre. Aí a convidei a participar do cd dvd Simone Ao Vivo, na canção do Drexler e em Não Vá Ainda (parceria de Zélia com Christian Oyens).

Na seqüência, em 2006, ambas foram convidadas a dividir o palco no projeto Tom Acústico, com shows no Rio e em São Paulo. Surgia, então, o embrião deste Amigo é Casa. Assim, em outubro do ano passado, Simone e Zélia subiram ao palco do Auditório Ibirapuera, com cenografia e iluminação criados especialmente para a ocasião, para registrar o encontro que sai agora em cd e dvd pela Biscoito Fino. O próprio repertório sofreu ajustes para este novo show:

- O ponto mais relevante do trabalho é justamente o repertório e a alegria em realizá-lo. É um show pensado para a dupla. As cantoras abrem vozes, dividem as canções, oitenta por cento do show é feito com as duas artistas no palco. Várias canções, como Meu Ego (Roberto e Erasmo), Gatas Extraordinárias, Alguém Cantando (ambas de Caetano), Grávida (Marina / Arnaldo Antunes), Agito e Uso (Ângela Rô Rô), e Ralador (Roque Ferreira), nunca foram cantadas antes por nenhuma das duas. O prazer musical desse encontro está todo retratado ali, de forma sincera e visível. São duas solistas por excelência, que têm imenso prazer em cantar juntas. São 19 músicas cantadas juntas! O que prova que é um show para a dupla, mais do que para as solistas! -- define Zélia.

Os momentos individuais são bastante equilibrados. Enquanto Zélia apresenta influências (numa referência à própria parceira de cena em Na Próxima Encarnação, de Itamar Assunção) e canções quase inéditas como Kitnet ( Alzira E / Arruda) e A Companheira (Luiz Tatit), Simone relembra clássicos que compõem a trilha sonora das vidas de muitos de nós, como Diga Lá, Coração (Gonzaguinha), Medo de Amar Nº 2 (Sueli Costa / Abel Silva), ambas de 78, e Encontros e Despedidas (Milton Nascimento / Fernando Brant), de 81. Há, ainda, momentos em que interpretam canções que têm a ver com suas respectivas trajetórias, sempre muito integradas ao conceito dupla. As já citadas Idade do Céu e Não Vá Ainda, além de Mar e Lua (Chico Buarque), Jura Secreta (também de Sueli Costa e Abel Silva), Tô Voltando (Maurício Tapajós / Paulo César Pinheiro) e do díptico Alma (Sueli Costa / Abel Silva) e Alma (Arnaldo Antunes / Pepeu Gomes) são belos exemplos.

O título destes cd dvd foi extraído da canção homônima de Hermínio Bello de Carvalho e Capiba, que traz os versos: "Amigo é feito casa que se faz aos poucos e com paciência pra durar pra sempre. Mas é preciso ter muito tijolo e terra, preparar reboco, construir tramelas". Amigo é Casa é uma ode ao encontro, ao amor de amigo, sentimento este que nunca foi muito discutido na composição, ao contrário do amor dual, romântico, que permeia todo o nosso cancioneiro. A amizade que Simone e Zélia nos apresentam coaduna os preceitos de Platão, de Hermínio Bello de Carvalho, de Milton Nascimento (amigo é coisa pra se guardar...)...despem-se das várias diferenças estético-artísticas que há entre elas e apresentam um canto coeso, honesto e potencializador das semelhanças: as vozes cálidas e a liberdade de passear por vários gêneros e estilos musicais, sem se ater a classificações ou amarras ao longo de suas respectivas carreiras, nos faz questionar por que esta casa não foi gerada antes. A amizade tem mesmo uma cronologia peculiar.

BISCOITO FINO



A Biscoito Fino lançou em dezembro de 2001 o primeiro DVD do cantor e compositor Toquinho. O trabalho é uma parceria da gravadora com a Kau Laser do Brasil, braço da empresa americana Kau Laser Corporation. A obra apresenta alguns dos seus maiores sucessos com imagens de shows ao vivo, algumas inéditas no Brasil, cedidas pela emissora italiana RAI, além de gravações em estúdio, seguindo um roteiro biográfico do artista. Em momento histórico, Toquinho canta o Samba pra Vinicius na presença do próprio homenageado e do Quarteto em Cy. Também revela curiosidades, como de onde saiu a expressão que originou a música Tonga da Mironga do Cabuletê, e que a letra de Samba pra Vinicius foi composta a pedido do próprio poetinha. Ao todo, são 26 músicas, uma delas inédita, Até logo companheiro, do próprio Toquinho.

Os parceiros célebres também são lembrados nesta viagem musical: Paulinho Nogueira, professor que o iniciou no violão; Vinícius de Moraes, com quem gravou cerca de 100 canções; Baden Powell, seu professor; Chico Buarque, que acompanhou no exílio na Itália em 1969; Jorge Benjor, Gilberto Gil, Ivan Lins, Tom Jobim, o Quarteto em Cy e a cantora italiana Fiorella Mannoia. Todos aparecem em participações especiais e em imagens de arquivo, algumas delas cedidas pelas TVs Globo, Bandeirantes, Cultura e RAI.

Um variado menu de opções oferece possibilidade de acesso a partituras, letras, legendas - também em inglês, espanhol e italiano -, além da biografia do violonista. Tudo isso embalado por Aquarela, Samba da Benção, Regra 3, Carta ao Tom 74, Tarde em Itapoã, Que Maravilha, Caso Sério e Felicidade, além de outras outras canções inesquecíveis. E o melhor é que é possível assistir apenas à sequência musical do roteiro. O DVD inclui ainda um bloco infantil, reunindo canções como A Casa, O Pato e O caderno. Também é pontuado por belas imagens da Itália, Salvador e Rio de Janeiro. A distribuição é da Universal Music e a obra já chegou ao mercado internacional

BISCOITO FINO


TAIGUARA // HELENA, HELENA, HELENA

ELIS REGINA // LADEIRA DA PREGUIÇA




Essa ladeira, que ladeira é essa?
Essa é a ladeira da preguiça
Essa ladeira, que ladeira é essa?
Essa é a ladeira da preguiça

Preguiça que eu tive sempre De escrever para a família
E de mandar conta pra casa
Que esse mundo é uma maravilha
E pra saber se a menina
Já conta as estrelas e sabe a segunda cartilha
E pra saber se o menino
Já canta cantigas e já não bota mais a mão na baguilha

E pra falar do mundo falo uma besteira
Fomenteira é uma ilha
Onde se chega de barco, mãe
Que nem lá, na ilha do medo
Que nem lá, na ilha do frade
Que nem lá, na ilha de maré
Que nem lá, salina das margaridas

Essa ladeira, que ladeira é essa?
Essa é a ladeira da preguiça
Ela é de hoje
Ela é desde quando
Se amarrava cachorro com linguiça

MILTON NASCIMENTO

Maria Bethânia - O X do problema (XX Anos de Paixão)

BETHANIA / ROSA DOS VENTOS - BUARQUE



E do amor gritou-se o escândalo
Do medo criou-se o trágico
No rosto pintou-se o pálido
E não rolou uma lágrima
Nem uma lástima para socorrer
E na gente deu o hábito
De caminhar pelas trevas
De murmurar entre as pregas
De tirar leite das pedras
De ver o tempo correr
Mas sob o sono dos séculos
Amanheceu o espetáculo
Como uma chuva de pétalas
Como se o céu vendo as penas
Morresse de pena
E chovesse o perdão
E a prudência dos sábios
Nem ousou conter nos lábios
O sorriso e a paixão

Pois transbordando de flores
A calma dos lagos zangou-se
A rosa-dos-ventos danou-se
O leito do rio fartou-se
E inundou de água doce
A amargura do mar
Numa enchente amazônica
Numa explosão atlântica
E a multidão vendo em pânico
E a multidão vendo atônita
Ainda que tarde
O seu despertar

BETHANIA // JEITO ESTÚPIDO DE SER

terça-feira, 10 de junho de 2008

BETHANIA


Trecho do Show Pássaro da Manhã.
Poema de Fauzi Arap
"Eu vou te contar que você não me conhece...
E eu tenho que gritar isso porque você está surda e não me ouve!
A sedução me escraviza à você...
Ao fim de tudo você permanece comigo, mais presa ao que eu criei e não a mim.
E quanto mais falo sobre a verdade inteira um abismo maior nos separa...
Você não tem um nome, eu tenho...
Você é um rosto na multidão, e eu sou o centro das atenções, mas a mentira da aparência do que eu sou, é a mentira da aparência do que você é.
Por que eu, eu não sou o meu nome, e você não é ninguém...
O jogo perigoso que eu pratico aqui, ela busca a chegar ao limite possível da aproximação.
Através da aceitação, da distância, e do reconhecimento dela.
Entre eu e você existe a notícia que nos separa...
Eu quero que você me veja nua, eu me dispo da notícia.
E a minha nudez parada, te denuncia, e te espelha...
Eu me relato, tu me delatas...
Eu nos acuso, e confesso por nós.
Assim, me livro das palavras,
Com as quais você me veste."

Música: Um Jeito Estúpido de Amar

Eu sei que eu tenho um jeito
Meio estúpido de ser
E de dizer coisas que podem
Magoar e te ofender
Mas cada um tem o seu jeito
Todo próprio de amar
E de se defender
Você me acusa e só me preocupa
Agrava mais e mais a minha culpa
E eu faço e desfaço, contrafeito
O meu defeito é te amar demais.
Palavras são palavras
E a gente nem percebe
O que disse sem querer
E o que deixou pra depois
Mas o importante é perceber
Que a nossa vida em comum
Depende só e unicamente de nós dois
Eu tento achar um jeito de explicar
Você bem que podia me aceitar
Eu sei que eu tenho um jeito meio estúpido de ser
Mas é assim que eu sei te amar.

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segunda-feira, 9 de junho de 2008

Bye Bye Brazil

Chico Buarque - Apesar de você - A sociedade não pode parar



Apesar de você (A sociedade não pode parar), mostra através de uma viagem ao tempo, as diferentes formas de reação da sociedade brasileira em relação aos diversos momentos críticos do país, como por exemplo, a ditadura militar, movimento diretas já, e os atuais acontecimentos de corrupção. Fazendo uma comparação do comportamento omisso da população nos dias atuais com as grandes manifestações do passado.

BRAZIL



PUBLICADA NAS CARTAS DOS LEITORES - JORNAL O GLOBO EM 08/06/2008

domingo, 8 de junho de 2008

ZELIA DUNCAN // VI, NÃO VIVI



Primeira vez que eu te vi
Meu coração não fez clique
Se ouvi ou vi, não vivi
Seu clique, seu trique-trique
Não vi sushi, sashimi
Nem Eros, nem Afrodite
Primeira vez que eu te vi
Primeiro vi seus limites

Vi, não vivi
Não senti onda por ti, não senti
Nem o menor apetite
Não senti o tremelique
Senti
Não me deu onda por ti
Não vivi
Não senti frenesi
Nem o menor apetite
Não senti tremelique
Senti

Não vi nenhum colibri
Não vi sua bad trip
Sino batendo, não ouvi
Nem vi se havia convite
Sol, búzios, nós dois ali
Com ares de casal 20
Nem com os olhos comi
Nem veni, nem vidi, nem vici

Vi, não vivi
Não senti onda por ti, não senti
Nem o menor apetite
Não senti o tremelique
Senti
Não me deu onda por ti
Não vivi
Não senti frenesi
Nem o menor apetite
Não senti tremelique
Senti

Primeira vez que eu te vi
Contive os meus palpites
Falei de Rilke, Leminski
Assim que vi seus grafites

Vi, não vivi
Não senti onda por ti, não senti
Nem o menor apetite
Não senti o tremelique
Senti
Não me deu onda por ti
Não vivi
Não senti frenesi
Nem o menor apetite
Não senti tremelique
Senti

BENVINDA, BENVINDA // BUARQUE



Composição: Chico Buarque

Dono do abandono e da tristeza
Comunico oficialmente que há um lugar na minha mesa
Pode ser que você venha por mero favor, ou venha coberta de amor
Seja lá como for, venha sorrindo
Ah, benvinda, benvinda, benvinda
Que o luar está chamando, que os jardins estão florindo
Que eu estou sozinho
Cheio de anseio e de esperança, comunico a toda
Que há lugar na minha dança
Pode ser que você venha morar por aqui, ou venha pra se despedir
Não faz mal pode vir até mentindo
Ah, benvinda, benvinda, benvinda
Que o meu pinho está chorando, que o meu samba está pedindo
Que eu estou sozinho
Vem iluminar meu quarto escuro, vem entrando com o ar puro
Todo novo da manhã
Oh vem a minha estrela madrugada, vem a minha namorada
Vem amada, vem urgente, vem irmã
Benvinda, benvinda, benvinda
Que essa aurora está custando, que a cidade está dormindo
Que eu estou sozinho
Certo de estar perto da alegria, comunico finalmente
Que há lugar na poesia
Pode ser que você tenha um carinho para dar, ou venha pra se consolar
Mesmo assim pode entrar que é tempo ainda
Ah, benvinda, benvinda, benvinda
Ah, que bom que você veio, e você chegou tão linda
Eu não cantei em vão
Benvinda, benvinda, benvinda. benvinda, benvinda

SÓ A BAILARINA QUE NÃO TEM // BUARQUE & EDU LOBO




Ciranda da Bailarina

Procurando bem
Todo mundo tem pereba
Marca de bexiga ou vacina
E tem piriri, tem lombriga,
tem ameba
Só a bailarina que não tem
E não tem coceira
Berruga nem frieira
Nem falta de maneira ela não tem
Futucando bem
Todo mundo tem piolho
Ou tem cheiro de creolina
Todo mundo tem
um irmão meio zarolho
Só a bailarina que não tem
Nem unha encardida
Nem dente com comida
Nem casca de ferida ela não tem
Não livra ninguém
Todo mundo tem remela
Quando acorda às seis da matina
Teve escarlatina
ou tem febre amarela
Só a bailarina que não tem
Medo de subir, gente
Medo de cair, gente
Medo de vertigem
Quem não tem
Confessando bem
Todo mundo faz pecado
Logo assim que a missa termina
Todo mundo tem
um primeiro namorado
Só a bailarina que não tem
Sujo atrás da orelha
Bigode de groselha
Calcinha um pouco velha
Ela não tem
O padre também
Pode até ficar vermelho
Se o vento levanta a batina
Reparando bem,
todo mundo tem pentelho
Só a bailarina que não tem
Sala sem mobília
Goteira na vasilha
Problema na família
Quem não tem
Procurando bem
Todo mundo tem

(Edu Lobo e Chico Buarque)