sábado, 15 de setembro de 2007

“ AFINAL” Álvaro de Campos - Fernando Pessoa

“ AFINAL”

“ Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir.
Sentir tudo de todas as maneiras.
Sentir tudo excessivamente,
Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas
E toda a realidade é um excesso, uma violência,
Uma alucinação extraordinariamente nítida
Que vivemos todos em comum com a fúria das almas,
O centro para onde tendem as estranhas forças centrífugas
Que são as psiques humanas no seu acordo de sentidos.

Quanto mais eu sinta, quanto mais eu sinta como várias pessoas,
Quanto mais personalidade eu tiver,
Quanto mais intensamente, estridentemente as tiver,
Quanto mais simultaneamente sentir com todas elas,
Quanto mais unificadamente diverso, dispersadamente atento,
Estiver, sentir, viver, for,
Mais possuirei a existência total do universo,
Mais completo serei pelo espaço inteiro fora.
Mais análogo serei a Deus, seja ele quem for,
Porque, seja ele quem for, com certeza que é Tudo,
E fora d'Ele há só Ele, e Tudo para Ele é pouco.

Cada alma é uma escada para Deus,
Cada alma é um corredor-Universo para Deus,
Cada alma é um rio correndo por margens de Externo
Para Deus e em Deus com um sussurro soturno.

Sursum corda! Erguei as almas! Toda a Matéria é Espírito,

Porque Matéria e Espírito são apenas nomes confusos
Dados à grande sombra que ensopa o Exterior em sonho
E funde em Noite e Mistério o Universo Excessivo!
Sursum corda! Na noite acordo, o silêncio é grande,
As coisas, de braços cruzados sobre o peito, reparam

Com uma tristeza nobre para os meus olhos abertos
Que as vê como vagos vultos noturnos na noite negra.
Sursum corda! Acordo na noite e sinto-me diverso.
Todo o Mundo com a sua forma visível do costume
Jaz no fundo dum poço e faz um ruído confuso,

Escuto-o, e no meu coração um grande pasmo soluça.

Sursum corda! ó Terra, jardim suspenso, berço
Que embala a Alma dispersa da humanidade sucessiva!
Mãe verde e florida todos os anos recente,
Todos os anos vernal, estival, outonal, hiemal,
Todos os anos celebrando às mancheias as festas de Adônis
Num rito anterior a todas as significações,
Num grande culto em tumulto pelas montanhas e os vales!
Grande coração pulsando no peito nu dos vulcões,
Grande voz acordando em cataratas e mares,
Grande bacante ébria do Movimento e da Mudança,
Em cio de vegetação e florescência rompendo
Teu próprio corpo de terra e rochas, teu corpo submisso
A tua própria vontade transformadora e eterna!
Mãe carinhosa e unânime dos ventos, dos mares, dos prados,
Vertiginosa mãe dos vendavais e ciclones,
Mãe caprichosa que faz vegetar e secar,
Que perturba as próprias estações e confunde
Num beijo imaterial os sóis e as chuvas e os ventos!

Sursum corda! Reparo para ti e todo eu sou um hino!
Tudo em mim como um satélite da tua dinâmica intima
Volteia serpenteando, ficando como um anel
Nevoento, de sensações reminescidas e vagas,
Em torno ao teu vulto interno, túrgido e fervoroso.
Ocupa de toda a tua força e de todo o teu poder quente
Meu coração a ti aberto!
Como uma espada traspassando meu ser erguido e extático,
Intersecciona com meu sangue, com a minha pele e os meus nervos,
Teu movimento contínuo, contíguo a ti própria sempre,

Sou um monte confuso de forças cheias de infinito
Tendendo em todas as direções para todos os lados do espaço,
A Vida, essa coisa enorme, é que prende tudo e tudo une
E faz com que todas as forças que raivam dentro de mim
Não passem de mim, nem quebrem meu ser, não partam meu corpo,
Não me arremessem, como uma bomba de Espírito que estoira
Em sangue e carne e alma espiritualizados para entre as estrelas,
Para além dos sóis de outros sistemas e dos astros remotos.

Tudo o que há dentro de mim tende a voltar a ser tudo.
Tudo o que há dentro de mim tende a despejar-me no chão,
No vasto chão supremo que não está em cima nem embaixo
Mas sob as estrelas e os sóis, sob as almas e os corpos
Por uma oblíqua posse dos nossos sentidos intelectuais.

Sou uma chama ascendendo, mas ascendo para baixo e para cima,
Ascendo para todos os lados ao mesmo tempo, sou um globo
De chamas explosivas buscando Deus e queimando
A crosta dos meus sentidos, o muro da minha lógica,
A minha inteligência limitadora e gelada.

Sou uma grande máquina movida por grandes correias
De que só vejo a parte que pega nos meus tambores,
O resto vai para além dos astros, passa para além dos sóis,
E nunca parece chegar ao tambor donde parte ...

Meu corpo é um centro dum volante estupendo e infinito
Em marcha sempre vertiginosamente em torno de si,
Cruzando-se em todas as direções com outros volantes,
Que se interpenetram e misturam, porque isto não é no espaço
Mas não sei onde espacial de uma outra maneira-Deus.

Dentro de mim estão presos e atados ao chão
Todos os movimentos que compõem o universo,
A fúria minuciosa dos átomos,
A fúria de todas as chamas, a raiva de todos os ventos,
A espuma furiosa de todos os rios, que se precipitam,

A chuva com pedras atiradas de catapultas
De enormes exércitos de anões escondidos no céu.

Sou um formidável dinamismo obrigado ao equilíbrio
De estar dentro do meu corpo, de não transbordar da minh'alma.
Ruge, estoira, vence, quebra, estrondeia, sacode,
Freme, treme, espuma, venta, viola, explode,
Perde-te, transcende-te, circunda-te, vive-te, rompe e foge,
Sê com todo o meu corpo todo o universo e a vida,
Arde com todo o meu ser todos os lumes e luzes,
Risca com toda a minha alma todos os relâmpagos e fogos,
Sobrevive-me em minha vida em todas as direções!

( Álvaro de Campos / Fernando Pessoa - 1888/1935 )


O sensacional show de Francis Hime nos fez lembrar dos grandes tempos do Miguel Pereira Atlético Clube

Em plena vida e violência / Fernando Pessoa

Fernando Pessoa

Em plena vida e violência
Em plena vida e violência
De desejo e ambição,
De repente uma sonolência
Cai sobre a minha ausência.
Desce ao meu próprio coração.

Será que a mente, já desperta
Da noção falsa de viver,
Vê que, pela janela aberta,
Há uma paisagem toda incerta
E um sonho todo a apetecer ?


ATENÇÃO: Postagem prevista a partir de 1ª de outubro. PEDRINHA DE ARUANDA E BETHÂNIA BEM DE PERTO

ATENÇÃO: Postagem prevista a partir de 1ª de outubro.
Todos os pedidos que incluírem este DVD duplo só serão postados a partir desta data.

PEDRINHA DE ARUANDA E BETHÂNIA BEM DE PERTO

Dois DVDs com registros de dois diretores especiais, Andrucha Waddington - "Pedrinha de Aruanda (2006)" e "Júlio Bressane - Bethânia bem de perto (1966)". O filme de Bressane, feito em 66 em preto e branco nos mostra Bethânia recém chegada ao Rio, para substituir Nara Leão no teatro, passeando pela cidade e na intimidade da sua casa com amigos como Macalé, Rosinha de Valença e Caetano Veloso.

O documentário “Maria Bethânia – Pedrinha de Aruanda” é um registro singular da intimidade de uma das maiores intérpretes brasileiras de todos os tempos. O ponto de partida é a comemoração do aniversário de sessenta anos da cantora, celebrados durante uma apresentação em Salvador e uma missa em Santo Amaro, sua cidade natal, em 2006. De lá, a cantora guia o diretor Andrucha Waddington aos lugares do vilarejo que marcaram sua vida. É na casa onde a artista passou sua infância e adolescência que acontece o ápice do filme: a seresta familiar na varanda, com a participação de sua mãe, Dona Canô, do irmão, o cantor e compositor Caetano Veloso, e do violonista e maestro Jaime Alem, entre outros.

Neste encontro, Maria Bethânia revela sua história a partir de músicas que a acompanharam ao longo de sua vida, como os clássicos populares “Gente Humilde” (Garoto), “Felicidade” (Lupicínio Rodrigues) e “A Tristeza do Jeca” (Angelino de Oliveira). Através da simplicidade e lucidez de Dona Canô, o documentário vai de encontro às raízes da cantora para fazer o retrato singelo de uma família genuinamente brasileira.

Faixas

• DVD - Bethânia Bem de Perto

01 Quem me Dera (Caetano Veloso)




02 Coração Vulgar (Paulinho da Viola)




03 Não tem Tradução ( Noel Rosa / Francisco Alves)




04 Olha pro Céu (Luiz Gonzaga / José Fernandes)




05 Deixa (Baden Powell / Vinicius de Moraes)




06 Uma Canção (Vinicius de Moraes / Jards Macalé)




07 Ave Maria (Caetano Veloso - música / Domínio Público - letra)




08 Este seu Olhar (Tom Jobim )




09 Vira Mundo (Gilberto Gil / Capinan)




10 Furacão (Jards Macalé / Capinan)




11 Pierrot Apaixonado (Heitor dos Prazeres / Noel Rosa)




12 Minha Machadinha (Domínio Público)




13 Pra Dizer Adeus (Edu Lobo / Torquato Neto)




14 Apelo (Baden Powell e Vinicius de Moraes)





• DVD - Pedrinha de Aruanda

01 Pedrinha Miudinha (Domínio Público)




02 Gita (Raul Seixas e Paulo Coelho)




03 Parabéns pra você (Domínio Público)




04 Pai Nosso (Domínio Público)




05 Maria Matter Gratiae (Domínio Público)




06 Ofertório (Caetano Veloso)




07 Motriz (Caetano Veloso)




08 Meu Romance (Jota Cascata)




09 Chuá Chuá (Ary Pavão e Pedro de Sá Pereira)




10 Oração de Mãe Menininha (Dorival Caymmi)




11 Felicidade (Lupicínio Rodrigues )




12 Foguete (Roque Ferreira e Jota Velloso)




13 Exemplo (Lupicínio Rodrigues)




14 Tristeza do Geca (Angelino de Oliveira)




15 Lua Bonita (Zé Martins e Zé do Norte)




16 Gente Humilde (Garoto, Vinicius de Moraes e Chico Buarque)





• DVD - Pedrinha de Aruanda (Textos)

I Noturno IV (Mario Quintana)




II O Tejo é mais belo (Alberto Caeiro)




III As Ruazinhas (Mario Quintana)




IV Ultimato (Álvaro de Campos)




terça-feira, 11 de setembro de 2007

julio iglesias -solamente una vez

JULIO IGLESIAS - El dia que me quieras

Nana Caymmi canta "Saveiros"

MARIA BETHANIA - EXEMPLO

MARIA BETHANIA - BALADA DO LADO SEM LUZ

Chico Buarque - Jorge Maravilha

CHAO DE ESMERALDAS CHICO BUARQUE

Chico Buarque and Tom Jobim

Tim Maia Live -"Meu País" "Chocolate" "Não quero dinheiro" "Não quero dinheiro" (Eu só quero amar)

Chico Buarque - Feijoada Completa no piano Francis Hime

Chico Buarque - Tanto Mar

Joana - Amanhã Talvez

ROBERTO CARLOS - CAMA Y MESA-VIVO EN CASTELLANO

ROBERTO CARLOS - LA PAZ DE TU SONRISA

ROBERTO CARLOS - COMO E GRANDE MEU AMOR POR VOCE-VIVO

ROBERTO CARLOS-COMO VAI VOCE(QUE SERA DE TI) EN VIVO

DETALHES - ROBERTO CARLOS

Otra Vez - Maria Bethania

Formosa - Maria Bethânia

Astrud Gilberto - Ponteio

Correnteza / Antonio Carlos Jobim / Luiz Bonfá



Correnteza

A correnteza do rio vai levando aquela flor
O meu bem já está dormindo
zombando do meu amor
zombando do meu amor

Na barranceira do rio o ingá se debruçou
E a fruta que era madura
a correnteza levou
a correnteza levou
a correnteza levou, ah

E choveu uma semana e eu não vi o meu amor
O barro ficou marcado aonde a boiada passou
Depois da chuva passada céu azul se apresentou
Lá na beira da estrada vem vindo o meu amor
vem vindo o meu amor
vem vindo o meu amor

Ôu dandá, ôu dandá, ôu dandá, ôu dandá

E choveu uma semana e eu não vi o meu amor
O barro ficou marcado aonde a boiada passou

A correnteza do rio vai levando aquela flor
E eu adormeci sorrindo
Sonhando com nosso amor
Sonhando com nosso amor
Sonhando...

Ôu dandá etc...

Por causa de você - Gal Costa

Gal Costa - Nossos Momentos

GAL COSTA / Vento (Caymmi)

domingo, 9 de setembro de 2007

Somewhere over the rainbow - what a wonderful world

Saudade / Autor: Pablo Neruda

Saudade

Autor: Pablo Neruda

Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já ...
Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida ...
Saudade é sentir que existe o que não existe mais ...
Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam ...
Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.
E esse é o maior dos sofrimentos: não ter por
quem sentir saudades, passar pela vida e não viver.
O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido ...

A vida../ Mário Quintana

A vida..

Mário Quintana

A vida são deveres que nós trouxemos pra fazer em casa.
Quando se vê já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê, passaram-se 50 anos!
Agora, é tarde demais
para ser reprovado...
Se me fosse dada, um dia,
outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente
e iria jogando, pelo caminho,
a casca dourada
inútil das horas...

Dessa forma eu digo, não deixe

de fazer algo que gosta devido

a falta de tempo, a única falta

que terá, será desse tempo que

infelizmente não voltará mais.

Carlos Drummond de Andrade

Carlos Drummond de Andrade

Desejo a você fruto do mato,

cheiro de jardim, namoro no portão,

domingo sem chuva, segunda sem mau humor,

sábado com seu amor, filme de Carlitos,

chope com os amigos, crônica de Rubem Braga,

viver sem inimigos, filme antigo na tv,

ter uma pessoa especial, e que ela goste de você,

música de Tom com letra de Chico, frango caipira em pensão no interior,

ouvir uma palavra agradável, ter uma surpresa agradável,

ver a banda passar, noite de lua cheia,

rever uma velha amizade, te fé em Deus,

não ter que ouvir a palavra “não”,

nem nunca, nem jamais adeus.

Rir como criança, ouvir canto de passarinho,

sarar de resfriado, escrever um poema de amor que nunca será rasgado,

formar um par ideal, tomar banho de cachoeira,

pegar um bronzeado legal, aprender uma nova canção,

esperar alguém na estação, queijo com goiabada,

pôr de sol na roça, uma festa, um violão, uma seresta,

recordar um amor antigo, ter um ombro sempre amigo,

bater palmas de alegria, uma tarde amena,

calçar um velho chinelo, sentar numa velha poltrona,

ouvir a chuva no telhado, vinho branco, Bolero de Ravel . . .

e muito carinho meu !!! “

Almas perfumadas / Carlos Drummond

Almas perfumadas


Tem gente que tem cheiro de passarinho quando canta.
De sol quando acorda.
De flor quando ri.
Ao lado delas, a gente se sente no balanço de uma rede que dança gostoso numa tarde grande, sem relógio e sem agenda.
Ao lado delas, a gente se sente comendo pipoca na praça.
Lambuzando o queixo de sorvete. Melando os dedos com algodão doce da cor mais doce que tem pra escolher. O tempo é outro. E a vida fica com a cara que ela tem de verdade, mas que a gente desaprende de ver. Tem gente que tem cheiro de colo de Deus.
De banho de mar quando a água é quente e o céu é azul.
Ao lado delas, a gente sabe que os anjos existem e que alguns são invisíveis. Ao lado delas, a gente se sente chegando em casa e trocando o salto pelo chinelo.
Sonhando a maior tolice do mundo com o gozo de quem não liga pra isso. Ao lado delas, pode ser abril, mas parece manhã de Natal do tempo em que a gente acordava e encontrava o presente do Papai Noel. Tem gente que tem cheiro das estrelas que Deus acendeu no céu e daquelas que conseguimos acender na Terra. Ao lado delas, a gente não acha que o amor é possível, a gente tem certeza.
Ao lado delas, a gente se sente visitando um lugar feito de alegria.
Recebendo um buquê de carinhos.
Abraçando um filhote de urso panda.
Tocando com os olhos os olhos da paz.
Ao lado delas, saboreamos a delícia do toque suave que sua presença sopra no nosso coração. Tem gente que tem cheiro de cafuné sem pressa.
Do brinquedo que a gente não largava.
Do acalanto que o silêncio canta.
De passeio no jardim.
Ao lado delas, a gente percebe que a sensualidade é um perfume que vem de dentro e que a atração que realmente nos move não passa só pelo corpo. Corre em outras veias.
Pulsa em outro lugar.
Ao lado delas, a gente lembra que no instante em que rimos Deus está conosco, juntinho ao nosso lado. E a gente ri grande que nem menino arteiro. Tem gente como você que nem percebe como tem a alma Perfumada!
E que esse perfume é dom de Deus.

Carlos Drummond