segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

FERNANDO PESSOA / NAVEGUE

Navegue

Navegue, descubra tesouros, mas não os tire do fundo do mar, o lugar deles é lá.

Admire a lua, sonhe com ela, mas não queira trazê-la para a terra.

Curta o sol, se deixe acariciar por ele, mas lembre-se que o seu calor é para todos.

Sonhe com as estrelas, apenas sonhe, elas só podem brilhar no céu.

Não tente deter o vento, ele precisa correr por toda parte, ele tem pressa de chegar sabe-se lá onde.

Não apare a chuva, ela quer cair e molhar muitos rostos, não pode molhar só o seu.

As lágrimas?

Não as seque, elas precisam correr na minha, na sua, em todas as faces.

O sorriso!

Esse você deve segurar, não o deixe ir embora, agarre-o!

Quem você ama?

Guarde dentro de um porta-jóias, tranque, perca a chave!

Quem você ama é a maior jóia que você possui, a mais valiosa.

Não importa se a estação do ano muda, se o século vira, se o milênio é outro, se a idade aumenta...

Conserve a vontade de viver, não se chega à parte alguma sem ela.

Abra todas as janelas que encontrar e as portas também.

Persiga um sonho, mas não o deixe viver sozinho.

Alimente sua alma com amor, cure suas feridas com carinho.

Descubra-se todos os dias, deixe-se levar pelas vontades, mas não enlouqueça por elas.

Procure, sempre procure o fim de uma história, seja ela qual for.

Dê um sorriso para quem esqueceu como se faz isso.

Acelere seus pensamentos, mas não permita que eles te consumam.

Olhe para o lado, alguém precisa de você.

Abasteça seu coração de fé, não a perca nunca.

Mergulhe de cabeça nos seus desejos e satisfaça-os.

Agonize de dor por um amigo, só saia dessa agonia se conseguir tirá-lo também.

Procure os seus caminhos, mas não magoe ninguém nessa procura.

Arrependa-se, volte atrás, peça perdão!

Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário.

Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas.

Se achar que precisa voltar, volte!

Se perceber que deve seguir, siga!

Se estiver tudo errado, comece novamente.

Se estiver tudo certo, continue.

Se sentir saudades, mate-a.

Se perder um amor, não se perca!

Se achá-lo, segure-o!

Circunda-te de rosas, ama, bebe e cala.


"O mais é nada".

Seja feliz!!!

Autor: Fernando Pessoa

domingo, 30 de dezembro de 2007

PANDEIRO

MARTINHO DA VILA

Millôr Fernandes / Poemeu - A superstição é imortal

Poemeu - A superstição é imortal

Millôr Fernandes


Quando eu era bem menino
Tinha fadas no jardim
No porão um monstro albino
E uma bruxa bem ruim.

Cada lâmpada tinha um gênio
Que virava ano em milênio
E, coisa bem mais perversa,
Sapo em rei e vice-versa.

Tinha Ciclope,Centauro,
Autósito, Hidra e megera,
Fênix, Grifo, Minotauro,
Magia, pasmo e quimera.

Mas aí surgiram no horizonte
Além de Custer e seus confederados
A tecnologia mastodonte
Com tecnologistas bem safados
Esses homens da ciência me provaram
Que duendes, bruxas e omacéfalos
Eram produtos imbecis de meu encéfalo.
Nunca existiram e nunca existirão:
uma decepção!

Mas continuo inocente, acho.
Ou burro, bobo, ou borracho.
Pois toda noite eu vejo todo dia
Tudo que é estranho, raro, ou anomalia:
Padres sibilas
Hidras estruturalistas
Ministros gorilas
Avis raras feministas
Políticos de duas cabeças
Unicórnios marxistas
Antropólogas travessas
Mactocerontes psicanalistas
Cisnes pretos arquitetos
Economistas sereias
Democratas por decreto
E beldades feias
Que invadem a minha caverna
E me matam de aflição
Saindo da lanterna
Da televisão.


Com a publicação do "poemeu" acima comemoramos os 79 anos de nascimento do autor. Foi extraído do livro "Millôr Fernandes — Poemas", L&PM Editores - Porto Alegre, 1984, pág. 92.

sábado, 22 de dezembro de 2007

sábado, 15 de dezembro de 2007

RODA DE CHORO

PAULINHO DA VIOLA E TERESA CRISTINA

(Paramahansa Yogananda)

'Pai eu sou a onda, faz de mim o MAR'

(Paramahansa Yogananda)


MUDE / EDSON MARQUES

Mude

De Edson Marques.

"Mude,
mas comece devagar,
porque a direção é mais importante
que a velocidade.

"Sente-se em outra cadeira,
no outro lado da mesa.
Mais tarde, mude de mesa.

"Quando sair,
procure andar pelo outro lado da rua.
Depois, mude de caminho,
ande por outras ruas, calmamente,
observando com atenção
os lugares por onde você passa.

"Tome outros ônibus.
Mude por uns tempos o estilo das roupas.
Dê os seus sapatos velhos.
Procure andar descalço alguns dias.

"Tire uma tarde inteira
para passear livremente na praia,
ou no parque,
e ouvir o canto dos passarinhos.

"Veja o mundo de outras perspectivas.
Abra e feche as gavetas
e portas com a mão esquerda.

"Durma no outro lado da cama...
depois, procure dormir em outras camas.

"Assista a outros programas de tv,
compre outros jornais...
leia outros livros,
Viva outros romances.

"Não faça do hábito um estilo de vida.
Ame a novidade.
Durma mais tarde.
Durma mais cedo.

"Aprenda uma palavra nova por dia
numa outra língua.
Corrija a postura.
Coma um pouco menos,
escolha comidas diferentes,
novos temperos, novas cores,
novas delícias.

"Tente o novo todo dia.
o novo lado,
o novo método,
o novo sabor,
o novo jeito,
o novo prazer,
o novo amor,
a nova vida.

"Tente.

"Busque novos amigos.
Tente novos amores.

"Faça novas relações.

"Almoce em outros locais,
vá a outros restaurantes,
tome outro tipo de bebida
compre pão em outra padaria.
Almoce mais cedo,
jante mais tarde ou vice-versa.

"Escolha outro mercado...
outra marca de sabonete,
outro creme dental...
tome banho em novos horários.

"Use canetas de outras cores.
Vá passear em outros lugares.
Ame muito,
cada vez mais,
de modos diferentes.

"Troque de bolsa,
de carteira,
de malas,
troque de carro,
compre novos óculos,
escreva outras poesias.

"Jogue os velhos relógios,
quebre delicadamente
esses horrorosos despertadores.

"Abra conta em outro banco.
Vá a outros cinemas,
outros cabeleireiros,
outros teatros,
visite novos museus.

"Mude.

"Lembre-se de que a Vida é uma só.
E pense seriamente em arrumar um outro
emprego,
uma nova ocupação,
um trabalho mais light,
mais prazeroso,
mais digno,
mais humano.

"Se você não encontrar razões para ser livre,
invente-as.
Seja criativo.

"E aproveite para fazer uma viagem
despretensiosa,
longa, se possível sem destino.

"Experimente coisas novas.
Troque novamente.
Mude, de novo.
Experimente outra vez.

"Você certamente conhecerá coisas melhores
e coisas piores do que as já conhecidas,
mas não é isso o que importa.
O mais importante é a mudança,
o movimento,
o dinamismo,
a energia.
Só o que está morto não muda!

"Repito por pura alegria de viver:
a salvação é pelo risco, sem o qual a vida
Só o que está morto não muda!

"'Repito por pura alegria de viver:
a salvação é pelo risco,
sem o qual a vida não vale a pena.'"


livro 'Mude' de Edson Marques

"Não faça do hábito um estilo de vida."

Citação de Antonio Abujamra ao prefaciar o livro "Mude" (Editora Original, ISBN 85-88948-20-6), de Edson Marques. Abujamra completa: "é um estilo de provocação apaixonante e não existe um leitor que não fique preso às palavras de coragem que mostram a necessidade de não nos enganarmos sobre nós mesmos."

Poeta, formado em Filosofia pela USP, Edson Marques foi vencedor do Prêmio Cervantes/Ibéria em 1993. Sócio-fundador da Ordem Nacional dos Escritores, ele de diz "um socialista romântico".



sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

EXPLORAÇÃO INFANTIL

Apresentação contra instalação de usinas de cana

Grupo Teatral Arte & Manha - O Cio da Terra

O CIO DA TERRA

arca de noé 1 - o pato [mpb 4]

arca de noé 1 - menininha [toquinho]

arca de noé 1 - o gato [marina lima]

arca de noé 1 - aula de piano [as frenéticas]

arca de noé 1 - as abelhas [moraes moreira]

ARCA DE NOÉ / A FOCA / ALCEU VALENÇA

MILTON NASCIMENTO / ARCA DE NOÉ

Sophia de Mello Breyner Andresen / Retrato de uma princesa desconhecida

Sophia de Mello Breyner Andresen


Retrato de uma princesa desconhecida


Para que ela tivesse um pescoço tão fino
Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule
Para que os seus olhos fossem tão frontais e limpos
Para que a sua espinha fosse tão direita
E ela usasse a cabeça tão erguida
Com uma tão simples claridade sobre a testa
Foram necessárias sucessivas gerações de escravos
De corpo dobrado e grossas mãos pacientes
Servindo sucessivas gerações de príncipes
Ainda um pouco toscos e grosseiros
Ávidos cruéis e fraudulentos


Foi um imenso desperdiçar de gente
Para que ela fosse aquela perfeição
Solitária exilada sem destino

Fernando Pessoa / Ela canta, pobre ceifeira

Fernando Pessoa


Ela canta, pobre ceifeira,
Julgando-se feliz talvez;
Canta, e ceifa, e a sua voz, cheia
De alegre e anônima viuvez,

Ondula como um canto de ave
No ar limpo como um limiar,
E há curvas no enredo suave
Do som que ela tem a cantar.

Ouvi-la alegra e entristece,
Na sua voz há o campo e a lida,
E canta como se tivesse
Mais razões pra cantar que a vida.

Ah, canta, canta sem razão !
O que em mim sente 'stá pensando.
Derrama no meu coração a tua incerta voz ondeando !

Ah, poder ser tu, sendo eu !
Ter a tua alegre inconsciência,
E a consciência disso ! Ó céu !
Ó campo ! Ó canção ! A ciência

Pesa tanto e a vida é tão breve !
Entrai por mim dentro ! Tornai
Minha alma a vossa sombra leve !
Depois, levando-me, passai !

VINICICIUS DE MORAES / A PORTA

Vinicius de Moraes


A porta


Eu sou feita de madeira
Madeira, matéria morta
Mas não há coisa no mundo
Mais viva do que uma porta.


Eu abro devagarinho
Pra passar o menininho
Eu abro bem com cuidado
Pra passar o namorado
Eu abro bem prazenteira
Pra passar a cozinheira
Eu abro de sopetão
Pra passar o capitão.


Só não abro pra essa gente
Que diz (a mim bem me importa . . .)
Que se uma pessoa é burra
É burra como uma porta.


Eu sou muito inteligente!


Eu fecho a frente da casa
Fecho a frente do quartel
Fecho tudo nesse mundo
Só vivo aberta no céu!

MATINHO DA VILA

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

sábado, 1 de dezembro de 2007

CORA CORALINA

Não podemos acrescentar dias à nossa vida, mas podemos acrescentar vida aos nossos dias.
Todos estamos matriculados na escola da vida, onde o mestre é o tempo
Eu sou aquela mulher que fez a escalada da montanha da vida removendo pedras e plantando flores.
Vive dentro de mim a mulher roceira. Enxerto de terra.
Trabalhadeira. Analfabeta. De pé no chão. Bem parideira. Bem criadeira. Seus doze filhos, seus vinte netos.
Nasci em tempos rudes.
Aceitei contradições, lutas e pedras como lições de vida e delas me sirvo.
Aprendi a viver.
Venho do século passado e trago comigo todas as idades do mundo.
(Quando completou 95 anos )
Que pretendes mulher?/ Independência, igualdade de
condições.../ Empregos fora do lar?/ És superior àqueles/ que procuras imitar./
Tens o dom divino de ser mãe./ Em ti está presente a humanidade.
Que eu possa dignificar minha condição de mulher, aceitar suas limitações e me
fazer pedra de segurança dos valores que vão desmoronando.
Não te deixes destruir...
Ajuntando novas pedras e construindo novos poemas, recria tua vida, sempre, sempre.
O saber a gente aprende com os mestres e com os livros.
A sabedoria se aprende é com a vida e com os humildes.
Poeta é a sensibilidade acima do vulgar. Poeta é o operário, o artífice da palavra. E com ela
compõe a ourivesaria de um verso. Poeta é ser ambicioso, insatisfeito, procurando no jogo das
palavras, no imprevisto texto, atingir a perfeição inalcançável.
Muitas vezes basta ser: colo que acolhe; braço que envolve, palavra que conforta; silêncio que respeita; alegria que contagia; lágrima que corre; olhar que acaricia; desejo que sacia; amor que promove.
Acredito nos jovens à procura de caminhos novos abrindo espaços largos na vida.
Creio na superação das incertezas deste fim de século.
O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando no fim terás o que colher.
Eu sou aquela mulher a quem o tempo muito ensinou.
Ensinou a amar a vida, não desistir da luta.
Recomeçar na derrota. Aprendi que mais vale lutar do que recolher dinheiro fácil. Antes
acreditar do que duvidar.
Cora Coralina

FRANCIS HIME

John Patitucci - Suite for Cello No. 1 in G Major - Prelude

'Air' from Suite No.3 in D major - Johann Sebastian Bach

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

domingo, 18 de novembro de 2007

VINICIUS DE MORAES

VINICIUS DE MORAES

VINICIUS DE MORAES

VINICIUS DE MORAES

VINICIUS DE MORAES

VINICIUS DE MORAES

VINICIUS DE MORAES

VINICIUS DE MORAES

VINICIUS DE MORAES

VINICIUS DE MORAES

VINICIUS DE MORAES


VINICIUS DE MORAES

VINICIUS DE MORAES

VINICIUS DE MORAES

VINICIUS DE MORAES

VINICIUS DE MORAES

VINICIUS DA MORAES

VINICIUS DE MORAES

VINICIUS DE MORAES

VINICIUS DA MORAES

VINICIUS DA MORAES

VINICIUS DA MORAES

VINICIUS DE MORAES

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

CLARO DE LUNA- BEETHOVEN-








lindíssimo !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Poema Pablo Neruda

Pablo Neruda - "Me gustas cuando callas..." en su voz

PABLO NERUDA, POEMA 20



Tengo en mi cabecera obras de Neftalí Ricardo Reyes Basoalto, el gran Neruda: "Crepusculario", "Veinte poemas de amor y una canción desesperada", "Residencia en la tierra", "Tercera residencia", "Canto general", "Los versos del capitán", "Odas elementales", "Extravagario", "Memorial de Isla Negra" y "Confieso que he vivido".

"VEINTE POEMAS DE AMOR Y UNA CANCION DESESPERADA" escrito por el genio de las letras´en 1924 es una colección de poemas de amor, con un tinte nostalgico y la influencia del modernismo.

En realidad el título es tal cual: POEMA XX.

FOTOS E POEMAS

OSWALDO MONTENEGRO / OLHAR DE TELA

OSWALDO MONTENEGRO / A LISTA

OSWALDO MONTENEGRO / METADE

Oswaldo Montenegro - Flor da Idade(A Noiva da Cidade)

MARTINHO DA VILA

Simone & Martinho da Vila

Sophia de Mello Breyner Andresen / Noite de Abril


Noite de Abril

Hoje, noite de Abril, sem lua, A minha rua É outra rua.  Talvez por ser mais que nenhuma escura E bailar o vento leste A noite de hoje veste As coisas conhecidas de aventura.  Uma rua nova destruiu a rua do costume. Como se sempre nela houvesse este perfume De vento leste e Primavera, A sombra dos muros espera  Alguém que ela conhece. E às vezes, o silêncio estremece Como se fosse a hora de passar alguém Que só hoje não vem. 

Sophia de Mello Breyner Andresen
Obra Poética I
Caminho

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

ZECA PAGODINHO / MANEIRAS

ZECA PAGODINHO / GAFIEIRA

CARTOLA / ALVORADA

Sophia de Mello Breyner / Praia


Praia

Na luz oscilam os múltiplos navios 
Caminho ao longo dos oceanos frios

As ondas desenrolam os seus braços

E brancas tombam de bruços

A praia é lis e longa sob o vento

Saturada de espaços e maresia
E para trás fica o murmúrio das ondas enroladas como búzios.


Sophia de Mello Breyner Andresen / Chamo-Te

Chamo-Te

Chamo-Te porque tudo está ainda no princípio 
E suportar é o tempo mais comprido.

Peço-Te que venhas e me dês a liberdade,
Que um só de Teus olhares me purifique e acabe.

Há muitas coisas que não quero ver.

Peço-Te que sejas o presente.
Peço-Te que inundes tudo.
E que o Teu reino antes do tempo venha
E se derrame sobre a Terra
Em Primavera feroz precipitado.



Zélia Duncan e Ana Costa - MAS QUEM DISSE QUE EU TE ESQUEÇO

ZÉLIA DUNCAN / MEUS OLHOS




Às vezes tudo que eu quero
É mergulhar numa paixão eterna
Eu sonho tanto, a todo momento
Quando o sol se põe e a chuva cai
Vêm as sensações tão naturais
É claro nos meus olhos
Se disfarço meus desejos
Repara nos meus olhos
Se disfarço

Às vezes tudo que eu quero
É ser herói por uns segundos
Soltos no espaço
São muitos segredos
E se a solidão me tem demais
Às vezes me sinto estranha
Mas, repara nos meus olhos
Se disfarço tanto

Eu posso até inventar
Mentiras diversas
Mil idéias sem sentido
Galanteios de bandido
Outros beijos, outras festas
Repara nos meus olhos
Se disfarço meus desejos
Repara nos meus olhos
Se disfarço tanto

LEGIÃO URBANA / Quando o sol bater...

Sophia de Mello Breyner Andresen / "SE "

"Se"

Se tanto me dói que as coisas passem
É porque cada instante em mim foi vivo
Na luta por um bem definitivo
Em que as coisas de amor se eternizassem.




Sophia de Mello Breyner Andresen / Os pássaros



Os pássaros

Ouve que estranhos pássaros de noite
Tenho defronte da janela:
Pássaros de gritos sobreagudos e selvagens
O peito cor de aurora, o bico roxo,
Falam-se de noite, trazem dos abismos da noite lenta e quieta
Palavras estridentes e cruéis.
Cravam no luar as suas garras
E a respiração do terror desce
Das suas asas pesadas.



Sophia de Mello Breyner Andresen
Antologia
Círculo de Poesia
Moraes Editores
1975

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Sophia de Mello Breyner Andresen / Um dia branco



Dai-me um dia branco, um mar de beladona
Um movimento
Inteiro, unido, adormecido
Como um só momento.

Eu quero caminhar como quem dorme
Entre países sem nome que flutuam.

Imagens tão mudas
Que ao olhá-las me pareça
Que fechei os olhos.

Um dia em que se possa não saber.



Sophia de Mello Breyner Andresen
Antologia
Círculo de Poesia
Moraes Editores
1975

LEGIÃO URBANA / SERA

Sophia de Mello Breyner Andresen / As pessoas sensíveis


As pessoas sensíveis

As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas


O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra


"Ganharás o pão com o suor do teu rosto"
Assim nos foi imposto
E não:
"Com o suor dos outros ganharás o pão."


Ó vendilhões do templo
Ó constructores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito


Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem.



Sophia de Mello Breyner Andresen
(Livro sexto)

LINDÍSSIMO !!!

Sophia Andresen / UM POEMA EXEMPLAR

Um poema exemplar

Um poema exemplar: em linhas como:

«Cidade, rumor e vaivém sem paz das ruas,

Ó vida suja, hostil, inutilmente gasta,

Saber que existe o mar e existem praias nuas,

Montanhas sem nome e planícies mais vastas

Que o mais vasto desejo,

E eu estou em ti fechada e apenas vejo

Os muros e as paredes e não vejo

Nem o crescer do mar nem o mudar das luas.

Saber que tomas em ti a minha vida

E que arrastas pela sombra das paredes

A minha alma que fora prometida

Às ondas brancas e às florestas verdes»



(Sophia Andresen
«Cidade», Livro Sexto)

Os troncos das árvores / Sophia de Mello Breyner Andresen


Os troncos das árvores

Os troncos das árvores doem-me como se fossem os meus ombros
Doem-me as ondas do mar como gargantas de cristal
Dói-me o luar como um pano branco que se rasga.



Sophia de Mello Breyner Andresen
Antologia
Círculo de Poesia
Moraes Editores
1975

LEGIÃO URBANA / TEMPO PERDIDO

TOM JOBIM / SAMBA DE UMA NOTA SÓ

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

O Haver - Vinicius de Moraes (participação de Edu Lobo)

vinicius de moraes bebado falando de sua primeira mulher

Chico Buarque, "Desconstrução" (Biscoito Fino)

A primeira vista - Chico Cesar

Group Avalon - mama africa

Chico César e Xangai cantam "Estampas Eucalol"

Chico César - "De uns tempos pra cá"

Chico Buarque en castellano, QUÉ SERÁ



Oh qué será qué será
Que andan suspirando por las alcobas
Que andan susurrando en versos y trovas
Que andan escondiendo bajo las ropas
Que anda en las cabezas y anda en las bocas
Que va encendiendo velas en callejones
Que están hablando alto en los bodegones
Gritan en el mercado
Está con certeza en la naturaleza
Será que será
Que no tiene certeza ni nunca tendrá
Lo que no tiene arreglo ni nunca tendrá
Que no tiene tamaño

Oh qué será qué será
Que vive en las ideas de los amantes
Que cantan los poetas más delirantes
Que juran los profetas embriagados
Que está en las romerías de mutilados
Que está en las fantasías más infelices
Lo sueñan de mañana las meretrices
Lo piensan los bandidos los desvalidos
En todos los sentidos
Será qué será
Que no tiene decencia ni nunca tendrá
Que no tiene censura ni nunca tendrá
Que no tiene sentido

Oh qué será qué será
Que todos los avisos no van a evitar
Porque todas las risas van a desafiar
Y todas las campanas van a repicar
Porque todos los himnos van a consagrar
Porque todos los niños se han de desatar
Y todos los destinos se irán a encontrar
Y el mismo padre eterno que nunca fue allá
Al ver aquel infierno lo bendecirá
Que no tiene gobierno ni nunca tendrá
Que no tiene vergüenza ni nunca tendrá
Lo que no tiene juicio