sábado, 24 de março de 2007

Trecho de poema sem título de Fernando Pessoa



"Nessa vida em que sou meu sono
Eu não sou meu dono
Quem sou é quem me ignoro
E vive através dessa névoa que sou eu
Todas as vidas que outrora tive numa só vida
Mar sou; baixo marulho ao meu alto rujo
Mas minha cor vem do meu alto céu
E só me encontro quando de mim fujo"


Trem de Alagôa (ASCENSO FERREIRA)

ASCENSO FERREIRA

O sino bate,
o condutor apita o apito,
Solta o trem de ferro um grito,
põe-se logo a caminhar…

- Vou danado pra Catende,
vou danado pra Catende,
vou danado pra Catende
com vontade de chegar...

Mergulham mocambos,
nos mangues molhados,
moleques, mulatos,
vêm vê-lo passar.

Adeus !
- Adeus !

Mangueiras, coqueiros,
cajueiros em flor,
cajueiros com frutos
já bons de chupar...

- Adeus morena do cabelo cacheado !

Mangabas maduras,
mamões amarelos,
mamões amarelos,
que amostram molengos
as mamas macias
pra a gente mamar

- Vou danado pra Catende,

vou danado pra Catende,
vou danado pra Catende
com vontade de chegar...

FILOSOFIA


Filosofia

Ascenso Ferreira
(A José Pereira de Araújo -
"Doutorzinho de Escada").


Hora de comer — comer!

Hora de dormir — dormir!

Hora de vadiar — vadiar!

Hora de trabalhar?

— Pernas pro ar que ninguém é de ferro!


Poeta pernambucano, Ascenso Carneiro Gonçalves Ferreira nasceu na cidade de Palmares no ano de 1895. Dizem que começou a atividade literária enganado, compondo sonetos, baladas e madrigais. Depois da "Semana de Arte Moderna" e sob a influência de Guilherme de Almeida, Manuel Bandeira e de Mário de Andrade, tomou rumos novos e achou um caminho que o conduziria a uma situação de relevo nas letras pernambucanas e nacionais. Voltou-se para os temas regionais de sua terra que foram reunidos em seus livros "Catimbó" (1927), "Cana caiana" (1939), "Poemas 1922-1951" (1951), "Poemas 1922-1953" (1953), "Catimbó e outros poemas" (1963), "Poemas" (1981) e "Eu voltarei ao sol da primavera" (1985).
Foram publicados postumamente, em 1986, "O Maracatu", "Presépios e Pastoris" e "O Bumba-Meu-Boi: Ensaios Folclóricos", em livro organizado por Roberto Benjamin. Distingue-se não pela quantidade, mas pela qualidade, atingindo não raro efeitos novos, originais, imprevistos, em matéria de humorismo e sátira. O poeta faleceu na cidade do Recife (PE), em 1965.


Poema publicado em "Catimbó e Outros Poemas", Editora José Olympio - Rio de Janeiro, 1963, foi extraído do livro "
Os Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século", Editora Objetiva - Rio de Janeiro, 2001, pág. 83, organizada por Ítalo Moriconi.

BIOGRAFIA

Ascenso Carneiro Gonçalves Ferreira (Palmares PE, 1895 - Recife PE, 1965). Começou a colaborar em jornais em 1912, em Palmares e Recife PE. Em 1917 fundou, com Antonio de Barros Carvalho, Antonio Freire e Artur Griz, entre outros, a sociedade Hora Literária de Palmares. Em 1922 tornou-se colaborador nos jornais recifenses Diário de Pernambuco e A Província. Dois anos depois, passou a escrever para os periódicos Mauricéia, Revista do Norte, Revista de Pernambuco, A Pilhéria, Revista da Cidade e Revista de Antropofagia. Participou, em 1926, do I Congresso Regionalista do Nordeste e, em 1934, do Congresso Afro-Brasileiro, ambos realizados em Recife. Seu primeiro livro de poesia, Catimbó, foi lançado em 1927. Em 1939 publicou a obra poética Cana Caiana; seguiram-se Poemas, 1922/1951 (1951), Poemas, 1922/1953 (1953), Catimbó e Outros Poemas (1963), Poemas (1981) e Eu Voltarei ao Sol da Primavera (1985). Na década de 1940 realizou conferências e estudos sobre divertimentos populares do Nordeste. Participou da campanha presidencial de Juscelino Kubitschek, em 1955. Foram publicados postumamente, em 1986, O Maracatu, Presépios e Pastoris e O Bumba-Meu-Boi: Ensaios Folclóricos, em livro organizado por Roberto Benjamin. A poesia de Ascenso Ferreira filia-se à primeira geração do Modernismo. Para Manuel Bandeira, ?os poemas de Ascenso são verdadeiras rapsódias do Nordeste, nas quais se espelha amoravelmente a alma ora brincalhona, ora pungentemente nostálgica das populações dos engenhos e do sertão?.

Minha escola (Ascenso Ferreira)


A escola que eu frequentava era cheia de grades como as prisões.
E o meu Mestre, carrancudo como um dicionário;
Complicado como as Matemáticas;
Inacessível como Os Lusíadas de Camões!

À sua porta eu estava sempre hesitante...
De um lado a vida... — A minha adorável vida de criança:
Pinhões... Papagaios... Carreiras ao sol...
Vôos de trapézio à sombra da mangueira!
Saltos da ingazeira pra dentro do rio...
Jogos de castanhas...
— O meu engenho de barro de fazer mel!

Do outro lado, aquela tortura:
"As armas e os barões assinalados!"
— Quantas orações?
— Qual é o maior rio da China?
— A 2 + 2 A B = quanto?
— Que é curvilíneo, convexo?
— Menino, venha dar sua lição de retórica!
— "Eu começo, atenienses, invocando
a proteção dos deuses do Olimpo
para os destinos da Grécia!"
— Muito bem! Isto é do grande Demóstenes!
— Agora, a de francês:
— "Quand le christianisme avait apparu sur la terre..."
— Basta
— Hoje temos sabatina...
— O argumento é a bolo!
— Qual é a distância da Terra ao Sol?
— ?!!
— Não sabe? Passe a mão à palmatória!
— Bem, amanhã quero isso de cor...

Felizmente, à boca da noite,
eu tinha uma velha que me contava histórias...
Lindas histórias do reino da Mãe-d'Água...
E me ensinava a tomar a bênção à lua nova.



Poema "Senhora das tempestades" - Manuel Alegre

"Senhora das tempestades e dos mistérios originais
Quando tu chegas,a terra treme do lado esquerdo
Trazes a assombração
As conjunções fatais
E as vozes negras da noite
Senhora do meu espanto e do meu medo
Senhora das marés vivas e das praias batidas pelo vento
Senhora do vento norte com teu manto de sal e espuma
Há uma lua do avesso quando chegas
Há um poema escrito em página nenhuma
Quando caminhas sobre as águas
Senhora dos sete mares
Conjugação de fogo e luz
E no entanto eclipse.......



Trecho do poema "O trem de alagoas"- Ascenso Ferreiro

"Vou danado pra Catende
Vou danado pra Catende
Vou danado pra Catende
Com vontade de chegar

Mergulham mocambos
Nos mangues molhados
Moleques mulatos
Vem vê-lo passar

Adeus, adeus
Mangueiras, coqueiros
Cajueiros em flor
Cajueiros com frutos
Já bons de chupar

Adeus morena do cabelo cacheado

Vou danado pra Catende
Vou danado pra Catende
Vou danado pra Catende
Com vontade de chegar

Cana Caiana
Cana roxa
Cana fita
Cada qual é mais bonita
Todas boas de chupar

Vou danado pra Catende
Vou danado pra Catende
Vou danado pra Catende
Com vontade de chegar."


????????????????????

sexta-feira, 23 de março de 2007

METÁSTASE (Su Letras 1 período - Candelária)

Metástase

Olhos fechados. Dei as costas para a vida, não quero ouvi-la respirar. O mundo tem estado em ruínas por estes dias, lentamente as paredes e o céu desmoronam e as cinzas se espalham pelo ar. Desabando a cada segundo, a cada grão que cai na ampulheta. Desmontamo-nos de nossos restos de suspiros, pulsações e alegrias tristes. Nossa máscara pálida e manchada não esconde mais o interior pútrido de nossa natureza.

Olhamos para o céu cinzento, pela janela sem vidro que embaça ao arfar de nosso hálito ácido. Nos trancafiamos em nossas torres com nossas trancas enferrujadas, pintando nossos anseios com o pó dos escombros de nós mesmos. Perde-se o que nunca se teve, escorrendo pelos dedos como areia e desfazendo-se ao vento como vapor. Nos atiramos em fogueiras, mas a carne não queima, apenas por dentro secamos, um deserto desbotado e tão silencioso quanto uma repetição de estrondos que se perdem no eco. A garganta se contorce com as entranhas, o coração atrofiado, mesmo assim se espreme, dilata e bombeia essa fumaça negra. Qual é a pergunta? Qual é a resposta? Olhe no espelho trincado bem dentro dos seus olhos opacos e procure. Tudo que está escrito é verdade. Na verdade, a verdade não existe.

Acho que meu presente caiu. Caiu no abismo e se quebrou.



Su, Letras, 1º Período, Candelária

Marcadores:

posted by T. - at 11:29 PM

Adorei a poesia Su, e você tem muito jeito
para escrever. Parabéns Thiago pela aluna.

Olá Noemia!
Obrigada! Fico feliz que tenha gostado!!! Me encorajou a escrever mais hein! : )
Muito legal seu blog!
Beijinhos!
Su

23 de Março de 2007 12:47



quarta-feira, 21 de março de 2007

VOU APRENDER A LER.............................

VOU APRENDER A LER PRA ENSINAR MEUS CAMARADAS...

VOU APRENDER A LER PRA ENSINAR MEUS CAMARADAS...

terça-feira, 20 de março de 2007

DESENCONTRO (Chico Buarque)

 
A sua lembrança me dói tanto
Eu canto pra ver
Se espanto esse mal
Mas só sei dizer
Um verso banal 
Fala em você
Canta você
É sempre igual
 
Sobrou desse nosso desencontro
Um conto de amor
Sem porto final
Retrato sem cor
Jogado aos meus pés
E saudades fúteis
Saudades frágeis
Meros papéis
 
Não sei se você ainda é a mesma
Ou se cortou os cabelos
Rasgou o que é meu
Se ainda tem saudades
E sofre como eu
Ou tudo já passou
Já tem um novo amor
Já me esqueceu

UM DIA DE DOMINGO (Michael Sullivan / Paulo Massadas)

Eu preciso te falar
Te encontrar de qualquer jeito
Pra sentar e conversar
Depois andar de encontro ao vento
Eu preciso respirar
O mesmo ar que te rodeia
E na pele quero ter
O mesmo sol que te bronzeia
Eu preciso te tocar
E outra vez te ver sorrindo
Te encontrar num sonho lindo
Já não dá mais pra viver
Um sentimento sem sentido
Eu preciso descobrir
A emoção de estar contigo
Ver o sol amanhecer
E ver a vida acontecer
Como um dia de domingo.....

domingo, 18 de março de 2007

JARDIM BOTÂNICO RJ

RITA LEE / TUDO VIRE BOSTA


BIOGRAFIA


Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 25 de janeiro de 1927. Faleceu em New York, EUA, em 08 de dezembro de 1994.

Um dom nato para um bate-papo com seu jeito peculiar de dar suas opiniões - assim era Tom Jobim. Tinha nesses locais suas inspirações. Mas o que fez de Tom nosso maior representante da MPB na música mundial foi, com certeza, o brilhantismo pessoal, talvez o mesmo que o tornava o centro das atenções nas mesas dos bares.

Tom desafinou a bossa nova, cantou o amor, o silêncio do namoro, a expressão dos olhares. Cantou Heloísas, Luízas, Lígias e Teresas.

Tom Jobim musicou de maneira real e imaginária nossa terra, nossos bichos, nossas matas, suas sombras, ruídos, seus vôos e movimentos. São sons suaves, leves, às vezes brincalhões, mas acima de tudo, sons brasileiros. Tom sonha e canta o positivo, o lado mágico de uma terra feita do que é bom, isso sem nunca deixar de mostrar nossos contrastes.

Chico Buarque já disse: o maior orgulho que podemos ter é nosso maestro soberano, o Antônio Brasileiro.

TOM JOBIM

Leila Hime disse...

Gosto muito das biografias. As vezes não temos idéia de como foi a vida, o começo dos poetas que admiramos.

24 de Março de 2007 11:19