domingo, 11 de maio de 2008

BUARQUE / AFASTA DE MIM ESSE CÁLICE

Pai,afasta de mim esse cálicePai,afasta de mim esse cálicePai,
afasta de mim esse cáliceDe vinho tinto de sangue
Pai,afasta de mim esse cálicePai,afasta de mim esse cálicePai,afasta de mim esse cáliceDe vinho tinto de sangue
Como beber dessa bebida amargaTragar a dor, engolir a labutaMesmo calada a boca, resta o peitoSilêncio na cidade não se escutaDe que me vale ser filho da santaMelhor seria ser filho da outraOutra realidade menos mortaTanta mentira, tanta força bruta
Pai,afasta de mim esse cálicePai,afasta de mim esse cálicePai,afasta de mim esse cáliceDe vinho tinto de sangue
Como é difícil acordar caladoSe na calada da noite eu me danoQuero lançar um grito desumanoQue é uma maneira de ser escutadoEsse silêncio todo me atordoaAtordoado eu permaneço atentoNa arquibancada pra qualquer momentoVer emergir o monstro da lagoa
Pai,afasta de mim esse cálicePai,afasta de mim esse cálicePai,afasta de mim esse cáliceDe vinho tinto de sangue
De muito gorda a porca já não andaDe muito usada a faca já não cortaComo é difícil, pai, abrir a portaEssa palavra presa na gargantaEsse pileque homérico no mundoDe que adianta ter boa vontadeMesmo calado o peito, resta a cucaDos bêbados do centro da cidade
Pai,afasta de mim esse cálicePai,afasta de mim esse cálicePai,afasta de mim esse cáliceDe vinho tinto de sangue
Talvez o mundo não seja pequenoNem seja a vida um fato consumadoQuero inventar o meu próprio pecadoQuero morrer do meu próprio venenoQuero perder de vez tua cabeça (Cálice!)Minha cabeça perder teu juízo (Cálice!)Quero cheirar fumaça de óleo dieselMe embriagar até que alguém me esqueça.

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