domingo, 7 de outubro de 2007

Poesia - Dalcídio por Benedicto Monteiro

Poesia - Dalcídio por Benedicto Monteiro


“O Quintal

No quintal

a risada da menina

despencava as goiabas

partia cascas e ouriços

e abria

de maduros

os frutos

pelo meio”.

Benedicto Monteiro





Dalcídio Jurandir

O Brasil esqueceu algumas das linhas mais poéticas da literatura nacional. Como comentar o desaparecimento de Dalcídio Jurandir dos livros de história da nossa literatura?
Expoente da segunda fase modernista, o romance regional de Dalcídio estava no mesmo patamar de Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Jorge Amado, José Lins do Rego e Guimarães Rosa.
Caboclo de Ponta de Pedras, município da Ilha do Marajó, teve a vida amalgamada à grande obra amazônica que escreveu. Dez romances completam a saga Extremo-Norte: Chove nos Campos de Cachoeira, Marajó, Três Casas e um Rio, Belém do Grão Pará, Passagem dos Inocentes, Primeira Manhã, Ponte do Galo, Os Habitantes, Chão dos Lobos e Ribanceira. Há ainda o romance Linha do Parque, sobre operários do porto do Rio Grande do Sul - fora da saga.
Dalcídio faleceu em 1979 e deixou como legado a maior obra literária da Amazônia. Curiosamente, ela sumiu das prateleiras do país.


Esperava-se uma reedição de todos os seus livros, feita pela Cejup. Mas a editora parou a homenagem no terceiro volume, em 1995.
Por e-mail, Margarida Benincasa, filha de Dalcídio, disse-me que a Cejup é a responsável pela paralisação das publicações. "Em 1993, minha mãe faleceu sem ter conseguido, apesar de todo o nosso empenho, que a Cejup cumprisse o contrato, o qual expirou. Para podermos tomar qualquer atitude, fomos obrigados a iniciar um inventário, onde teríamos direito legal de tomar as devidas providências", desabafa.
Já a editora alertou que não havia recursos financeiros, já que Dalcídio não dava lucros.
Após a divulgação na internet, seus livros tornaram-se raros. Agora, a Cejup pode até querer revitalizar o velho contrato, mas creio que eles não merecem tal regalia, pois subestimaram o autor marajoara.
É importante saber que por tantas negligências Dalcídio continua esquecido. Para se ter uma idéia, em Portugal, pode-se comprar o romance "Belém do Grão Pará" em qualquer livraria. No Brasil, para ter acesso ao livro, é preciso importá-lo.
(Elisangela Marchioni)


Chão de Dalcídio
Nasceu em Ponta de Pedras, Ilha do Marajó (PA) - em 10 de janeiro de 1909.
Estuda em Belém até 1927. Em 1928, parte para o Rio de Janeiro, onde trabalha como revisor, na revista Fon-Fon.
Em 1931 retorna para Belém. É nomeado auxiliar de gabinete da Interventoria do Estado. Escreve para vários jornais e revistas.
Comunista assumido, é preso em 1936. Fica dois meses no cárcere.
Em 1937, consegue ser preso novamente e fica 4 meses retido.
Somente em 1939 retorna ao Marajó, como Inspetor Escolar.
Em 1940, vence o prêmio Dom Casmurro de Literatura, com o romance "Chove nos Campos de Cachoeira".
Esceve para vários veículos e acaba como repórter da "Imprensa Popular", em 1950.
Nos anos seguintes, viaja à União Soviética, Chile e publica o restante de sua obra, inclusive em outros idiomas.
Em 1972, a Academia Brasileira de Letras concede ao autor um prêmio pelo conjunto de sua obra - entregue por Jorge Amado.
Em 1979, morre Dalcídio, em 16 de junho.
Em 2001 concorre com demais personalidades ao título de "Paraense do Século". No mesmo ano, em novembro, é realizado o Colóquio Dalcídio Jurandir, homenagem aos 60 anos da primeira publicação de Chove nos Campos de Cachoeira.
Em 2009 comemora-se o centenário do escritor. Estamos em campanha para que até lá todos os seus livros sejam novamente publicados.

Obras: Chove nos Campos de Cachoeira (1941); Marajó (1947); Três Casas e um Rio (1958); Linha do Parque (1959); Belém do Grão Pará (1960); Passagem dos Inocentes (1963); Primeira Manhã (1968); Ponte do Galo (1971); Os Habitantes (1976); Chão dos Lobos (1976); Ribanceira (1978)

Fontes: Margarida Benincasa; O Liberal; Livraria Cejup; Acervo Pessoal.




Resenha de Dalcídio
Instituto Dalcídio Jurandir
Colóquio Dalcídio Jurandir
Publicações da UFPA
Waldemar Henrique
Semifusa Dalcidiana

Nenhum comentário: