terça-feira, 20 de setembro de 2011

EDUARDO GALEANO O DIREITO AO DELÍRIO

O Direito ao Delírio

Eduardo Galeano¹

Que tal começarmos a exercer


O direito de sonhar?


Que tal se delirarmos um pouquinho?


No próximo milênio, o ar estará limpo


de todo veneno


O televisor deixará de ser


o membro mais importante da família


As pessoas trabalharão para viver,


em vez de viver para trabalhar.


Os economistas não chamarão


nível de vida o nível de consumo,


nem chamarão qualidade de vida


a quantidade de coisas.


Ninguém será considerado herói


ou tolo só porque faz aquilo que


acredita ser justo, em vez de fazer


aquilo que mais lhe convém.


A comida não será uma mercadoria,


nem a comunicação um negócio,


porque comida e comunicação


são direitos humanos.


A educação não será um privilégio


apenas de quem possa pagá-la.


A polícia não será a maldição daqueles


que não podem comprá-la.



A justiça e a liberdade,


irmãs siamesas


condenadas a viverem separadas,


voltarão a juntar-se, bem unidas


ombro com ombro.






E os desertos do mundo e os desertos


da alma serão reflorestados.






¹Eduardo Hughes Galeano


* Montevidéu, Uruguai – 03 Setembro 1940 d.C.





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