quinta-feira, 21 de junho de 2007

O RIO / Antônio Miranda Fernandes


O RIO
Singelo e humilde fiozinho ao nascer... É nas cabeceiras, pequeno olho d'água; E depois um lacrimal. Quase nem se vê... Como gotas brotadas de pouca mágoa. Apenas daqui, daí e acolá...borbotando... É criança, medroso e trêmulo chorando! Segue e fresta, entre duras pedras, pede... Esgueira-se e o seu caminhar prossegue. Arrasta-se e insiste na marcha para a luz, Murmura e ao poeta de água doce seduz!... Pois ele já engatinha e faz suas manhas, Mama! Bebe do seio nutriz da montanha, Na passagem aonde vai criando seu leito!... Cada vez mais gulosamente, tal no peito, Do colo de mãe atenta à cria, em guarida: Tão preciosas golfadas líquidas de vida. Como, dos seres animados, ele deve ter: Sombra, paz e mistério para seu nascer! Agora uns passos mal seguros aventura, Mas o amparo das grutas ainda perdura! Para o caminhar não vir a sofrer deslizes Busca a proteção das margens de raízes Pespontadas, que ele afaga no roçado... Refresca e alenta, em troca do cuidado! Riacho, já balbucia e corre agarrando-se Às pernas do arvoredo, vai jogando-se!... Ainda fortes ramagens sobre o seu veio, Cruzam-se protetoras tal como em esteio! E vai e vai, e... vão-lhe abrindo margens; Corre veloz e rola seixos, sem paragens! E segue até que nenhum galho gigante, De figueira possa, como um braço grande, O galho estendido do outro lado atritar. Pois às veredas estreitas é fatal alargar! Então orgulhoso e forte, porque venceu, Já não pede mais caminho - abre o seu! Se surge, porém, um obstáculo, evita-o! Reprime-se em remansos e... analisa-o! Evita o confronto se ele não for forçoso... Assim como o selvagem, ama o repouso; Torce-se e não gasta forças inutilmente, Reserva suas forças para mais à frente! Vai coleando e seguindo seu rumo afora Nada lhe antepõe! A rota é segura agora. Mas, às vezes... estende-lhe, a montanha, No curso, uma barreira de pedra tamanha; Então ele pára, a fim de medir o adverso. Põe-se remoinhoso em vaguear disperso. E negligentemente, encrespa em arrepios! Tanto maior... Quanto maior for o desafio Cresce, arremete e se precipita com fragor: Estoura na catadupa, soberbo e triunfador. Não se contenta em marchar sobre penedos, Adversários abatidos a seus pés por medos, Cria asas e alando-se vai os ares espadanar, E como cordão umbilical ao seu berço voltar Dilui-se em neblina e, sobe! Gotas de luzires, Soltas...Transforma-se em luz, e é o arco-íris.

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