Homenagem ao Poeta Castro Alves
Tempo!
Não, Castro Alves,
Não tenho nenhuma máquina do tempo,
Não tenho tempo,
O pouco que resta é posto à venda,
É consumido pelo fogo do passado,
É amordaçado pelas mãos frias e cruéis
Dos senhores de escravos.
Não!
Não tenho a força do teu grito Castro,
Apenas a cumplicidade do meu silêncio,
O meu navio é de papel, não tem correntes,
Não tem porões...
Castro Alves, você ouviu?
Sinta o silêncio,
Nasceu! Nasceu mais um escravo,
Não fora na senzala,
Mas num quarto escuro no subúrbio do Brasil,
Não fora retirado do ventre por uma preta velha,
Mas arrastado por mãos envoltas em sacos plásticos,
Não fora aquecido por fogueira,
Mas por chumbo que cortava a noite.
Ele é branco, mestiço, índio, negro, mulato...
Por isso ele não chorou,
Os pais ainda não sabem que o filho nascera.
Um velho político sorriu satiricamente.
- Tudo bem, ele é o nosso feitor!
Sei que vou morrer, Castro Alves,
Só não sei em qual esquina do mundo.
Cento e sessenta anos nos separam, o escritor e o escravo,
Escravo branco de uma sociedade espurcícia,
Que assistem de camarote gélida e letárgica
A escravidão do mundo, não mais só de negros,
E sim, todos os povos.
Padre!
A minha cruz é de madeira podre,
Não suporta o corpo,
Há um gozo profundo na alma do poeta,
Uma gota de orvalho escorrendo na minha dor,
Os cães degustarão os meus dedos, antes dos vermes.
Deus!
Salve a alma destes poetas-escravo.
Salve a paz.
Deus! Liberdade!
Liberdade!!
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