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A FLOR DO MARACUJÁ
Um dia encontrei um sertanejo
Perto de um pé de Maracujá
E perguntei-lhe:
Diga-me lá caro sertanejo
Porque razão nasce roxa
A flor do Maracujá?
Ah, pois então eu vou narrar-lhe
A história que ouvi contar,
A razão porque nasce roxa
A flor do Maracujá.
O Maracujá já foi branco
Eu posso até lhe jurar,
Mais branco que a claridade
Mais brando do que o luar.
Quando a flor nele nascia
Lá p’ros confins do sertão,
O Maracujá parecia
Um ninho de algodão.
Mas um dia, há muito tempo
Num mês que até nem me lembro,
Se foi Maio, se foi Junho
Se foi Janeiro ou Dezembro,
Nosso Senhor Jesus Cristo
Foi condenado a morrer,
Numa cruz crucificado
Longe daqui a valer.
Pregaram Cristo a martelo
E ao ver tamanha crueza,
A natureza inteirinha
Pôs-se a chorar de tristeza.
Choravam tristes os campos
As folhas e as ribeiras,
Choravam os passarinhos
Nos ramos das laranjeiras.
E junto da cruz havia
Um pé de Maracujá,
Carregadinho de flor
Aos pés de Nosso Senhor.
E o sangue de Jesus Cristo
Sangue pisado de dores,
No pé de Maracujá
Tingia todas as flores.
Eis aqui seu moço ou moça
A história que ouvi contar,
A razão porque nasce roxa
A flor do Maracujá.
Vertendo ao pé da letra para o nosso idioma, o significado da tradução é “Fruta da Paixão”, o que me deixou muito intrigado e me faz fantasiar ardentemente com os supostos super poderes dessa frutescência sobre os meus mais profundos sentimentos .
Mas meus anseios logo foram desfeitos após uma pesquisa mais aprofundada sobre o assunto, no entanto a fruta da paixão tem esse nome por um motivo igualmente nobre: a paixão de Cristo.
A palavra maracujá é de origem tupi e significa alimento em forma de cuia, os índios já a conheciam muito antes dos colonizadores chegarem à pátria amada idolatrada salve, salve e os jesuítas foram os responsáveis pelo seu descobrimento e catalogação, bem como a divulgação do seu sabor e propriedades calmantes.
Todavia ainda não haviam vislumbrado o que o maracujá, a fruta da paixão, tem de mais belo; sua flor.
Missionários espanhóis do século XVI viram a flor do maracujá e ficaram em êxtase, acharam que sua estrutura representava a Paixão de Cristo. As cinco pétalas e cinco sépalas representavam os 10 Apóstolos, as cinco anteras simbolizavam as cinco Chagas de Cristo, os três estigmas faziam referência aos três pregos na cruz, e os filamentos a Coroa de espinhos....as flores seriam manchadas de roxo em virtude do sangue de Cristo.
Não é só o Louva-Deus de todos os seres viventes que louvam a Deus, mesmo aqueles que pensam estar vivendo em pecado ou não também são filhos de Deus....Deus pra mim é um pai severo, mas que não castiga com as mãos, castiga com as palavras duras...e a sua voz e o mesmo som da minha consciência me condenando ou não.
As sementes do maracujá foram então enviadas de presente ao Papa Paulo V (1605-1621), que mandou cultivá-las com grande carinho em Roma e divulgar que ela representava uma revelação divina.
Ao ver a flor do maracujá o Papa também ficou em extasiado e então a batizou de “Fruta da paixão” fazendo uma alusão direta ao calvário de Jesus Cristo...depois disso o maracujá já tem até outro sabor na minha boca.
A flor do maracujá é mesmo mágica, foi cantada em verso e prosa ao redor do mundo, quando a vi pela primeira vez tive uma sensação de tristeza e alegria ao mesmo tempo, algo que me provou que sentimentos opostos podem sim conviver num mesmo corpo.
Pelas rosas, pelos lírios,
Pelas abelhas, sinhá,
Pelas notas mais chorosas
Do canto do Sabiá,
Pelo cálice de angústias
Da flor do maracujá !
Fagundes Varela
Ó! lua branca de fulgores e de encanto,
Se é verdade que ao amor tu dás abrigo
vem tirar dos olhos meus, o pranto
Ai vem matar essa paixão que anda comigo.
Ai! Por quem és, desce do céu, ó ! lua branca
Essa amargura do meu peito, ó! vem, arranca
Dá-me o luar de tua compaixão
Ó! vem, por Deus, iluminar meu coração.
E quantas vezes lá no céu me aparecias
A brilhar em noite calma e constelada,
Em tua luz então me surpreendias
Ajoelhado junto aos pés da minha amada
Ela a chorar, a soluçar, cheia de pejo
Vinha em seus lábios me ofertar, um doce beijo...
Ela partiu, me abandonou assim...
Dárcio Fragoso
HINO AO JUIZ
Pelo Mar Vermelho vão, contra a maré,
Na galera a gemer os galés, um por um.
Com um rugido abafam o relincho dos ferros:
Clamam pela pátria perdida - o Peru.
Por um Peru - Paraíso - clamam os peruanos,
Onde havia mulheres, pássaros, danças,
E, sobre guirlandas de flores de laranja,
Baobás - até onde a vista alcança.
Bananas, ananás! Peitos felizes.
Vinho nas vasilhas seladas...
Mas eis que de repente com praga
No Peru imperam os juízes!
Encerraram num círculo de incisos
Os pássaros, as mulheres e o riso.
Boiões de lata, os olhos dos juízes
São faíscas num monte de lixo.
Sob o olhar de um juiz, duro como um jejum,
Caiu, por acaso, um pavão laranja-azul:
Na mesma hora virou cor de carvão
A espaventosa cauda do pavão.
No Peru voavam pelas campinas
Livres os pequeninos colibris;
Os juízes apreenderam-lhes as penas
E aos pobres colibris coibiram.
Já não há mais vulcões em parte alguma,
A todo monte ordenam que se cale.
Há uma tabuleta em cada vale:
"Só vale para quem não fuma."
Nem os meus versos escapam à censura;
São interditos, sob pena de tortura.
Classificaram-nos como bebidas
Espirituosa: "venda proibida".
O equador estremece sob o som dos ferros.
Sem pássaros, sem homens, o Peru está a zero.
Somente, acocorados com rancor sob os livros,
Ali jazem, deprimidos, os juízes.
Pobres peruanos sem esperança,
Levados sem razão à galera, um por um.
Os juízes cassam os pássaros, a dança,
A mim e a vocês e ao peru.
(Tradução de Augusto de Campos)
E então, que quereis?...
Maiakóvski
Fiz ranger as folhas de jornal
abrindo-lhes as pálpebras piscantes.
E logo
de cada fronteira distante
subiu um cheiro de pólvora
perseguindo-me até em casa.
Nestes últimos vinte anos
nada de novo há
no rugir das tempestades.
Não estamos alegres,
Último texto 1927
é certo,
mas também por que razão
haveríamos de ficar tristes?
O mar da história
é agitado.
As ameaças
e as guerras
havemos de atravessá-las,
rompê-las ao meio,
cortando-as
como uma quilha corta
as ondas.
HINO AO CRÍTICO
Da paixão de um cocheiro e de uma lavadeira
Tagarela, nasceu um rebento raquítico.
Filho não é bagulho, não se atira na lixeira.
A mãe chorou e o batizou: crítico.
O pai, recordando sua progenitura,
Vivia a contestar os maternais direitos.
Com tais boas maneiras e tal compostura
Defendia o menino do pendor à sarjeta.
Assim como o vigia cantava a cozinheira,
A mãe cantava, a lavar calça e calção.
Dela o garoto herdou o cheiro da sujeira
E a arte de penetrar fácil e sem sabão.
Quando cresceu, do tamanho de um bastão,
Sardas na cara como um prato de cogumelos,
Lançaram-no, com um leve golpe de joelho,
À rua, para tornar-se um cidadão.
Será preciso muito para ele sair da fralda?
Um pedaço de pano, calças e um embornal.
Com o nariz grácil como um vintém por lauda
Ele cheirou o céu afável do jornal.
E em certa propriedade um certo magnata
Ouviu uma batida suavíssima na aldrava,
E logo o crítico, da teta das palavras
Ordenhou as calças, o pão e uma gravata.
Já vestido e calçado, é fácil fazer pouco
Dos jogos rebuscados dos jovens que pesquisam,
E pensar: quando a estes, ao menos, é preciso
Mordiscar-lhes de leve os tornozelos loucos.
Mas se infiltra na rede jornalística
Algo sobre a grandeza de Púchkin ou Dante,
Parece que apodrece ante a nossa vista
Um enorme lacaio, balofo e bajulante.
Quando, por fim, no jubileu do centenário,
Acordares em meio ao fumo funerário,
Verás brilhar na cigarreira-souvenir o
Seu nome em caixa alta, mais alvo do que um lírio.
Escritores, há muitos. Juntem um milhar.
E ergamos em Nice um asilo para os críticos.
Vocês pensam que é mole viver a enxaguar
A nossa roupa branca nos artigos?
(Tradução de Augusto de Campos e Boris Schnaiderman)
O POETA-OPERÁRIO
Grita-se ao poeta:
"Queria te ver numa fábrica!
O que? Versos? Pura bobagem".
Talvez ninguém como nós
ponha tanto coração
no trabalho.
Eu sou uma fábrica.
E se chaminés
me faltam
talvez seja preciso
ainda mais coragem.
Sei.
Frases vazias não agradam.
Quando serrais madeira
é para fazer lenha.
E nós que somos
senão entalhadores a esculpir
a tora da cabeça humana?
Certamente que a pesca é coisa respeitável.
Atira-se a rede e quem sabe?
Pega-se um esturjão!
Mas o trabalho do poeta
é muito mais difícil.
Pescamos gente viva e não peixes.
Penoso é trabalhar nos altos-fornos
onde se tempera o ferro em brasa.
Mas pode alguém
acusar-nos de ociosos?
Nós polimos as almas
com a lixa do verso.
Quem vale mais:
o poeta ou o técnico
que produz comodidades?
Ambos!
Os corações também são motores.
A alma é poderosa força motriz.
Somos iguais.
Camaradas dentro da massa operária.
Proletários do corpo e do espírito.
Somente unidos,
somente juntos remoçaremos o mundo,
fá-lo-emos marchar num ritmo célere.
Diante da vaga de palavras
levantemos um dique!
Mãos à obra!
O trabalho é vivo e novo!
Com os oradores vazios, fora!
Moinho com eles!
Com a água de seus discursos
que façam mover-se a mó!
Vladimir Maiakovski (1893-1930)
Poeta russo. Um dos principais representantes da vanguarda futurista do início do século XX.
Um dos principais integrantes do movimento futurista em seu país, Maiakovski distinguiu-se como o mais ousado renovador da poesia russa no século XX. Aparentemente retórico e essencialmente prático, foi dos primeiros poetas a usar um vocabulário destituído de aura estética, urbano, cotidiano, com o qual soube, no entanto, expressar-se em metáforas brilhantes e de meticuloso tratamento artesanal.
Vladimir Vladimirovitch Maiakovski nasceu em 19 de julho (7 de julho no calendário juliano) de 1893 na Geórgia, então Império Russo. Bagdadi, sua cidade natal, chamou-se Maiakovski durante o período soviético. Após a morte do pai, em 1906, mudou-se com a família para Moscou. Em 1908, filiou-se ao partido bolchevique. Participou da elaboração do primeiro manifesto futurista russo e tornou-se uma das mais representativas figuras do movimento. São dessa fase os poemas "Oblako v shtanaj" (1915; "A nuvem de calças") e "Fleitapozvonotchnik" (1916; "A flauta de vértebras") de alta substância lírica.
Após a revolução de 1917, Maiakovski colaborou com o governo na criação de lemas revolucionários. Depois de sustentar que "não há conteúdo revolucionário sem forma revolucionária", contribuiu para exaltar os valores da nova ordem política com uma obra poética em que usava, cada vez mais, recursos modernos como a sintaxe fonética e visual (em que as palavras se relacionam mais por suas equivalências sonoras e por sua localização gráfica na página do que por seus valores gramaticais), as rimas encadeadas ou a repetição de consoantes fortes com intenção percussiva. Entre os exemplos da poesia engajada que produziu nesse período estão os poemas "150.000.000" (1920), que tem como tema o confronto entre o mundo novo e o velho, e "Oktiabr" (1927, "Outubro"), em comemoração ao décimo aniversário da revolução.
O poeta escreveu várias peças teatrais, sempre ligadas a sua produção lírica, como Klop (1929; O percevejo) e Bania (1930; Os banhos), e também roteiros para cinema. Empregou ainda, como meios de expressão, o desenho, a caricatura e o cartaz. Suas inovações estéticas, todavia, trouxeram-lhe um conflito crescente com as autoridades stalinistas, e Maiakovski, depois de escrever um de seus melhores poemas, Vo Ves Golos (A plenos pulmões), suicidou-se em Moscou, em 14 de abril de 1930.
©Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.
A estrela d'alva no céu desponta
E a lua anda tonta com tamanho esplendor
E as pastorinhas pra consolo da lua
Vão cantando na rua lindos versos de amor
Linda pastora morena da cor de madalena
Tu não tens pena de mim
Que vivo tonto com o teu olhar
Linda criança tu não me sais da lembrança
Meu coração não se cansa
De sempre sempre te amar
Noel Rosa-Braguinha, 1934
Olho-me ao espelho, mas não me vejo.
Procuro-me no escuro, mas não me encontro.
Onde andarei?
Pergunto por mim a um menino que passa
Sorri e diz-me que não me viu.
Onde estarei?
Navego até à lua,
Procuro-me em cada estrela
Mas não me vejo.
Vou ao fundo do mar,
Vou à lama,
Ás árvores,
Ás flores,
Ao mel,
Ao fel...
Onde estou?
Onde ando?
Preciso de me encontrar...
Eu te bendigo, mãe humilde e mãe rica, mãe preta e mãe branca,
mãe do faxineiro, mãe dos fracassados e dos bem sucedidos!
Eu te bendigo, mãe lavadeira que trabalhas durante dia-a-dia
para que seus filhos possam comer, estudar e viver!
Eu te bendigo, mãe que foste abandonada por teu marido e que
agora tens somente o tesouro de teus filhos que saíram do teu seio!
Eu te bendigo mãe dos filhos assassinos, de filhos que estão
pelo caminho do vício e da perdição,
eu te bendigo , porque vives intuindo, prevendo, antecipando em teu
coração aquilo que vai acontecer a teus filhos mesmo que eles disto não
tenham consciência!
Eu te bendigo, mulher que querias ser mãe, que alimentaste em teu seio a vida de teus
filhos que nunca chegaram a ver a luz do dia!
Eu te bendigo, mãe, porque somente tu sabes amar, somente tu compreendes o que
significa dar a vida pelos que se ama.
Eu te bendigo, mãe, que tens um filho incompreendido, injustiçado, perseguido,
marginalizado, porque tu és uma cópia da mãe do meu Senhor Jesus!
Eu te bendigo, mãe santa de Jesus Cristo, mãe da minha esperança, porque és a
humilde, a pequenina, a serva do Senhor e minha MAE!