domingo, 7 de outubro de 2007

"Memória Perdida", cujo ponto de partida foi um exerto de Primeira Manhã (Dalcídio Jurandir, 1968):

Entre tantas poesias, destaco "Memória Perdida", cujo ponto de partida foi um exerto de Primeira Manhã (Dalcídio Jurandir, 1968):

"(...)Meu Deus, de onde venho, que flor sai eu deste enxerto preto e branco? Vadios malfeitores ratoneiros ladrões condenados, tais foram os primeiros colonos do Pará, assim falava o pai num tom de lástima e troça. Dos brigues da África descarregavam o sofrimento".

MEMÓRIA PERDIDA

Meu Deus

de onde venho eu

que flor saiu

deste enxerto preto-e-branco

mais preto do que branco

mais branco com alma preta

mais carne do que alma

mais calma do que carne

mais homem

ou mais mulher?

Oh meu Deus

de que Deus sou eu

da mata ensolarada

da selva enverdecida

do campo ensombreado

do rio manso perdido

ou da lua

do sol

do céu?

Que sangue me acalora

que desejo

me devora

que alma

me apavora

que sonho

me comemora

que fui

que sei

que sou?

(Benedicto Monteiro)

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