Entre tantas poesias, destaco "Memória Perdida", cujo ponto de partida foi um exerto de Primeira Manhã (Dalcídio Jurandir, 1968):
"(...)Meu Deus, de onde venho, que flor sai eu deste enxerto preto e branco? Vadios malfeitores ratoneiros ladrões condenados, tais foram os primeiros colonos do Pará, assim falava o pai num tom de lástima e troça. Dos brigues da África descarregavam o sofrimento".
MEMÓRIA PERDIDA
Meu Deus
de onde venho eu
que flor saiu
deste enxerto preto-e-branco
mais preto do que branco
mais branco com alma preta
mais carne do que alma
mais calma do que carne
mais homem
ou mais mulher?
Oh meu Deus
de que Deus sou eu
da mata ensolarada
da selva enverdecida
do campo ensombreado
do rio manso perdido
ou da lua
do sol
do céu?
Que sangue me acalora
que desejo
me devora
que alma
me apavora
que sonho
me comemora
que fui
que sei
que sou?
(Benedicto Monteiro)
Nenhum comentário:
Postar um comentário