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quinta-feira, 20 de setembro de 2007
"A" NOITE DO MONTREUX JAZZ: MARIA BETHÂNIA, MAJESTADE E FRANCIS HIME
"Quando eu morrer, voltarei para buscar os instantes que não vivi perto do mar" (abertura do disco "Mar de Sophia")
Ver Maria Bethânia cantar não é ver cantar um ser qualquer. É ver e ouvir alguém único e que a cada vez é capaz de ser alguém que nos retira todos os adjetivos da boca. Poucos minutos antes do show começar, eu sentada na primeira fila grudada ao palco, ouço de um suíço ao meu lado: "Eu vim só para conhecê-la. Porque ouvi umas coisinhas e gostei". Pensei - coitado, nunca mais sai desta paixão... e disse a ele: Você vai amá-la, o contrário é impossível. Para dizer para vocês que o cartão dele está na minha bolsa, ele quer saber todos os discos que ela já gravou, quer comprar o que puder, aplaudiu o tempo todo, saiu de lá extasiado. Eu avisei...
Ela entra no palco de branco e toques dourados, soltos e grisalhos os cabelos longos. O pisar leve, na ponta dos pés, a força toda da voz invadindo a grande sala. Dúvida. Silêncio. O que se faz quando uma divindidade se apresenta assim... a gente aplaude ou cala? Não aguentamos, aplaudimos, aplaudimos, aplaudimos.
Um sorriso seu e todo o palco nem precisaria de iluminação. Ela canta o que quer, como quer. Desliza de um canto a outro, de uma música a outra, preenche com tamanha magnitude o ambiente que a platéia, completamente hipnotizada, mal consegue respirar. Comentários? Ruídos? Barulho? Maria Bethânia está cantando e todos sabem...
Cantou as águas, chamou os ventos, ninou a nós todos, levou nossas almas em viagens por seu mundo que não se repetirão.
Falar de Maria Bethânia intérprete é entrar em redundância. Mas eu insisto. E no show de ontem vejo-a ainda sofrendo "lágrima por lágrima hei de te cobrar", ou num canto entristecida quando "você que tanto tempo faz". E é pouco. Porque tudo que ela canta, é cantado, interpretado, vivido, levado até os que a ouvem.
Acompanhada por excelentes músicos, Maria Bethânia pousou num momento seu microfone, fez um gesto breve e correu. Se foi...
Levantamos. Todos. Aplaudimos pedindo que voltasse e ela, generosa, voltou. Cantou mais uma música, agradeceu com a mesma humidalde que guarda do alto de sua majestade e novamente partiu. Levantamos novamente. Mais. Mais forte. Muitos mais. Por favor.
E ela volta, sorriso iluminado meu Deus, chamando pelo Maestro Francis Hime que entra com ela de mãos dadas, e juntos improvisam para o público ávido do que eles têm: o melhor da nossa música brasileira. Momento memorável. Para nós, para eles, para o Montreux Jazz Festival.
E bastou? Não! Palmas, muitas palmas. Sem parar. Os músicos se retirando e o público, aplaudindo sem parar.
O inacreditável aconteceu: "Gente, eu já estava quase no camarim!" - Sorriu, pediu aos músicos e improvisou alegremente com eles e conosco umas alegres canções. Terminamos juntos, ela rindo, com "samba, suor e cerveja".
Nem precisa dizer que o final para ela foi Standing Ovation, longa e merecida sessão de aplausos.
(Escrevi ouvindo os discos de Bethânia Mar de Sophia e Pirata, ambos do ano passado e prá lá de recomendáveis... são maravilhosos, como tudo o que ela faz)
Sinceramente? Achei que ia ser fácil mas não sei nem por onde começar. Para descrever o show de ontem eu precisaria dos próprios: Francis Hime (que neste momento coloquei aqui de fundo cantando Trocando em Miúdos) com sua melodia perfeita e Maria Bethânia com sua voz única e sua interpretação incomparável. Precisaria sair do transe no qual entrei no momento em que a música brotou no ar no primeiro momento e do qual não consigo sair. E nem quero.
Francis Hime, cheio de charme, um verdadeiro encantador de serpentes. Num instante nos apresentava um xaxado dele e Gil, minutos depois nos faziar fechar os olhos em suas composições ternas... Cantou com requinte suas parcerias mais reconhecidas com Tom, Chico, Vinícius. Trouxe um Brasil carioca para os palcos do festival. Carioquíssimo Francis Hime graças a Deus... porque através dos sons de seu piano (Atrás da Porta... nossa, quando ele cantou ontem...), logo ali atrás de seu piano, parecia que seus parceiros todos, que ele citava com tanta reverência, quase que esquecendo o poder de sua própria música sobre as letras, parecia sim, que eles estavam ali... acompanhando tudo.
Todos aplaudiram de pé. Standind ovation para o Maestro Francis Hime em Montreux.
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