Luar Do Sertão
Catullo da Paixão Cearense e João Pernambuco
Catullo da Paixão Cearense
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Oh, que saudade do luar da minha terra, lá na serra, |
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Branquejando folhas secas pelo chão! |
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Este luar cá da cidade, tão escuro, |
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Não tem aquela saudade do luar lá do sertão. |
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Luar como esse do sertão Bis |
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Se a lua nasce por detrás da verde mata |
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Mais parece um sol de prata prateando a solidão |
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E a gente pega na viola que ponteia, |
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E a canção é lua cheia a nos nascer do coração |
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Quando vermelha, no sertão, desponta a lua, |
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Dentro d'alma, onde flutua, também rubra, nasce a dor! |
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E a lua sobe, e o sangue muda em claridade, |
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E a nossa dor muda em saudade, branca assim, da mesma cor! |
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Ai! Quem me dera que eu morresse lá na serra, |
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Abraçado à minha terra, e dormindo de uma vez! |
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Ser enterrado numa grota pequenina, |
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Onde à tarde a sururina chora a sua viuvez! |
LINDO !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
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Diz uma trova, que o sertão todo conhece, |
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Que, se à noite o céu floresce, nos encanta e nos seduz, |
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É porque rouba dos sertões as flores belas |
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Com que faz essas estrelas lá no seu jardim de luz!!! |
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Mas como é lindo ver, depois por entre o mato, |
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Deslizar, calmo o regato, transparente como um véu |
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No leito azul das suas águas murmurando, |
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Ir por sua vez roubando as estrelas lá do céu! |
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A gente fria desta terra, sem poesia, |
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Não se importa com esta lua, nem faz caso do luar! |
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Enquanto a onça, lá na verde capoeira, |
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Leva uma hora inteira vendo a lua, a meditar! |
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Coisa mais bela neste mundo não existe |
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Do que ouvir um galo triste, no sertão se faz luar! |
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Parece até que a alma da lua é que descanta, |
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Escondida na garganta desse galo, a soluçar! |
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Se Deus me ouvisse com amor e caridade, |
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Me faria esta vontade - o ideal do coração! |
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Era que a morte, a descantar, me surpreendesse, |
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E eu morresse numa noite de luar, no meu sertão! |
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E quando a lua surge em noites estreladas |
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Nessas noites enluaradas, em divina aparição, |
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Deus faz cantar o coração da Natureza |
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Para ver toda a beleza do luar do Maranhão. |
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Deus lá no céu, ouvindo um dia essa harmonia, |
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A canção do meu sertão, do meu sertão primaveril |
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Disse aos arcanjos que era o Hino da Poesia, |
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E também a Ave Maria da grandeza do Brasil. |
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Pois só nas noites do sertão de lua plena, |
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Quando a lua é uma açucena, é uma flor primaveril, |
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É que o poeta, descantado, a noite inteira, |
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Vê na Lua Brasileira toda a alma do Brasil. |
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