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sexta-feira, 12 de setembro de 2008
SIM, SEI BEM // SUELI COSTA - FERNANDO PESSOA
PRÊMIO SHELL 2008
Sim, sei bem
Que nunca serei alguém
Sei, de sobra
Que nunca terei uma obra
Sei, enfim
Que nunca saberei de mim
Mas agora
Enquanto dura esta hora
Esse luar, esses ramos
Essa paz em que estamos
Deixem-me crer
O que nunca poderei ser
Sim, Sei Bem (Sueli Costa - Fernando Pessoa)
Como a lembrar poeticamente que todas as glórias são transitórias, Maria Bethânia abriu o show idealizado para a cerimônia de entrega do Prêmio Shell de Música 2008 com Sim, Sei Bem - poema de Fernando Pessoa, musicado por Sueli Costa. Mas, sim, Bethânia tem uma obra. E na noite do dia 09/09, na casa Vivo Rio, a hora era de render homenagens a essa obra tão autoral que fez com que, pela primeira vez, o Prêmio Shell de Música laureasse uma intérprete - e não um compositor como, até então, mandava o regulamento do prêmio criado em 1981.Em seu discurso de agradecimento, a cantora lembrou nomes importantes na sua trajetória majestosa - como Nara Leão (1942 - 1989), que, ao precisar deixar o elenco do musical Opinião em 1965, indicou Bethânia para ocupar seu lugar no espetáculo - marco inicial de carreira pautada pela extrema coerência e devoção aos seus credos e origens. A Bahia estava feliz, sinalizou Bethânia ao agradecer seu Prêmio Shell, e não foi por acaso. "Sou de Keto", sentenciou em verso do inédito samba Feito na Bahia, composto por Roque Ferreira e apresentado em primeira mão no show. De Keto, e e de guetos, Bethânia cantou sua história nobre sem deixar de ser quem sempre foi. Recitou poemas, encantou, e, como sempre, saiu de cena consagrada, Abelha Rainha, enternecida pelo mel e pelas flores dos súditos que puderam ver o show para convidados.Sem forçar um caráter retrospectivo no roteiro, Bethânia costurou no inédito show músicas de vários discos e shows. Houve surpresas, como O Canto do Pajé e Não Identificado, e até algumas músicas inéditas. Entre outras músicas que identificam o canto intenso de Bethânia no imaginário popular, passaram pelo filtro de sua voz - nessa noite de festa - Yayá Massemba, O Nome da Cidade, Lamento Sertanejo, Viramundo, O Quereres, Drama, Explode Coração, Bela Mocidade, Iluminada, Lágrima, Olhos nos Olhos, Volta por Cima, Doce Mistério da Vida, Beira-Mar, Debaixo d'Água / Agora, O Canto do Pajé e Sonho Impossível, Reconvexo e, claro, Rosa dos Ventos, tema do show emblemático de 1971, matriz dos espetáculos teatrais da intérprete.Também matriz da obra de Maria Bethânia, a figura de Dorival Caymmi (1914 - 2008) foi elegantemente reverenciada com João Valentão - número ao qual se seguiu o delicioso Doce, tema de Roque Ferreira que Bethânia lançou este ano no show feito com a cantora cubana Omara Portuondo. Doce reverencia a baianidade nagô de Caymmi. E Bethânia, vale lembrar, é da Bahia, é de Santo Amaro da Purificação. Simbolicamente, Motriz e Céu de Santo Amaro foram estrategicamente posicionadas ao fim do roteiro para evidenciar que, por mais voltas que dê pelo mundo, a obra majestosa de Maria Bethânia ainda gravita em torno de Santo Amaro.
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