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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008
Omara Portuando e Maria Bethânia
CD + DVD
CD + DVD
Omara Portuando e Maria Bethânia
O encontro de Omara e Bethânia talvez seja uma grande alegoria dos laços ancestrais e indissolúveis que ligam as aldeias de ambas: “um fenômeno desde as primeiras pesquisas chamou a atenção dos afro-americanistas, tanto na Bahia quanto em Cuba: os escravos negros identificaram os orixás africanos a certos santos e virgens católicas”, observa o antropólo francês Erwan Dianteill. A origem dos negros, iorubás, é a mesma. Enquanto por aqui a alcunha é candomblé, na pequena ilha caribenha é santería. Só muda o nome. As associações e configuração do culto são as mesmas. No plano econômico, o cultivo da cana-de-açúcar, através da monocultura no sistema plantation, se repetiu lá e cá.
O aspecto burocrático à la “cartilha de aula de história” do prólogo acima é apenas uma mera tentativa de buscar embasamento acadêmico para o fato de Omara e Bethânia serem irmãs. Afinal, são filhas do mesmo negro, que passou pelo mesmo processo de escravidão e que gerou música, embora díspar na forma, de complexidade muito similar. Juntas, promovem o reencontro do traçado evolutivo de dois povos siameses, que têm na música a manifestação mais contundente de autoconhecimento.
Em 2005, Omara veio cumprir uma agenda de shows no Brasil. Entrou em contato com Bethânia, pois queria conhecê-la. Não só se encontraram, como combinaram de fazer um disco juntas. Instantaneamente, surgiu um entendimento mútuo, pouco comum num primeiro encontro de pessoas que a princípio não se conhecem. Mas os tais laços ancestrais falaram mais alto. Poucos meses depois, em janeiro de 2007, Omara voltava ao Brasil para a gravação, no estúdio da Biscoito Fino, do disco que agora chega às lojas.
Embora tenham encomendado vasta pesquisa de repertório, sobretudo o cubano, as canções foram definidas no dia-a-dia das gravações, a partir da cumplicidade musical que se estabeleceu desde o primeiro momento. O restante são memórias, canções que de alguma forma traduzam o clima desse “reencontro” e estabeleçam paralelos nos cancioneiros de ambos os países. Afinal, trata-se de duas intérpretes que expressam com muita clareza, e sem concessões, suas referências mais primordiais.
Algumas faixas aparecem como dípticos, com uma canção cubana e outra brasileira sobre o mesmo tema. Nesse clima, o disco abre com duas cantigas de ninar, Lacho (Facundo Rivero e Juan Pablo Miranda), trazida por Omara, e Menino Grande (Antonio Maria), cantada por Bethânia. Introduzidas pelo Poema LXIV (Dulce María Loynaz), vêm as canções Palabras (Marta Valdés) e Palavras (Gonzaguinha). Na mesma perspectiva estão Caipira de Fato (Adaulto Santos), gravada por Inezita Barroso em 97, e a campesina cubana El Amor de Mi Bohío (Júlio Brito).
Juntas, Omara e Bethânia interpretam Tal Vez (de Juan Formell, diretor do lendário grupo de música bailable Van Van), em son, ritmo base da música cubana; Você (Heckel Tavares e Nair Mesquita),um dos momentos mais singelos do disco, lançada em 42 por Carmen Costa, e gravada posteriormente por nomes como Nara Leão e Fagner; a bucólica Só Vendo Que beleza- Marambaia ( Rubens Campos e Henricão), numa versão que vai do samba à salsa, com direito a uma deliciosa levada rap de Omara; e Para Cantarle a Mi Amor (Orlando de La Rosa), do repertório da cantora cubana Esther Borja.
Completam a seleção os solos de Omara - Nana para um Suspiro (do contemporâneo Pedro Luis Ferrer), originalmente uma nueva prueba, que aqui ganha contornos de samba-bossa (com referência jobiniana), e Mil Congojas (Juan Pablo Miranda); e Bethânia, com Arrependimento (Dolores Duran e Fernando César), extraída do repertório de Dircinha Baptista.
Jaime Alem e Swami Jr., maestros respectivamente de Bethânia e Omara, assinam a produção musical de um disco essencialmente acústico, de sonoridade encorpada, em que cada instrumento é explorado ao máximo, desaguando num híbrido sonoro mezzo cubano, mezzo brasileiro.
Omara Portuondo e Maria Bethânia é um trabalho que traz à tona um reencontro – pois o encontro cabe à ancestralidade- permeado pela troca de lembranças e impressões de um mundo comum. Carregam em si uma interpretação do universo à volta preenchido de memória e referência, que perpassa a nítida idéia de que aquilo tudo que fazem em seu ofício tem um fim concreto, além do simples e abstrato ato de cantar. Cantam todo brasileiro, todo cubano, cada brasileiro, cada cubano, e no fim tem-se a impressão de que todos eles convergem, são um monolítico. Aí está aquele negro lá de cima que não deixa mentir. A força do canto de ambas, que já atravessa décadas, remete diretamente à história das milenares monarcas africanas, conhecidas como candaces, uma linhagem de mulheres negras cujo legado de lutas e conquistas atravessou o tempo e a distância. Nada mais apropriado.
Sidimir Sanches
Omara Portuondo e Bethânia chega às lojas em dois formatos: cd e kit cd+ dvd documentário das gravações do disco, no estúdio da Biscoito Fino.
Faixas
• CD
01 Lacho (Facundo Rivero e Juan Pablo Miranda) 3m08s
02 Menino Grande (Antonio Maria) 3m16s
03 Nana para un suspiro (Pedro Luis Ferrer) 4m13s
04 Poema LXIV (Dulce María Loynaz), Palabras (Marta Valdes), Palavras (Gonzaguinha) 4m00s
05 Talvez (Juan Formell) 3m31s
06 Você (Hekel Tavares e Nair Mesquita) 4m13s
07 Arrependimento (Dolores Duran e Fernando Cesar) 3m15s
08 Mil Congojas (Juan Pablo Miranda) 3m13s
09 Só vendo que beleza (Rubens Campos e Henricão) 2m26s
10 Para cantarle a mi amor (Orlando De La Rosa) 5m48s
11 Caipira de fato (Adauto Santos), El amor de mi Bohio (Júlio Brito) 4m24s
• DVD
01 Lacho (Facundo Rivero e Juan Pablo Miranda)
02 Menino Grande (Antonio Maria)
03 Palavras (Marta Valdes)
04 Palabras (Gonzaguinha)
05 Mil Congojas (Juan Pablo Miranda)
06 Só vendo que beleza (Rubens Campos e Henricão)
07 Nana para un suspiro (Pedro Luis Ferrer)
08 Caipira de fato (Adauto Santos)
09 Talvez (Juan Formell)
Ficha Técnica
UMA REALIZAÇÃO BISCOITO FINO
Direção Geral: Kati Almeida Braga
Direção Artística: Olivia Hime
Estúdio de Gravação e Mixagem: Biscoito Fino
Estúdio de Masterização: Visom
Engenheiro de Gravação: Gabriel Pinheiro
Assistente de Gravação: Fernando Prado
Engenheiro de Mixagem: Moogie Canazio
Assitente de Mixagem: Fernando Prado
Gerência de Produção: Pedro Seiler
Assistente de Produção: Renata Mader e Sylvia Medeiros
Projeto Gráfico: Gringo Cardia
Designer Assistente: Carolina Vaz
Fotos: Leonardo Aversa
O encontro de Omara e Bethânia talvez seja uma grande alegoria dos laços ancestrais e indissolúveis que ligam as aldeias de ambas: “um fenômeno desde as primeiras pesquisas chamou a atenção dos afro-americanistas, tanto na Bahia quanto em Cuba: os escravos negros identificaram os orixás africanos a certos santos e virgens católicas”, observa o antropólo francês Erwan Dianteill. A origem dos negros, iorubás, é a mesma. Enquanto por aqui a alcunha é candomblé, na pequena ilha caribenha é santería. Só muda o nome. As associações e configuração do culto são as mesmas. No plano econômico, o cultivo da cana-de-açúcar, através da monocultura no sistema plantation, se repetiu lá e cá.
O aspecto burocrático à la “cartilha de aula de história” do prólogo acima é apenas uma mera tentativa de buscar embasamento acadêmico para o fato de Omara e Bethânia serem irmãs. Afinal, são filhas do mesmo negro, que passou pelo mesmo processo de escravidão e que gerou música, embora díspar na forma, de complexidade muito similar. Juntas, promovem o reencontro do traçado evolutivo de dois povos siameses, que têm na música a manifestação mais contundente de autoconhecimento.
Em 2005, Omara veio cumprir uma agenda de shows no Brasil. Entrou em contato com Bethânia, pois queria conhecê-la. Não só se encontraram, como combinaram de fazer um disco juntas. Instantaneamente, surgiu um entendimento mútuo, pouco comum num primeiro encontro de pessoas que a princípio não se conhecem. Mas os tais laços ancestrais falaram mais alto. Poucos meses depois, em janeiro de 2007, Omara voltava ao Brasil para a gravação, no estúdio da Biscoito Fino, do disco que agora chega às lojas.
Embora tenham encomendado vasta pesquisa de repertório, sobretudo o cubano, as canções foram definidas no dia-a-dia das gravações, a partir da cumplicidade musical que se estabeleceu desde o primeiro momento. O restante são memórias, canções que de alguma forma traduzam o clima desse “reencontro” e estabeleçam paralelos nos cancioneiros de ambos os países. Afinal, trata-se de duas intérpretes que expressam com muita clareza, e sem concessões, suas referências mais primordiais.
Algumas faixas aparecem como dípticos, com uma canção cubana e outra brasileira sobre o mesmo tema. Nesse clima, o disco abre com duas cantigas de ninar, Lacho (Facundo Rivero e Juan Pablo Miranda), trazida por Omara, e Menino Grande (Antonio Maria), cantada por Bethânia. Introduzidas pelo Poema LXIV (Dulce María Loynaz), vêm as canções Palabras (Marta Valdés) e Palavras (Gonzaguinha). Na mesma perspectiva estão Caipira de Fato (Adaulto Santos), gravada por Inezita Barroso em 97, e a campesina cubana El Amor de Mi Bohío (Júlio Brito).
Juntas, Omara e Bethânia interpretam Tal Vez (de Juan Formell, diretor do lendário grupo de música bailable Van Van), em son, ritmo base da música cubana; Você (Heckel Tavares e Nair Mesquita),um dos momentos mais singelos do disco, lançada em 42 por Carmen Costa, e gravada posteriormente por nomes como Nara Leão e Fagner; a bucólica Só Vendo Que beleza- Marambaia ( Rubens Campos e Henricão), numa versão que vai do samba à salsa, com direito a uma deliciosa levada rap de Omara; e Para Cantarle a Mi Amor (Orlando de La Rosa), do repertório da cantora cubana Esther Borja.
Completam a seleção os solos de Omara - Nana para um Suspiro (do contemporâneo Pedro Luis Ferrer), originalmente uma nueva prueba, que aqui ganha contornos de samba-bossa (com referência jobiniana), e Mil Congojas (Juan Pablo Miranda); e Bethânia, com Arrependimento (Dolores Duran e Fernando César), extraída do repertório de Dircinha Baptista.
Jaime Alem e Swami Jr., maestros respectivamente de Bethânia e Omara, assinam a produção musical de um disco essencialmente acústico, de sonoridade encorpada, em que cada instrumento é explorado ao máximo, desaguando num híbrido sonoro mezzo cubano, mezzo brasileiro.
Omara Portuondo e Maria Bethânia é um trabalho que traz à tona um reencontro – pois o encontro cabe à ancestralidade- permeado pela troca de lembranças e impressões de um mundo comum. Carregam em si uma interpretação do universo à volta preenchido de memória e referência, que perpassa a nítida idéia de que aquilo tudo que fazem em seu ofício tem um fim concreto, além do simples e abstrato ato de cantar. Cantam todo brasileiro, todo cubano, cada brasileiro, cada cubano, e no fim tem-se a impressão de que todos eles convergem, são um monolítico. Aí está aquele negro lá de cima que não deixa mentir. A força do canto de ambas, que já atravessa décadas, remete diretamente à história das milenares monarcas africanas, conhecidas como candaces, uma linhagem de mulheres negras cujo legado de lutas e conquistas atravessou o tempo e a distância. Nada mais apropriado.
Sidimir Sanches
Omara Portuondo e Bethânia chega às lojas em dois formatos: cd e kit cd+ dvd documentário das gravações do disco, no estúdio da Biscoito Fino.
Faixas
• CD
01 Lacho (Facundo Rivero e Juan Pablo Miranda) 3m08s
02 Menino Grande (Antonio Maria) 3m16s
03 Nana para un suspiro (Pedro Luis Ferrer) 4m13s
04 Poema LXIV (Dulce María Loynaz), Palabras (Marta Valdes), Palavras (Gonzaguinha) 4m00s
05 Talvez (Juan Formell) 3m31s
06 Você (Hekel Tavares e Nair Mesquita) 4m13s
07 Arrependimento (Dolores Duran e Fernando Cesar) 3m15s
08 Mil Congojas (Juan Pablo Miranda) 3m13s
09 Só vendo que beleza (Rubens Campos e Henricão) 2m26s
10 Para cantarle a mi amor (Orlando De La Rosa) 5m48s
11 Caipira de fato (Adauto Santos), El amor de mi Bohio (Júlio Brito) 4m24s
• DVD
01 Lacho (Facundo Rivero e Juan Pablo Miranda)
02 Menino Grande (Antonio Maria)
03 Palavras (Marta Valdes)
04 Palabras (Gonzaguinha)
05 Mil Congojas (Juan Pablo Miranda)
06 Só vendo que beleza (Rubens Campos e Henricão)
07 Nana para un suspiro (Pedro Luis Ferrer)
08 Caipira de fato (Adauto Santos)
09 Talvez (Juan Formell)
Ficha Técnica
UMA REALIZAÇÃO BISCOITO FINO
Direção Geral: Kati Almeida Braga
Direção Artística: Olivia Hime
Estúdio de Gravação e Mixagem: Biscoito Fino
Estúdio de Masterização: Visom
Engenheiro de Gravação: Gabriel Pinheiro
Assistente de Gravação: Fernando Prado
Engenheiro de Mixagem: Moogie Canazio
Assitente de Mixagem: Fernando Prado
Gerência de Produção: Pedro Seiler
Assistente de Produção: Renata Mader e Sylvia Medeiros
Projeto Gráfico: Gringo Cardia
Designer Assistente: Carolina Vaz
Fotos: Leonardo Aversa
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