Dualismo
Antonio Miranda Fernandes
(poema para três falas: o autor, o navegador e o poeta)
Navegar
é preciso,
viver
não é
preciso.
---o---
Navegar é preciso,
Marinheiro dos instrumentos e da precisão.
Determina um rumo a teu curso, e navega direto ao teu destino.
---o---
Viver não é preciso,
Poeta que traz no verso o deslizamento.
Avia nas metáforas o desejo. Não precisa ver. Sê apenas menino.
---o---
Oh barco, se as tabuas do teu costado não agüentarem duras procelas
Afasta-te, portanto se na minha exatidão enganei-me ao riscar a carta
Mesmo sendo meu corpo de ferro a alma não o é. E ela tanto maltrata.
---o---
Oh barco, meu coração não agüenta tamanhas tormentas. Foge delas...
Olvida a ciência, o saber, ou apenas engodo, se for, e deixa-me a pulsão
Onde meus versos navegam sem bússola, mas há fonte, objeto e direção.
---o---
O dia o marco... Meu coração o porto... Atracar outro sonho desperto.
---o---
Nota do autor:"Navigare necesse; vivere non est necesse"
latim, frase de Pompeu, general romano, 106-48 aC.
dita aos marinheiros, amedrontados, que recusavam
viajar durante a guerra.
Cf. Plutarco, in vida de Pompeu.
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