domingo, 29 de abril de 2007

AVE, AFRICA

Boneca de gesso e pau-preto

que me tocas e feres o coração

na altivez insana da tua inocência

deixa que eu te toque também

sem no entanto te ferir

nem dilacerar teu fino coração

de espuma coroada de marfim

de suspiro derradeiro no teu ventre

deixa que eu troque a nossa sorte bastarda

de rochedos sem porto

estupidamente encalhados à beira-mar

deixa que eu desvende sem reservas

o capricho oculto dos caminhos

fluindo penitentes entre folhedos já extintos

e no cumulo da irreverência maior dos séculos

pelo destino agiota de muitos milhões

deixa mulher pelo nosso amor

ainda que sem a glória da consumação

deixa que eu seja definitivamente

(e, se tanto, perdoa pelo meu egoísmo)

mas deixa peço-te

que seja eu ao menos o eu

apenas o eu próprio de cada um de nós.

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