Boneca de gesso e pau-preto
que me tocas e feres o coração
na altivez insana da tua inocência
deixa que eu te toque também
sem no entanto te ferir
nem dilacerar teu fino coração
de espuma coroada de marfim
de suspiro derradeiro no teu ventre
deixa que eu troque a nossa sorte bastarda
de rochedos sem porto
estupidamente encalhados à beira-mar
deixa que eu desvende sem reservas
o capricho oculto dos caminhos
fluindo penitentes entre folhedos já extintos
e no cumulo da irreverência maior dos séculos
pelo destino agiota de muitos milhões
deixa mulher pelo nosso amor
ainda que sem a glória da consumação
deixa que eu seja definitivamente
(e, se tanto, perdoa pelo meu egoísmo)
mas deixa peço-te
que seja eu ao menos o eu
apenas o eu próprio de cada um de nós.
___________________________
Nenhum comentário:
Postar um comentário